Sítio do Piropo

B. Piropo

< Trilha Zero >
Volte de onde veio
21/02/2005

< O mercado são vocês >


Há poucos dias recebi uma mensagem do Sr. alvaro (é assim que ele assina). Aqui vai ela na íntegra:

“Só uma curiosidade: os sr. é funcionário da microsoft. Caso seja, tudo bem e s não for é estranho tantos artigos pro-microsoft. alvaro”

Achei o assunto interessante e resolvi abordá-lo aqui.

Não, eu não sou funcionário da Microsoft. Os artigos, dicas e colunas reunidos em meu sítio (<www.bpiropo.com.br>) que escrevo regularmente aqui no caderninho, no sítio da ForumPCs (<www.forumpcs.com.br>) e eventualmente em outros veículos de comunicação, são escritos na qualidade de colaborador autônomo, já que nem mesmo desses veículos sou funcionário.

Escrevo sobre tecnologia em geral, o que inclui escrever sobre produtos da Microsoft, mas não apenas sobre eles. E quem escreve sobre produtos deve, em princípio, discutir suas qualidades e defeitos. Quando os defeitos superam as qualidades (sugiro a leitura das colunas sobre a execrável prática da “ativação compulsória” adotada pela MS, publicadas de 13 a 27/08/2001 e ainda disponíveis na seção “Escritos – Coluna do Piropo/TrilhaZero” de meu sítio) o artigo pode ser considerado “contra”. Quando as qualidades superam os defeitos, o artigo há de ser considerado “pró”.

Como comecei a escrever sobre informática em março de 1991, por dever de ofício tenho convivido com produtos da Microsoft desde então. Durante anos, notadamente de 1994 a 1997, cansei de desancar a Microsoft pela instabilidade de seus sistemas operacionais, então Windows 3.x e Windows 95, quando havia no mercado um inquestionavelmente melhor, o OS/2 da IBM (que a própria IBM tratou de liquidar; eu o achava tão bom que escrevi um livro sobre ele embora, não custa esclarecer, nunca tenha sido funcionário da IBM). Naquela época a maioria de meus artigos sobre os produtos da Microsoft poderiam ser considerados “contra” porque eram realmente bastante ruins (refiro-me aos produtos, mas quem preferir aplicar a referência aos artigos sinta-se à vontade).

Mas uma coisa há que se admitir: a Microsoft aprendeu com seus erros. E seus produtos evoluíram (já meus artigos...).

Se existir, eu não conheço editor de textos melhor e mais rico de funções úteis que o Word, planilha eletrônica mais eficiente que o Excel (sua função “solver” é um primor) e programa para criar apresentações melhor que o Power Point (e se alguém conhecer e fizer a fineza de me enviar um exemplar, me prontifico a testar e escrever sobre). E quanto ao Windows, o 98 era melhorzinho que o 95, a versão 98SE apenas razoável, a 2000 bastante boa e, finalmente, parece que o XP é um produto decente, tão estável quanto se pode esperar de um sistema operacional feito para rodar em micros com configurações tão diversas quanto a imaginação dos montadores pode conceber. As maiores – e justas – queixas são sobre segurança, mas há que se convir que não é culpa da Microsoft que exista um exército de especialistas dedicado à busca diuturna de vulnerabilidades em seus produtos.

Portanto, baseado no uso dos produtos da Microsoft há quase vinte anos, sou obrigado a admitir que eles melhoraram um bocado e hoje, embora longe da perfeição, apresentam mais qualidades que defeitos.

Isso talvez explique o “pró” lá de cima.

Já no que toca ao “tantos”, é preciso entender que quem escreve em jornais de grande circulação não escolhe livremente o assunto. Não faria sentido escrever regularmente sobre produtos usados apenas por um nicho de mercado (tenho um ou dois em mente, mas abstenho-me de citá-los para não despertar a medonha ira de seus usuários que, mesmo poucos, são ferocíssimos). Quem se dedicar a isso cultivará um publico fiel, porém escasso. E jornais não sustentam esse luxo. Há que escrever sobre o que usa a maioria dos leitores. E, por menos que isso lhe agrade, caro alvaro, eles usam produtos da Microsoft.

Em suma: quem escolhe o assunto não é o autor, mas o mercado. E o mercado não sou eu. O mercado são vocês. Inclusive o Sr. alvaro...

Note que isso não significa que eu não deplore o monopólio de fato exercido pela Microsoft. Na verdade espero com fé que apareça um concorrente de peso, com produtos da mesma qualidade, beneficiando a todos, dos usuários, que disporão de produtos mais baratos, à própria Microsoft, que melhorará ainda mais seus produtos (nada como uma sadia concorrência para baixar preços e elevar a qualidade de qualquer mercadoria).

Mas é bom notar que a Microsoft não criou o monopólio, apenas se aproveita dele. Se ele existe é porque é aceito pelo mercado. E o mercado, como sabemos não sou eu...

 

B. Piropo