Sítio do Piropo

B. Piropo

< Trilha Zero >
Volte de onde veio
13/08/2001

< Ativação Compulsória >


Semana passada o artigo do André Gurgel “Empresa quebra o código de ativação do Windows XP” abordou a “ativação compulsória” adotada pela MS. E, a julgar pelos comentários de alguns amigos, tem gente que não faz a menor idéia do que vem a ser isso.

Isso é conseqüência do fato da Microsoft ter mudado sua política de licenciamento de software. E não apenas do Windows XP mas, ao que tudo indica, de todos os seus lançamentos futuros (as novas versões do Office e do Visio já a incorporaram). Ora, em se tratando da MS, cujos produtos rodam em quase dez entre dez de nossos micros, uma mudança como essa terá enorme influência na vida dos usuários. Por isso decidi explicar essa nova política de licenciamento e, sobretudo, discutir como ela nos afetará.

No princípio os programas eram gratuitos. Quem primeiro descobriu que poderia ganhar dinheiro com eles foi um adolescente chamado Bill Gates. Não pretendo repetir uma história já bastante conhecida, mas tudo indica que ele tinha razão. Porém, ao contrário da maioria dos produtos comerciais, programas podiam ser facilmente reproduzidos e uma cópia idêntica e inteiramente funcional podia ser gerada sem necessidade de nenhum equipamento especial, apenas com os recursos disponíveis no próprio computador. Começou então a luta entre as desenvolvedoras, engendrando meios para inibir ou dificultar essa prática, e os usuários, inventando maneiras engenhosas de burlá-los.

No início simplesmente protegia-se os discos contra cópias, uma prática que além de ser pouco eficaz acabava por punir justamente o cliente inocente que sustentava a empresa comprando o programa e que enfrentava dificuldades para reinstalá-lo ou criar cópias de segurança para uso pessoal. Recursos de harware instalados nos micros, como “dongles” ou “hardlocks”, são caros, incômodos e inviáveis para uso em grande escala. Depois de muitas idas e vindas a indústria e os usuários acabaram por chegar a um consenso: o uso de números de série (“product keys”) nos programas e, sobretudo no caso de produtos que necessitavam atualizações freqüentes como os anti-vírus, a obrigatoriedade do registro, em geral através da internet. Não é a solução ideal nem para a indústria nem para os usuários, mas tem sido universalmente aceita sem grandes reclamações.

Agora, vem a MS e exige que, além disso, façamos a “ativação” do produto. Que consiste em fornecer à empresa, seja via internet seja por telefone, um número gerado durante a instalação e receber de volta um código que “ativa” o produto. Se não for “ativado”, o programa funciona perfeitamente durante um determinado período (30 dias, no caso de Windows XP) ou por um certo número de utilizações (50 no caso do Office XP, dez no do Visio 2002), após o que entra no “modo de funcionalidade reduzida”, onde as funções mais importantes (como gravação e edição de arquivos) são inibidas.

Em princípio isso não parece muito diferente de registrar o programa. Mas há uma distinção essencial: o número gerado durante a instalação é um código que identifica não apenas o produto mas também a configuração da máquina onde foi instalado. Isso é feito para impedir que o mesmo programa seja usado em máquinas diferentes, inibindo aquilo que a MS chama de “cópia casual” (o “empréstimo” do programa a amigos). Além disso, para impedir que, após instalar e ativar o programa, o usuário faça imagens do disco rígido e as distribua por máquinas diferentes, os dados são verificados cada vez que o programa é carregado. Se a configuração mudar, o programa é “desativado”.

Semana que vem discutiremos alguns desdobramentos disso no que toca à nossa privacidade (que dados são fornecidos à MS durante a ativação) e como eventuais alterações na configuração do hardware (acrescentar módulos de memória ou trocar o disco rígido, por exemplo) dispararão os dispositivos de proteção. Até lá.

PS: Na coluna da semana passada eu disse que em micros que usam fontes estabilizadas os “estabilizadores de voltagem” são inúteis. Meu amigo Rafael Guerra Pato, micreiro emérito e autoridade em hardware, adverte que isso de fato é verdade, mas desde que a fonte seja confiável. Isso porque apareceram recentemente no mercado uns gabinetes “baratinhos”, a maioria de procedência chinesa, com fontes de péssima qualidade,  incapazes de efetivamente manter a tensão estável. Portanto o que foi dito aqui semana passada continua valendo, mas é bom verificar a qualidade da fonte. E, se não for adequada, em vez de comprar um estabilizador, sugiro trocar a fonte por uma que preste.

B. Piropo