Na
coluna de 21 de abril comentei que
aplicativos de troca de arquivos de música costumam ser acompanhados
de programas que violam a privacidade de seus usuários. Pensava
em abordar o tema futuramente, mas as solicitações
de leitores aflitos me levaram a fazê-lo agora.
São programas do tipo spyware (programa
espião). Como o Gator, que envia a lista dos sítios
que você visita para empresas interessadas nesta classe de
dados (que os usam, por exemplo, para abrir janelas com publicidade
em sua tela quando você visita sítios de concorrentes).
Parece ilegal. E é, a menos que você permita. Se isso
o tranqüilizou, comece a se preocupar: provavelmente você
já permitiu e não sabe. Por exemplo: quem instalou
o Grokster ou o Morpheus para intercâmbio de arquivos de música,
certamente concordou com os termos de suas EULAs (licenças
de uso, ou End User Licence Agreement). Sem ler, naturalmente.
Pois caso as tivesse lido, saberia que ao aceitá-las consentiu
que, além de outros, o Gator fosse instalado na máquina.
Há outros meios de instalação, como usar certas
facilidades de programas navegadores e de correio eletrônico
para instalar spywares após a simples abertura de mensagens
ou visitas a sítios mal intencionados. Mas aproveitar-se
da ingenuidade de quem concorda com aquilo que não lê
é o método mais comum, já que assim os pilantras
sempre podem alegar que a vítima concordou. O Grokster, por
exemplo, se dá ao desplante de, com ele, instalar treze outros
programas, incluindo Gator, VX2 e WebHancer, notórios spyware.
E o Kazaa instala sete, incluindo o spyware SaveNow. Os demais em
geral são do tipo adware, programas que exibem
publicidade através da inopinada abertura de janelas na área
de trabalho. E, se você acha que esses são suportáveis
pois não violam sua privacidade, é bom lembrar que
a maior parte deles rodam o tempo todo em segundo plano (consumindo
capacidade de processamento do micro e fazendo-o ficar mais lento)
e freqüentemente provocam travamentos devido a incompatibilidades
com os demais programas instalados.
Mas talvez o aspecto mais terrível dessas pragas é
o fato de que, mesmo após a remoção do programa
que as instalou, elas permanecem na máquina exercendo sua
ação deletéria. E se você conseguir removê-las
manualmente, duas coisas podem acontecer: ou o programa que as instalou
pára de funcionar (se seus acompanhantes forem
removidos, Grokster e Kazaa alegam falta de componentes essenciais
e exigem reinstalação, o que reinstala igualmente
os programas indesejáveis) ou, o que é ainda pior,
simplesmente se reinstalam sem aviso na próxima inicialização.
A maneira mais segura de se livrar deles é usar um programa
especializado nessa tarefa. Que funcionam de forma similar aos antivírus:
mantêm um banco de dados com definições de arquivos
e alterações no Registro que denunciam a presença
dos programas indesejáveis e, quando os localizam na máquina,
providenciam a remoção. Há diversos. Os mais
conhecidos são o Ad-Aware (a preços de US$ 26,95 ou
US$ 39,95, conforme a versão, no sítio da Lavasoft,
em <www.lavasoft.com>)
e o SpyWare Eliminator (com uma versão que apenas denuncia
a presença de programas indesejáveis, gratuita, e
outra que os remove, por US$ 39,99, ambas obteníveis no sítio
da Alluria, em <www.alluriasoftware.com>).
Mas meu preferido é o SpyBot Search & Destroy, que pode
ser obtido em <http://spybot.safer-networking.de/>.
Que, além de ser grátis (solicita apenas uma doação
voluntária), foi considerado o mais eficiente em avaliação
efetuada pela PC Magazine americana na edição de 22/04/2003.
Baixe-o, instale-o e execute-o. Você vai se surpreender com
a quantidade de porcarias que encontrará em sua máquina.
Como sei? Fácil: eu, que não rodo nenhum daqueles
programas perigosos, não visito sítios
pouco confiáveis, uso um excelente filtro anti-spam e sou
dado ao vício de ler EULAs, decidi rodá-lo em minha
máquina de trabalho exclusivamente para testá-lo e
escrever esta coluna. Para minha surpresa, ele encontrou 43 infestações...
PS: Para quem soube, através desta coluna, de meu
regozijo diante da recuperação de D. Eulina após
uma grave crise cardíaca: infelizmente a alegria durou pouco.
No último dia 27 de abril ela nos deixou. Discretamente e
em paz, após noventa e dois anos de uma vida plena, adormeceu
para não mais acordar, como desejara, encerrando uma jornada
prenhe de realizações. Teve dois filhos e dois netos
dos quais se orgulhava (no que me diz respeito, mais por amor dela
que por méritos meus) e jamais vacilou diante dos obstáculos
impostos pela vida. Foi uma vencedora.
Vai, mãe. Leve consigo meu respeito, meu amor e minha saudade.
B.
Piropo