Na
coluna anterior (ainda
disponível na seção Escritos Coluna
do Piropo/Trilha Zero de meu sítio, em <www.bpiropo.com.br>)
apresentei um texto sobre a enxurrada de correntes que trafegam
na Internet. Recebi diversas mensagens sobre o assunto. Algumas
com elogios que agradeço, embora imerecidos (o conteúdo
não é de minha lavra, apenas a forma). Duas merecem
citação.
A primeira é do Marcello Nicola, a quem o texto agradou,
exceto por um detalhe. Diz ele: Gostaria de contestar o parágrafo
onde a história dos ursos torturados na China é colocada
no mesmo nível do famoso boato dos gatos bonsai (...). A
extração cruel de bile de ursos na China é
fato bem documentado (...). É um problema de difícil
combate, pois encontra raízes na assim chamada sabedoria
oriental, o mesmo caldo de superstições que justifica
o massacre de tubarões para extração da barbatana.
Tem razão o bom Nicola. Torno, então, público
meu veemente protesto contra a crueldade praticada contra os ursos
ou qualquer outro ser vivente, incluindo a ominosa técnica
de superalimentar gansos usando uma máquina infernal que
lhes enfia comida goela abaixo visando hipertrofiar seus fígados
para incrementar a produção da horrorosa pasta de
fígado de ganso (que, dita assim, parece mesmo a coisa nojenta
que é, enquanto pâté de foies gras
soa como algo sofisticado). Mas prefiro que os ardorosos defensores
dos ursos e assemelhados se abstenham de bombardear minha caixa
postal com suas correntes. Uma mensagem educada e elucidativa como
a de mestre Nicola será sempre bem recebida. Mas correntes,
seja qual for o nobre princípio defendido, entopem a rede
e atraem mais antipatia que simpatia para a causa.
A segunda foi enviada pelo Marcelo Sávio, um bom amigo que
há muito não vejo. Trouxe indicação
do sítio Quatrocantos, mantido pelo brioso pernambucano
Gevilácio Moura (que não conheço, mas depois
de visitar seu sítio, bem que gostaria). Fica em <www.quatrocantos.com>
e é um excelente exemplo de uso da Internet: simples na forma,
rico em conteúdo.
O Quatrocantos traz informações sobre assuntos diversos,
incluindo uma seção ensinando o caminho das pedras
para consultar os sistemas de busca da Internet, outra dando dicas
sobre como se livrar de spam e uma terceira ensinando referenciar
textos eletrônicos em trabalhos técnicos. Tem até
uma seção de humor com piadas catalogadas por assunto.
Mas a que nos interessa é a Lendas e folclore da Internet:
as pulhas virtuais (hoaxes) (o termo pulha, no
feminino, muito bem empregado pelo autor, significa gracejo
caviloso, capcioso, dito com o intuito de colocar a outra pessoa
em situação ridícula; peça, logro, partida
e é uma tradução quase perfeita para hoax).
Nela, mestre Gevilácio cataloga e comenta os boatos, lendas
e meias-verdades que circulam pela Internet, como o caso dos gatos
bonsai e dos falsos vírus jdbgmgr e sulfnbk. Além
disso, lista os fatos verdadeiros que originaram correntes, como
a proibição da fenilpropanolamina e seus derivados,
o golpe dos nigerianos e outros (mas não os pobres ursos
que tanto preocupam nosso amigo Nicola). E, finalmente, traz uma
longa lista de meias-verdades, separando o joio do trigo, ou seja,
o que de fato é verdade e o que é exagero. Cada boato,
fato ou meia-verdade mencionado gera um atalho onde o assunto é
destrinchado. A seção identificação
de pulhas discute meios de descobrir se a mensagem é
séria ou se é mais um boato sem fundamento. E arrola,
em ordem alfabética, as principais lendas que infestam a
Internet. Diz mestre Sávio: sempre que recebo um email
desses, sugiro ao remetente (geralmente uma pessoa bem intencionada)
que antes de enviar qualquer coisa que possa parecer uma lenda,
corrente ou algo parecido, dê uma passada nos Quatrocantos
e veja se já não está lá. É algo
rápido, gratuito e que não dói e pode salvar
muito tempo e bytes seus e dos outros. Faço minhas
as palavras do Sávio.
E já que citei o Quatrocantos como um exemplo de uso da Internet
em que a simplicidade da forma não ofusca a riqueza do conteúdo,
sugiro uma visita ao sítio do Roudoudou Magic Combo
em <www.roudoudou.fr>.
É francês, mas o idioma não faz a menor diferença.
Trata-se de um exemplo inverso: uso excelente da Internet no qual
a forma supera de longe o conteúdo. Já no sítio,
se descobrir como, vá até a Bahianese mayonnaise
(se não descobrir, entre com o URL <http://62.210.133.45/bahianese.htm>
na caixa de endereços de seu navegador) e veja que exemplo
soberbo de conjugação de animação e
áudio. Procure pelos atalhos movendo o mouse ao acaso pela
página e clique nos que descobrir. Divirta-se.
B.
Piropo