O texto
abaixo fala sobre a hipotética influência da rede na
vida de uma pessoa que leva a sério tudo que recebe por correio
eletrônico. É de autor desconhecido. Recebi-o do José
Mário Miccolis, fiz algumas alterações e aqui
vai ele para seu deleite ou desgosto.
A Internet mudou minha vida. Eu era uma pessoa extrovertida.
Freqüentava bares e boates. Hoje, os evito com receio de me
envolver com alguma quadrilha internacional de ladrões de
órgãos e acordar em uma banheira qualquer sem um rim
ou uma córnea. Evito também cinemas e teatros com
receio de sentar-me em uma poltrona na qual alguém tenha
deixado uma seringa contendo sangue HIV positivo.
Raramente atendo o telefone com medo que me peçam para acionar
uma combinação de teclas que clonará minha
linha, levando-me a pagar uma conta telefônica astronômica.
Desfiz-me de meu celular ao ser informado que ganharia um modelo
mais recente sem nenhum custo. Quando percebi que não o receberia,
pensei em comprar outro, mas desisti ao saber do risco de câncer
no cérebro devido à irradiação emitida
pela antena. Hoje, quase não me comunico com ninguém,
exceto via internet.
Meus hábitos alimentares mudaram. Evito hamburgers desde
que soube que são feitos com carne de monstros disformes,
gerados em laboratório e criados industrialmente. E parei
de tomar bebidas em lata assim que descobri os riscos de contrair
leptospirose transmitida pela tampa contaminada com urina de rato.
Além disso, abandonei diversos alimentos que contêm
estrógenos cujos efeitos sobre minha masculinidade poderiam
ser desastrosos.
É verdade que no que toca à masculinidade os danos
já não serão tão sentidos quanto há
alguns anos: a freqüência com que a exerço caiu
muito quando tomei conhecimento da possibilidade de comprar um preservativo
cuja embalagem foi violada e no qual foram inoculados germens transmissores
de doenças venéreas. Mesmo porque tem sido cada vez
mais difícil conseguir novas parceiras: depois que parei
de ir a bares e boates, sobraram os shoppings, mas passei evitá-los
ao descobrir os riscos de ser seqüestrado e obrigado a fazer
compras até o limite de meus cartões de crédito
e, sobretudo, ao pavor de encontrar um cadáver no porta malas
de meu carro voltando ao estacionamento. Mesmo porque não
tenho muito o que fazer em shoppings, já que poucos recursos
me sobraram para compras depois que doei tudo o que tinha para salvar
uma pobre criança à beira da morte.
Gastei uma fortuna com programas de segurança na tentativa
de evitar que a rã da Budweiser invadisse meu micro, que
os teletubbies se apoderassem de meu protetor de tela ou que um
dos milhares de nefandos vírus, sobre cuja existência
e ação maléfica eu recebia alertas quase diariamente,
devorassem o conteúdo de meu disco rígido. Não
adiantou: mesmo protegida, a máquina recusou-se a funcionar
depois que eu removi metade dos arquivos de nomes exóticos
contidos na pasta de sistema, todos denunciados como transmissores
de vírus nefastos, embora fossem inocentes arquivos do próprio
sistema.
É fato que quando o micro parou de funcionar eu pouco o usava:
a maior parte de meu tempo era dedicada à luta contra a forma
cruel de extrair bílis dos ursos asiáticos para produzir
medicamentos, à militância contra a criação
de gatos bonsai deformados no interior de frascos transparentes
e à liderança de campanhas contra organizações
que distribuíam um mapa das Américas no qual a Amazônia
havia sido suprimida do território brasileiro.
Mas o que realmente provocou meu afastamento foi a desilusão
de não ver realizados meus três desejos secretos após
encaminhar a uma dúzia de amigos o Tantra Mágico enviado
pelo Dalai Lama diretamente do Nepal. Estou convencido que esse
foi o castigo por haver interrompido algumas correntes estúpidas
que me concitavam a enviar uma cópia a meus amigos sob à
ameaça de que, se não o fizesse, desabariam sobre
mim todos os males do mundo.
Não o fiz.
Viu no que deu?
Esse é o texto. Se você não enviar uma cópia
dele a dez pessoas, nada de mal lhe acontecerá. Mas continuará
recebendo mensagens sem o menor fundamento que infernizarão
sua vida em 2003 e nos anos subseqüentes, seja por falta de
informação e esclarecimento de quem as envia, seja
por pura basbaquice mesmo. É certo que também virão
algumas que provocarão sorrisos, enviadas por amigos inteligentes
e com senso de humor. Mas, tomando por base a porcentagem de pessoas
assim no conjunto da humanidade, certamente essas serão minoria.
Não obstante, a vida continuará e, mesmo que tente,
você não conseguirá viver sem a Internet.
B.
Piropo