< Trilha Zero >
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05/06/2000
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< Casos de Amor II > |
Há quase exatos oito anos, em 8 de junho de 92, escrevi uma coluna intitulada "Casos de amor". Ela ainda está disponível na seção Escritos de minha página, em <www.bpiropo.com.br> e talvez mereça uma visita – quando não, apenas para constatar como era (ainda mais) empolado meu estilo de então. Mas não espere contos de alcova: os amores de que lá falo eram programas. Lá vocês saberão que minha maior paixão foi pelo o falecido XTree que reputo, ainda hoje, como o melhor programa que jamais conheci. Morreu com o DOS. Houve uma versão gráfica para Windows, mas não "vingou" (existe um sucedâneo, o ZTreeWin, que roda em Windows 9x com a mesma "cara" do XTree, mas faltam-lhe algumas das funções e muito do charme do original). Depois, vinha o QEMM da QuarterDeck, um "gerenciador de memória" – coisa que somente fazia sentido nos tempos do DOS. Raramente vi um utilitário tão útil: espremia até o último byte a pouca memória que a miopia congênita do DOS lhe permitia enxergar. Os sistemas operacionais de 32 bits acabaram com ele. E mencionava também o Fácil, um formidável editor de textos nacional liquidado pelo Word, muito mais poderoso e flexível. Não sei mais dele (a última notícia que tive dava conta que estava se especializando: se não me engano havia uma versão para advogados) mas bem que tinha vontade de saber. Velhas paixões deixam marcas e se receber notícias as divulgarei com prazer. E, finalmente, citava o Turbo C, um portentoso compilador da (então) Borland que eu usava nos tempos em que era dado ao feio vício de programar. Perdi contato com ele (há anos não programo por falta de tempo) mas se sobreviveu, dificilmente gozará de boa saúde: nesses tempos de linguagens visuais, quantos ainda programarão em C? Em suma: desses velhos amores, os que não morreram provavelmente agonizam. É verdade que na dita coluna eu falei também de Windows. Mas se o fiz, foi para reclamar de sua instabilidade (que naquele tempo era natural: afinal Windows 3.0, tinha apenas um ano de vida; grave é continuar instável com quase dez anos). E fechava declarando meu amor, então nascente, pelo OS/2. O OS/2, para quem não sabe, é um sistema operacional de 32 bits formidável, flexível e extraordinariamente estável desenvolvido inicialmente em conjunto por MS e IBM, finalizado pela IBM e por ela comercializado. Não "vingou" e hoje, juntamente com o Betamax, é um excelente exemplo de tecnologia superior que foi derrotada por outra claramente inferior (respectivamente VHS e Windows 95, para ser claro). Seu fracasso pode ser debitado não apenas à notória falta de vocação da IBM para vender a clientes não corporativos, como também à violenta pressão imposta pela MS sobre o mercado (repetindo o que disse aqui mesmo: nas feiras de informática de 94, enquanto se buscava em vão por programas para um OS/2 já velho de dois anos, tropeçava-se em versões para o ainda não lançado Windows 95). Apaixonei-me pelo OS/2 assim que o testei. Era estável, poderoso e rodava não apenas seus programas como também programas DOS (algo imprescindível naquela época) e Windows 3. Gostei tanto que cheguei a escrever um livro sobre ele, coisa que até então só havia feito pelo maior de meus amores, o XTree. Mas sua incapacidade de rodar programas Windows 95, que passaram a dominar o mercado, me obrigou a abandoná-lo relutantemente no início de 1996. Agora, leio no IDG Now que, pouco tempo depois de prometer atualizá-lo, a IBM anuncia seu fim (veja em <http://idgnow.uol.com.br/idgnow/pcnews/2000/05/0046> e leia a justificativa da IBM em <http://www-4.ibm.com/software/os/warp/strategy/> sob o título um tanto calhorda "The IBM OS/2 Strategy for 2000", como se o anúncio que será descontinuado pudesse ser chamado de "estratégia" para um produto). O suporte para a versão cliente será oferecido apenas até janeiro do ano que vem e para a versão servidor até maio de 2002. Ao ler o artigo me dei conta, consternado, que o último de meus casos de amor acaba de falecer. Uma constatação que me fez sentir assim, escondido nesse canto de página, como um daqueles Don Juans aposentados cuja ocupação é contar aos jovens suas façanhas de antanho. Sei não, mas tudo indica que preciso urgentemente arranjar um novo amor (declaração válida apenas no campo dos programas; no outro nada tenho a reclamar). Ao que parece, chegou a hora de instalar aquela cópia do Linux que está na prateleira aguardando um tempo livre... PS: semana passada, infelizmente, divulguei o número errado do telefone do Portilho, o mago dos monitores. O número correto é (21) 467-7963. Minhas sentidas desculpas não apenas ao Portilho como também, e principalmente, ao assinante do número errado
B. Piropo |