< PC@World >
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08/1997
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Processando Dados |
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Um microcomputador, indiscutivelmente, é uma máquina complexa cujo funcionamento, aparentemente, é diabolicamente confuso. Mas, mesmo as mais complexas das coisas tornam-se mais simples de entender uma vez decompostas em suas partes elementares. E a melhor maneira de fazê-lo é partir do essencial e encaminhar-se para o acessório, subindo aos poucos o nível de detalhe . Então comecemos pelo começo: para que serve um micro? Bem, esta pergunta posta assim de chofre pode merecer as mais variadas respostas, inclusive a clássica "para deixar o usuário maluco". Porém, reduzida à expressão mais simples, sobra apenas uma: um computador serve para processar informações, ou "dados". Mas o que quer dizer "processar"? Bem, segundo o Aurélio (na versão impressa; na eletrônica não há menção a este conceito - o que é no mínimo estranho, já que são justamente as informações da versão eletrônica que são processadas conforme esta acepção) um dos significados do verbete "processar" é "5. Submeter a processamento". Já "processamento", por sua vez, significa "1. Ato ou efeito de processar; 2. Processamento de dados". O que nos leva a andar em círculos. Então, com o devido respeito ao velho Aurélio que tanto me tem sido útil mas desta vez ajudou tão pouco, ousarei definir aqui um significado mais esclarecedor para o termo. Combinemos, portanto, que "processar" significa "modificar a natureza de algo através de um processo". Quem quiser ser mais detalhista, pode ainda considerar que este processo "altera as características daquilo que está sendo processado conforme critérios previamente definidos que visam alcançar objetivos determinados". Uma definição boa por ser ampla: de acordo com ela, por exemplo, fritar um pedaço de filé seria processar a carne (através de um processo denominado "fritura"), alterando suas características de modo a transformá-la em um bife saboroso. Já no que toca a nossos computadores, vamos analisar melhor o assunto para esclarecer exatamente o que significa o termo "processar" em seu contexto. Você está sentado em frente a seu micro enquanto ouve um CD de áudio "tocado" por seu drive de CD-ROM. Enfeitando a tela há uma imagem que você escolheu para fundo de seu desktop. Você fechou uma conexão com seu provedor internet e ordenou a transferência de um arquivo de uma máquina da Finlândia para seu disco rígido e, enquanto espera, digita uma carta em seu editor de textos. Uma corriqueira amostra de atividades que são executas sem que jamais você se detenha para analisar a imensa quantidade de informações que elas obrigam sua máquina a "processar". Mas veja: A música que soa nos alto-falantes do micro provém do CD que toca no drive. No CD ela está armazenada sob a forma de pequenas deformações na superfície espelhada do disco. Estas deformações são os "dados de entrada", as informações digitalizadas que serão submetidas a processamento. No caso do CD, este processamento consiste em ler os dados através de um feixe de raio laser que "pisca" ao ser refletido na superfície do disco, interpretar estas "piscadelas" como bits "um" ou "zero", juntá-los formando bytes, usar um programa para decodificar estes bytes nas notas musicais que eles representam, transformar estas notas em impulsos elétricos que atuam sobre a bobina do alto-falante de modo a fazer vibrar uma superfície que transmite estas vibrações ao ar, fazendo assim brotar a música. As informações contidas no CD foram então processadas e transformadas em música. Quando a máquina está desligada, a imagem que enfeita seu desktop está armazenada em seu disco rígido, digitalizada sob a forma de um arquivo. Ao ser ligada, a máquina lê este arquivo do disco, interpreta seus bytes e os decodifica sob a forma de pontos luminosos, cada um com seu brilho e cor, exibindo-os na tela para formar a imagem. As informações contidas no arquivo em disco foram processadas e transformadas na imagem exibida na tela. A transferência de arquivo que você faz via internet é ainda mais interessante. Um micro na Finlândia lê o arquivo contido em seu disco rígido e o processa de forma semelhante ao que foi feito com o arquivo da música do CD de áudio. A diferença é que o som oriundo deste processamento não é gerado pela placa de som, mas pelo modem. Nem é mavioso como o da música do CD, mas sim um irritante apito, um silvo monocórdio cuja altura varia entre o incômodo grave e o agudo insuportável. E não é enviado ao alto-falante, mas à linha telefônica, que o transporta até o modem de seu micro - que por sua vez o interpreta, transformando o silvado novamente nos mesmos bytes arranjados na mesma ordem, do arquivo original no disco rígido da Finlândia, que é então gravado no de sua máquina. Aqui os dados do arquivo original foram processados até se transformar em som que, enviado pela linha telefônica, foi reprocessado para se transformar novamente em uma cópia das informações originais, O processamento, neste caso, não alterou a forma dos dados, mas sim o local de armazenamento, criando uma cópia exata em seu micro. Finalmente, no caso do editor de textos, as informações que virão a se constituir na carta que você digita são geradas em sua cabeça (ou em seu coração, dependendo do teor da carta) e introduzidas no micro via teclado. Cada tecla é interpretada, seu conteúdo transformado em um caractere ou um comando, de acordo com as instruções que formam o programa. As frases de sua carta são exibidas na tela e podem ser alteradas, manipuladas, processadas por você até se transformar em um texto impecável que pode, então, ser codificado em bytes e gravado no disco ou ser enviado para a impressora. As informações introduzidas via teclado são processadas e transformadas em um arquivo em disco ou uma carta impressa. Como você vê, os resultados do processamento são tão diversos como a forma dos dados brutos. No micro entram bytes lidos de meios magnéticos ou óticos, sons transportados pela linha telefônica e recebidos pelo modem, dados digitados via teclado. E saem coisas tão diferentes como sons pelo alto-falante, imagens exibidas na tela, sons encaminhados à linha telefônica pelo modem, material impresso pela impressora. Mas, por mais diferentes que tenham sido os meios para introduzir dados e para extrai-los do micro após o processamento, tudo se resumiu em entrar dados, processá-los e devolvê-los a você, transformados. E isto é tudo o que faz um micro. Mas, ainda assim, conhecer os meios usados para introduzir, transformar e devolver os dados jamais deixa de ser uma fascinante aventura no terreno do conhecimento.
B. Piropo |