Sítio do Piropo

B. Piropo

< O Globo >
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27/10/2003

< Spyware ou adware? >


Semanalmente faço uma varredura completa em minha máquina com o SpyBot após atualizar suas definições (mais informações na Coluna “Spyware” de cinco de maio deste ano, disponível na seção “Escritos / Coluna do Piropo – Trilha Zero” de meu sítio, em <www.bpiropo.com.br>). O SpyBot é um programa gratuito que detecta aplicativos tipo “adware” e “spyware” e, se o usuário assim o desejar, os remove da máquina. “Adwares” e “spywares” são programas que se aboletam em nossas máquinas à nossa revelia durante visitas a alguns sítios ou instalação de certos programas. Os primeiros exibem anúncios em janelas que se abrem sem aviso na tela. Os últimos “espionam” nossa navegação e enviam informações sobre onde andamos para sabe-se lá quem, em tese visando conhecer nosso perfil para fins mercadológicos. Mesmo rodando o SpyBot regularmente, em geral encontro um punhado de “adwares” e “spywares” que se instalaram na última semana e os mando remover sem piedade. Entre eles, quase sempre, quatro ou cinco instâncias do Gator.
Gator é uma empresa que distribui aplicativos gratuitamente em troca de publicidade. Juntamente com o aplicativo, Gator instala um programa para exibir janelas com anúncios. Portanto, tipicamente, trata-se de um “adware”.
Em princípio, a prática seria justa. Afinal, você instalou um programa que acha útil e, como nada pagou por ele, é razoável que seja alvo de publicidade dos interessados. O problema é que há quem alegue que, para escolher a publicidade mais eficazmente, Gator “espia” seus passos na rede. Por exemplo: quando você visita um sítio que oferece certos produtos, o programeto do Gator detecta onde você se encontra, registra em seu banco de dados e exibe em uma janela a publicidade de um concorrente do sítio visitado. Assim, além de “adware”, Gator agiria também como “spyware”.
Pelo menos é isso que pensam os responsáveis pelo PC Pitstop (<www.pcpitstop.com/>), um sítio interessantíssimo – sobre o qual voltarei a falar futuramente – que faz gratuitamente diversos testes de segurança em sua máquina. Dentre eles, a presença de spywares. Entre os quais incluiu o Gator.
Pois bem: insistindo que seu programa não é um “spyware” mas um simples “adware”, Gator processou os responsáveis pelo PC Pitstop alegando “práticas comerciais injustas, difamação e interferência indevida” (veja detalhes em artigo de Paul Festa na ZDNet, em
<http://zdnet.com.com/2100-1104_2-5095051.html>).
Para evitar a longa demanda judicial e as despesas que ela acarretaria, o PC Pitstop fechou um acordo com a Gator e se dispôs a remover do sítio algumas páginas que acusavam a Gator da prática de espionagem.
O assunto é complicado e envolve diversos aspectos éticos e legais. Mas o fato é que o “spyware” é injustificável por agredir a privacidade do usuário e o “adware”, justo ou não, incomoda um bocado.
Eu não sei não, mas acho que o resultado desse acordo foi claramente desfavorável para nós, usuários. Espero que a moda não pegue e que os demais programas que removem essas pragas de nossas máquinas não se vejam forçados a fazer acordos semelhantes. Porque além de incomodar e violar nossa privacidade, esses programas sobrecarregam nossas máquinas e as deixam mais lentas. Uma razão mais que suficiente para bani-los.

B. Piropo