Os
leitores da revista Rolling Stone de sete de agosto
(mas já nas bancas) foram surpreendidos por um anúncio inusitado [clique AQUI para vê-lo]. Sob a pergunta Cansado de ser tratado como
um criminoso por compartilhar música online? aparece
a foto de cinco cidadãos com pinta de empregados de escritório
ou estudantes em situação de quem está sendo
fichado pela polícia. No texto, a EEF (Electronic Frontier
Foundation), que patrocina o anúncio, afirma que se é
assim, você está em boa companhia, pois mais de sessenta
milhões de pessoas usam serviços como Morpheus e
Kazaa para compartilhar suas canções favoritas.
E não obstante isso as gravadoras estão intimidando
provedores e perseguindo jovens estudantes com o objetivo de abolir
esta prática. Admite o problema da pirataria porém
sugere que a solução não é essa, mas
um novo modelo que ofereça justa compensação
aos artistas que apóiam os amantes da música. No
final, convoca os leitores para se juntarem à organização
e oferece o mote: Compartilhamento de arquivos: música
para nossos ouvidos.
O anúncio é apenas o início da campanha Let
the music play (em tradução livre, deixa
rolar a música) deflagrada pela EEF como reação
à nova estratégia da RIAA (<www.riaa.com>),
a entidade que congrega as gravadoras americanas, que decidiu
voltar toda sua poderosa artilharia legal contra indefesos estudantes,
levando à barra do tribunal os que usam as redes de suas
universidades para compartilhar arquivos musicais (veja artigo
Roubando bala
da boca de criança, publicado em 9 de junho passado
e ainda disponível na seção Escritos / Artigos
no Globo de <www.bpiropo.com.br>).
Para justificar a campanha, na página <www.eff.com/share/>
de seu sítio, a EEF afirma que o compartilhamento de arquivos
permitiu aos fãs de música formarem a maior coleção
de músicas gravadas de todos os tempos. E que, em vez de
comemorarem essa façanha, as grandes gravadoras passaram
os últimos três anos atacando a tecnologia que permitiu
alcançar esse feito e perseguindo as pessoas que a usam.
Segundo a EEF, nem a tecnologia nem seus usuários são
do mal. O problema é a ausência de um
sistema que permita aos usuários o acesso às suas
músicas prediletas enquanto recompensa adequadamente os
autores e detentores de direitos.
A própria EEF, em <www.eff.com/share/compensation.php>,
oferece algumas sugestões: (licença voluntária
coletiva, um sistema semelhante ao usado nas emissoras de
rádio, licença individual compulsória,
cuja taxa seria paga a empresas a que os usuários se associariam
e repassada aos detentores dos direitos, Assinaturas P2P,
onde os usuários pagariam diretamente aos Morpheys e Kazaas
da vida, que dividiriam o montante entre quem de direito, micropagamentos,
pequenos débitos efetuados na conta do usuário para
cada música transferida, entre outras). Além disso,
em <www.eff.com/share/legal.php>,
sugere meios de legalizar, através de licenciamento, os
sistemas que permitem a troca de arquivos entre usuários
(P2P).
A EEF alega, com muita propriedade, que há algo errado
em uma lei que trata como criminosos estudantes honestos que nada
querem além de ouvir suas músicas prediletas e,
sob o peso da justiça, obriga provedores Internet a dedurar
seus clientes. Com profunda ironia, lembra que os sessenta milhões
de americanos que usam os serviços de compartilhamento
de arquivos musicais formam um contingente maior que o dos que
votaram no atual presidente (americano, naturalmente),
exortando-os a aderir à campanha. O artigo termina fornecendo
alguns atalhos (links) úteis: sugestões
de meios (legais) para evitar ser processado por compartilhar
arquivos, como se defender caso já tenha sido acusado,
informações adicionais sobre o processo movido contra
o Morpheus e formas de incentivar o legislador em quem se votou
para levar o caso a debate no Congresso (lá, isso funciona).
É claro que o assunto não vai esfriar tão
cedo. As gravadoras não largarão facilmente esse
suculento osso e se aferrarão com unhas e dentes à
defesa de um sistema caduco que lhes garante receitas bilionárias.
Mas um exame isento da situação levará à
conclusão que a postura da IEE é a mais sensata:
encontrar meios legais de remunerar a quem de direito sem impedir
que uma nova tecnologia siga seu curso.
Afinal, a frase que na minha opinião melhor representa
a situação não é minha, mas de Tom
Freeburg, o chefe do grupo de cientistas da Motorola que pesquisa
as tecnologias do futuro. Diz ele, com extrema sabedoria: Sempre
que houve uma colisão entre a tecnologia e o sistema legal,
a tecnologia venceu.
Por que desta vez seria diferente?
B.
Piropo