O Globo
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24/03/1997
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Das diversas maneiras de dominar o mercado |
Os comentários de Tom Pabst revelam que a pressão sobre a imprensa é a faceta menos daninha da luta pelo mercado. Ainda pior é a pressão exercida por uma grande indústria sobre as empresas que dela dependem e que, por isto mesmo, raramente denunciam o fato. Pabst dá o exemplo dos fabricantes de placas-mãe, que para desenvolver seus projetos precisam de amostras dos processadores e componentes do chipset antes de serem lançados. Em um mercado onde quem salta na frente leva uma enorme vantagem, é fácil para quem controla a fabricação dos componentes privilegiar uns enquanto pune outros, fornecendo amostras mais cedo aqui, mais tarde ali. Mas por que uma empresa desejaria punir outra que consome seus produtos? Tom levanta três hipóteses: a segunda empresa estaria desenvolvendo projetos que suportam igualmente componentes de um concorrente da primeira, ou que usam CPUs de concorrentes, ou ainda que, em situações semelhantes, deixaram escapar para a imprensa algumas das amostras que lhe foram fornecidas. Ele enfatiza ainda que todos os fabricantes de placas-mãe que visitou na CeBIT, grande feira de informática realizada em Hanoover semana passada, foram no mínimo reticentes ao discutir a possibilidade de suas placas suportarem o novo chip da AMD que está prestes a ser lançado e que poderá vir a ser um sério concorrente dos processadores da Intel. Tom lembra então o que ocorreu há poucos anos, quando a Intel pediu a colaboração dos fabricantes de chipsets para apoiar o barramento PCI, concebido e promovido por ela. Todos colaboraram e esta foi a principal razão da grande disseminação do PCI. Mas, ao que parece, esta foi uma política suicida para a concorrência: hoje em dia, a Intel não é a única fabricante de chipsets, mas seu domínio do mercado é tamanho que na prática funciona como se fosse. Agora ocorre uma situação semelhante com o sistema de vídeo: a Intel lançou a idéia da AGP (ver Trilha Zero da semana passada) e solicitou o apoio dos fabricantes de circuitos controladores de vídeo. Que não têm muita escolha senão colaborar, dada a imensa liderança da Intel. Que, por sua vez, não esconde seus esforços para desenvolver seu próprio controlador de vídeo. Resultado: diz Tom que: "caso não ocorra nenhum milagre a curto prazo, a Intel será o maior fabricante de chips de vídeo em 1999". Será que ainda resta alguma dúvida sobre quem controlará o mercado a partir de então? Pois bem: tudo isto ajuda a explicar os esforços da Intel para convencer que o Pentium II é o estado da arte (e sua reação à análise de Tom). E a chave está no Slot One, o encaixe patenteado que ela desenvolveu para o Pentium II e que pretende adotar doravante para todas as suas CPUs. Porque desde que se adotou os soquetes modernos, tipo ZIF (Zero Insertion Force), com especificação aberta, nada impede a concorrência de desenvolver uma CPU que se encaixa no soquete e que, sendo intercambiável, possa ser usada no lugar de uma da Intel. Já com o Slot One, patenteado, a conversa é diferente. E é então que dominar o mercado de chipsets ajuda: segundo Pabst, aperfeiçoamentos como AGP e ECC (algoritmo de correção de erros que permite corrigir falhas de memória ao invés de paralisar o sistema como quando se usa controle de paridade) somente serão incorporados aos chipsets que equiparão as placas-mãe que ostentarem o famoso Slot One.
B.Piropo |