< Jornal Estado de Minas >
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02/07/2009
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< O dia da Intel > |
Anualmente a Intel reúne um grupo de jornalistas da imprensa especializada no “Intel Editor´s Day”. Um evento cujo nome não é muito apropriado. Primeiro, porque não dura um dia, mas três. Depois, porque o dia é mais da Intel que dos editores. Não é um evento técnico. Tais assuntos a empresa reserva para o IDF. No Editor’s Day o objetivo é mais mercadológico. O tema deste ano foi “Antecipando o futuro”. Que, diga-se de passagem, é sempre o objetivo do encontro: falar sobre os planos para os meses vindouros. Em geral, enfatizando aquilo que a Intel pretende fazer. A novidade é que este é um ano especial. Ano de crise. O que resultou em uma pequena mudança de foco: em vez de enfatizar o que ela pretende fazer, a empresa mostrou-se mais preocupada com o que o mercado fará. E qual é a tendência do mercado? Como, em tempos de crise, prudência e caldo de galinha não fazem mal a ninguém, melhor adiar gastos. E uma pesquisa da Wipro realizada nos EUA e Europa mostrou que 32% das empresas pretendem adiar a renovação de seus computadores para reduzir investimento. O tipo da coisa que não interessa à Intel. Mas como os demais empresários estão mais preocupados com seus próprios interesses que com os da Intel, ela dedicou boa parte do evento para demonstrar que, neste caso particular, por paradoxal que pareça, os interesses coincidem. Para o que usou outra pesquisa da Wipro ( www.wipro.com ). Segundo a pesquisa, que abrangeu cem empresas dos EUA e Europa, a coisa funciona assim: em tempos “normais”, as grandes empresas renovam um terço de seus computadores por ano. Assim, em três anos todo o conjunto é renovado mantendo a empresa atualizada. O que deixa claro que, se em um determinado ano uma empresa decidir adiar a renovação, fará uma boa economia em investimentos. O que Intel não contesta. Mas, diz ela baseada na pesquisa, o aumento de gastos nos demais “agentes de custo” causados pelo adiamento será maior do que o que se poupou em investimento, portanto, em vez de economia, haverá prejuízo. Estes “agentes de custo” são formados pelas despesas operacionais e pelos custos de atualizar o hardware e software dos PCs antigos, mantê-los (diagnóstico e reparo), isolar e recuperar os infectados por vírus e afins e recuperar falhas em seus discos rígidos. Afirma a Wipro que, a partir do quarto ano, a soma destes custos em micros portáteis (“notebooks”) monta a US$ 1.136 anuais e em micros de mesa (“desktops”) a US$ 688. O que, no mercado internacional, equivale aproximadamente ao custo de um novo PC. Em outras palavras: o ciclo de três anos não ocorre à toa. Ele é fruto da experiência que mostra que este período implica otimização de custos. E a pesquisa veio confirmar isso (sem falar na economia com custos de energia, já que todo PCs de nova geração é desenvolvido com foco na redução do consumo de energia). É claro que as condições brasileiras podem ser outras. Assim como os custos de operação e manutenção. Mas os dados estão ai e vale a pena considerá-los no planejamento da empresa. Outro ponto abordado pela Intel foi seu programa “World Ahead”, que prevê o investimento de US$ 1 bilhão em iniciativas para acelerar o acesso à tecnologia e educação nos países em desenvolvimento (inclusive o Brasil) e que vem sendo tocado com crise ou sem ela. O programa se divide em três ramos principais: acesso à Internet, atendimento de saúde e educação. E é neste último ramo que brilhou a estrela do evento: o Classmate PC conversível. A idéia do Classmate data de 2006, quando foi anunciada sua fabricação no Brasil (detalhes em coluna publicada em 20/11/2006 disponível na seção “Escritos/Coluna em ForumPCs” do Sítio do Piropo, em www.bpiropo.com.br ). Trata-se de um computador de tamanho e capacidade semelhantes aos dos atuais “netbooks”, porém voltado especificamente para a educação, ou seja, para uso em sala de aula por alunos do primeiro grau. O micrinho é cheio de bossa. Por exemplo: o aluno pode (e deve) levá-lo para casa. O que, em princípio, seria um convite aos larápios do tipo que rouba doce de criança. Mas, se isso ocorrer, em um par de dias o micro torna-se imprestável já que, se não for conectado regularmente à rede da escola, o bichinho trava. E como esta função vem implementada no próprio hardware, não há santo que o faça funcionar novamente. O tipo do dispositivo antifurto simples e eficaz. Este ano a Intel apresentou o modelo conversível. Um micrinho simpaticíssimo que será aqui fabricado a partir de outubro. Ainda será do tamanho de um “netbook”, mas sua tela sensível ao toque bascula e gira, convertendo o Classmate em um micro tipo “tablet”. Uma pequena joia, recheada com software desenvolvido por uma equipe de programadores e pedagogos que transforma o micrinho em um inestimável instrumento de apoio à educação. Os Classmates já vêm sendo usados em todo o mundo com indiscutível sucesso. A cidade de Piraí, no Rio de Janeiro, acaba de adquirir mais 5.500 unidades que se juntarão ao estoque já disponível na rede de ensino público, o que fará dela a primeira cidade do mundo a atingir a meta de “um computador por aluno” da rede municipal. Além de Piraí, há outras cidades do mundo que estão buscando esta meta, como Magalhães, em Portugal, e cidades da Venezuela. O modelo conversível, espero, acelerará ainda mais estes programas. Seu preço ainda é um pouco “salgado”. Espero que a Intel, com o apoio dos governos locais, o reduza até o tamanho do bolso das famílias cujos filhos estudam nas redes públicas pelo Brasil e mundo afora. Porque a educação é a mola do desenvolvimento. E quando vejo um Classmate, impossível evitar um pensamento: foi para isso que se inventou o computador. E, se não foi, deveria ter sido... Fotos: (divulgação Intel editadas por B. Piropo)
B. Piropo |