O segundo evento a que me referi na coluna anterior foi o Intel Developer Forum, edição Brasil 2006, realizado nos salões do Word Trade Center de SP em 5 de dezembro de 2006.
Esta edição atraiu mais participantes que a de 2005, comentada aqui mesmo pelo Paulo Couto. Este ano o IDF Brasil contou com cerca de 1.200 inscritos que assistiram a dezesseis palestras e duas “keynotes” (palestras plenárias) nos quatro salões e auditório postos à disposição do público.
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Figura 1: Oscar Clarke, Gerente Geral da Intel Brasil,
na abertura do evento. |
O IDF é um evento eminentemente técnico no qual a Intel discute suas realizações, os resultados obtidos durante os últimos meses e, a parte mais interessante, seus planos para o futuro. Os pontos altos deste evento, indiscutivelmente, foram a apresentação do novo microprocessador Intel de núcleo quádruplo e o lançamento do micro portátil “Classmate PC” voltado especificamente para o ensino médio e fundamental.
O processador de núcleo quádruplo, “Quad-core”, foi lançado oficialmente em novembro passado e estará disponível comercialmente no início de 2007 a um preço unitário de US$ 999. Durante o evento foi feita uma demonstração na qual o chip montado em um servidor conseguiu executar uma tarefa complexa duas vezes mais depressa que seu antecessor de núcleo duplo e, apesar disso, com uma significativa economia de energia de cerca de 25%.
No Brasil a Itautec se prepara para lançar duas máquinas equipadas com processadores de núcleo quádruplo da Intel: para o mercado corporativo, o servidor MX 201 equipado com até dois processadores Xeon Quad Core Serie 5300, voltado para aplicações de alta disponibilidade, servidor Internet de grande porte e servidor de banco de dados. E para o mercado de alto desempenho, o novo InfoWay equipado com o Core 2 Quad e chipset Intel 975x, ideal para aplicativos gráficos, vídeo ou qualquer aplicação que demande grande poder de processamento.
Confuso com a nomenclatura? De fato a Intel mudou tão radicalmente a forma de “batizar” seus processadores, misturando tecnologias, ou “linhas”, com marcas, ou “nomes”, que a coisa acabou ficando mesmo complicada. Vamos tentar esclarecer.
Comecemos pelos nomes. Para início de conversa o velho Pentium morreu. Ou melhor: agoniza. Porque ainda existe uma enorme quantidade deles no mercado e a Intel continuará fabricando alguns enquanto houver interesse em adquiri-los. Mas o que morreu mesmo foi a filosofia que até então vinha orientando a busca pelo aumento do desempenho de microprocessadores: aumentar o poder de processamento graças ao incremento da freqüência de operação, recorrendo a alvitres como a redução da tensão de alimentação e da espessura da camada de silício. Este caminho chegou ao fim graças, principalmente, a limitações tecnológicas: a camada de silício dos novos chips já alcançou a irrisória espessura de 45 nm (nanômetros, ou bilionésimos de milímetro) e não pode reduzir-se muito além disso por impossibilidades físicas (sugiro a quem se interessar pelo o assunto ler a série de colunas “Lei de Moore: até quando?” iniciada com “Chegando aos 90 nm”). Portanto, a Intel teve que mudar de rota.
A nova rota implica mudança de filosofia. Que, em essência, é muito simples: pode-se terminar um trabalho mais rapidamente fazendo o trabalhador que o executa mover-se mais depressa ou conseguindo um ajudante que divida com ele as tarefas. Colocando no contexto exato: pode-se aumentar o desempenho de um microprocessador acelerando a freqüência de operação de seu único núcleo ou aumentando o número de núcleos (ou “cores”). E esse é o novo caminho da Intel. E, para deixá-lo evidente, mudou o nome de seus processadores de “Pentium” para “Core”. Que, como já está em sua segunda geração, agora chama-se “Core 2” (sim, em matéria de geração, o Pentium já estava na quarta, com o Pentium 4). Portanto, o “Core 2 Duo” corresponde a um microprocessador denominado “Core”, de segunda geração (daí o “2”) e núcleo duplo (“Duo”). O que torna fácil entender o que é um “Core 2 Quad”: um processador de nome “Core”, de segunda geração e núcleo quádruplo.
Mas a mudança de nome afetou apenas os microprocessadores do mercado de varejo. Os destinados a servidores continuam se chamando “Xeon” (daí o “Xeon Quad Core”, um processador Xeon de quatro núcleos) e os que usam a arquitetura IA-64 continuarão se chamando Itanium.
A coisa complica um pouco mais quando o conceito se estende às tecnologias, ou “plataformas”, o conjunto de microprocessador, chipset e arquitetura básica, reunidos com um fim específico. A primeira, e mais conhecida, é a “Centrino”, dirigida aos dispositivos móveis. Depois veio a “ViiV”, destinada a micros para uso doméstico e voltados para entretenimento. E, mais recentemente, em abril deste ano, a Intel lançou a “VPro”, especificamente para o mercado corporativo. Portanto é bom não confundir “nomes de processadores” com “plataformas”. Sim, complicou, mas o que fazer? Coisas dos homens de marquetingue, que tudo sabem e tudo podem.
Mas, por estranho que pareça, mesmo em um evento que contava com a primeira apresentação pública no Brasil de um processador de núcleo quádruplo, a grande estrela foi um pequeno micro portátil, tipo “notebook”, com uma tela de apenas 7” (por extenso, para não deixar dúvidas: sete polegadas), processador Celeron 900 sem cache, não mais que 256 Mb de memória RAM, sem disco rígido (seu armazenamento de massa se resume a 1 GB de memória tipo “flash”) e duas portas USB. Uma maquineta tão importante que foi apresentada ao público por John Davies, Vice Presidente do Grupo de Vendas e Marketing da Intel. Como pode?
Bem, acontece que apesar de ser um notebook simples, não se trata de um simples notebook. Trata-se da primeira apresentação pública do “Classmate PC”, o micro de baixo custo da Intel destinado ao ensino médio e fundamental, apresentado juntamente com seus dois primeiros fabricantes mundiais, as brasileiras Positivo e CCE.
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Figura 2: John Davies, VP da Intel, e o Classmate PC. |
O Classmate PC é um notebook de pequenas dimensões, leve e extremamente resistente. E nem poderia ser diferente já que seu mercado consumidor é constituído exclusivamente por crianças e adolescentes. E, como dito acima, não é um simples notebook, mas uma plataforma completa, com funções exclusivas tanto de hardware quanto de software, com aplicativos desenvolvidos especificamente para ele, visando atender às necessidades de estudantes e professores do ensino médio e fundamental, particularmente das nações em desenvolvimento. Foi concebido para ser uma solução completa para a sala de aula.
Aliás, só funciona mesmo na sala de aula ou em suas imediações. E assim é graças a um engenhoso sistema contra roubos que pode não impedir que a máquina seja subtraída das mãos de uma criança, mas garante que não terá utilidade alguma para quem a subtrair: um chip TPM (Trusted Platform Module) obrigatoriamente incorporado à placa mãe de todo Classmate PC verifica periodicamente através da rede sem fio na qual o micro foi registrado a validade de seu certificado. De tempos em tempos o sistema troca o certificado, obrigando um novo acesso para revalidação. Caso a revalidação não seja feita em um determinado período, o micro trava irremediavelmente e somente voltará a funcionar se novamente conectado à rede e revalidado por seu administrador. Leve um deles para casa e dentro de alguns dias não terá mais que um simples enfeite de móvel. E, por sinal, feio.
Os modelos apresentados no evento aceitam tanto o sistema operacional Windows quanto Linux, ficando a cargo do fabricante decidir qual usar. O hardware foi concebido tendo em mente que o usuário alvo será, no máximo, um adolescente (na verdade a maioria será mesmo formada por crianças). Além de leve e resistente a quedas, seu teclado é à prova de água. E cada micro virá com um conjunto de aplicativos especialmente desenvolvido para ser usado em sala de aula, conectado a uma rede sem fio tipo WiFi cujo controlador vem integrado à placa-mãe do micrinho.
O Classmate PC faz parte de um sistema integrado de gestão de aula. Todas as máquinas estarão conectadas (sem fio) ao micro do professor, que poderá acompanhar em tempo real o que fazem os alunos e compartilhar documentos e conteúdo disponível seja em sua máquina, seja na Internet. E pode, naturalmente, travar todos os micros durante uma explicação para evitar que a atenção dos alunos seja desviada.
O projeto do Classmate PC foi desenvolvido pelos Centros de Definição de Plataformas da Intel de todo o mundo, com forte colaboração brasileira. E, tão logo as primeiras unidades foram fabricadas, integraram um projeto piloto com duração de três meses, desenvolvido em sala de aula com a participação da Fundação Bradesco. Fizeram parte do piloto 130 alunos da terceira e sexta séries do ensino fundamental e da primeira do ensino médio que utilizaram 46 máquinas.
Uma das professoras participantes do projeto prestou um emocionado depoimento durante o IDF Brasil. Segundo ela, recursos deste tipo fazem com que o professor assuma seu papel real de facilitador do conhecimento, em vez de um mero repetidor de aulas. O conhecimento passa a ser construído pelos alunos através de sua própria experiência, aumentando significativamente o nível de interação entre aluno e mestre, facilitando a troca (e não apenas a transmissão em um só sentido) de informações. Durante o piloto houve casos de alunos que não somente prestaram auxílio a seus colegas respondendo a perguntas como ajudaram a esclarecer dúvidas do próprio professor.
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Figura 3: Classmate PC. |
A solução parece excelente. O problema, no entanto, ainda é o preço. Segundo informações fornecidas durante a apresentação pelo representante da Positivo, uma das duas fabricantes credenciadas pela Intel (a outra é a CCE que, no entanto, não participou da apresentação), os custos de fabricação estão na ordem dos US$ 400, o que significa que o preço final de mercado deverá se situar um pouco acima disto.
Caro para os padrões brasileiros...
B.
Piropo