A Google é uma instituição peculiar. Embora conhecida já há alguns anos como empresa bem sucedida, somente em agosto passado fez sua muito esperada IPO (oferta inicial de ações na bolsa). Diferentemente das demais, que geralmente lançam ações na faixa de dez a vinte dólares a unidade, as da Google foram lançadas a US$ 85, patamar considerado exagerado pelos especialistas em bolsa. Pois bem: excedendo a todas as expectativas, em menos de dois meses as ações dobraram de preço. E no início deste mês ultrapassaram o patamar dos duzentos dólares, gerando um capital superior a 25 bilhões de dólares, um fenômeno que não era visto desde os tempos alucinados da “bolha” da Internet. E o mais surpreendente é que tudo o que essa empresa milionária oferece ao público é gratuito.
O segredo, é claro, está na venda de publicidade. O que não desmerece a empresa. Porque, além de grátis, seus serviços são de excelente qualidade. O mais conhecido (e responsável pelo imenso sucesso da empresa) é o dispositivo de busca (“search engine”) na Internet, capaz de encontrar em segundos (dependendo, é claro, da rapidez de sua conexão) páginas contendo a mais intrincada combinação de termos que você possa imaginar. Mas oferece outros serviços, como uma formidável busca de imagens (experimente: abra o Google em português em < www.google.com.br >, digite “Minas Gerais” – assim mesmo, mantendo as aspas – na caixa de entrada de dados, selecione a palavra “Imagens” destacada em azul sobre a caixa de dados e clique no botão “Pesquisa Google”; acabo de fazê-lo e em 0,31 segundos recebi uma seleção de mais de vinte mil imagens, todas de alguma forma relacionadas com Minas Gerais). Além destes, há também um serviço de busca nos grupos de discussão da Internet (“Grupos”) e um serviço organizado por assuntos (“Diretório”).
Mas talvez a face menos conhecida do Google seja suas ferramentas, todas igualmente gratuitas. Há algum tempo (por coincidência quase um ano exato: o artigo foi publicado em 20 de novembro do ano passado e permanece disponível na seção “Escritos / Artigos no Estado de Minas” de meu sítio, em < www.bpiropo.com.br >) escrevi sobre a barra de ferramentas Google, que se instala na barra de tarefas de Windows ou no topo da janela do navegador e permite buscas instantâneas. Além dela, Google oferece botões para serem agregados à janela do navegador, um organizador de fotos (Picasa) e ferramenta de tradução, tudo isso de graça. E recentemente, para quem usa Windows XP ou 2000 (neste último caso, com o Service Pack 3 instalado), passou a oferecer o Google Desktop Search, nosso assunto de hoje, uma notável ferramenta que usa o “search engine” do Google para fazer buscas nas entranhas de nosso próprio computador. E se você acha que a ferramenta é inútil porque o próprio Windows faz isso com a entrada “Pesquisar” do menu Iniciar, admito que, de fato, o faz. Mas comparar a busca do Windows à do Google é como comparar uma carroça a uma Ferrari.
O serviço, por enquanto, só está disponível em inglês – o que na verdade não faz muita diferença já que a interface é idêntica àquela a que estamos acostumados a usar nas buscas pela Internet. Tudo o que se tem que fazer é digitar a expressão a ser localizada na caixa de entrada e clicar no botão “Search Desktop” para efetuar uma busca no próprio micro ou no botão “Search the Web” se preferir que ela seja feita na Internet. Para instalá-lo é preciso visitar o sítio do Google em inglês, em < www.google.com >, clicar no atalho “more” (em azul, acima e à direita da caixa de entrada de dados), rolar a página para baixo até visualizar a seção “Google Tools” e clicar no atalho “Google Desktop Search”. Isso o levará a uma nova página onde se destaca, à direita, o botão “Agree and Download”. Clique nele e aparecerá a clássica janela “Download de Arquivo” perguntando se você deseja cancelar a operação, executar ou salvar o arquivo. Escolha “Salvar”, indique o local e espere a transferência do executável GoogleDesktopSearchSetup.Exe de menos de 500 Kb. Para instalar o programa basta executar este arquivo.
Antes de usar a ferramenta pela primeira vez há que ter alguma paciência. A razão disso é que o “search engine” do Google funciona baseado em indexação. E para isso é necessário indexar todos os arquivos sujeitos a busca, esquadrinhando-os e classificando os termos neles encontrados para formar um único arquivo de índice. O que leva tempo (muito) e ocupa espaço em disco (pouco).
Para construir o índice, a ferramenta varre completamente os discos rígidos da máquina. Isso consome um bocado da capacidade de processamento. Para não prejudicar o desempenho do micro, a indexação somente é feita nas ocasiões em que ele está ocioso por mais de trinta segundos. O que torna a construção do índice ainda mais lenta. Meu conselho: se você é daqueles que desliga o micro toda vez que pára de usá-lo, após a instalação da ferramenta de busca do Google abra uma exceção e deixe-o ligado durante a noite. A tarefa de indexação dura algumas horas, mas a não ser que você tenha discos gigantes pejados de documentos a serem indexados, na manhã seguinte a indexação estará completa e daí em diante cada novo documento será incorporado ao índice imediatamente, sem prejudicar o desempenho do micro. Esta máquina que vos fala teve exatos 93.518 documentos indexados durante a noite, gerando um arquivo índice de apenas 418 Kb.
Mas que documentos são esses? Bem, o Google Desktop Search é capaz de localizar qualquer expressão contida em arquivos texto puro, arquivos do Office gerados pelo Word, Power Point e Excel, arquivos do Outlook e Outlook Express (sim, incluindo todas as mensagens armazenadas no micro), arquivos do AOL Instant Messenger e até mesmo páginas da Internet recentemente visitadas, ainda que você não esteja conectado.
A partir do momento que o Desktop Search é instalado, cada vez que se visita uma página da Internet, se consulta uma mensagem de correio eletrônico, se abre ou edita um arquivo ou se participa de um “bate papo” nas salas do AOL, o item não somente é anexado ao arquivo índice como também é incluído no cache do programa. Por isso a busca é tão rápida e a exibição do item, quando encontrado, é quase imediata (para os paranóicos: se você não desejar que um ou mais itens sejam incluídos na pesquisa, basta declarar isso na opção “Preferences” do programa).
Feita a instalação, o Google Desktop Search inclui seu ícone na Área de Notificação (aquele trecho à direita da barra de tarefas que contém os ícones dos programas carregados durante a inicialização) e acrescenta o atalho “Desktop” às opções oferecidas acima da caixa de entrada de dados da tela padrão do Google. Isto significa que você pode ordenar uma busca em seu micro seja com um clique duplo sobre o ícone, seja abrindo uma janela padrão do Google e, após entrar os termos a serem pesquisados, clicando sobre o atalho “Desktop” da janela. Seja qual for o método escolhido, apenas serão exibidos os resultados encontrados em seu computador.
Isso, naturalmente, não impede que você faça uma busca mista, ou seja, ao mesmo tempo no seu micro e na Internet. Na verdade, ela será feita automaticamente. Porque, a partir do momento em que o Google Desktop Search é instalado, toda busca feita na Internet é feita igualmente em seu computador. E o total de ocorrências em seu micro é exibido na primeira linha da lista de resultados (veja figura). É claro que se você achar isto inconveniente, pode desabilitar a função nas “Desktop preferences”. Aliás, pode desabilitar inteiramente a busca no seu computador clicando sobre o ícone do programa na Área de Notificação e acionando a opção “Exit”. Mas nesse caso, além de inibir as buscas, inibirá também a indexação dos novos arquivos enquanto a função estiver desabilitada.
O programa, que segundo os autores ainda está em versão beta, é excelente (mas, reitero: segundo o sítio da Google, só funciona em Windows XP ou 2000 com SP3). As buscas são executadas com uma rapidez notável e uma precisão absoluta. Havia, nos velhos tempos do DOS, um programa chamado Magellan que fazia a mesma coisa (também recorrendo a um processo de indexação) do qual eu sentia falta até recentemente. O Google Desktop Search veio preencher essa lacuna. E com louvor. Nos tempos do Magellan não havia Internet nem correio eletrônico. Hoje há. E poder encontrar uma mensagem contendo um determinado termo enterrada entre milhares de outras nas pastas do meu OE é uma façanha que, honestamente, não sei se estaria ao alcance do velho Magellan. O Google Desktop Search dá conta dela em um piscar de olhos.
B.
Piropo