Escritos
B. Piropo
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27/09/1999
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No que toca a aplicativos, o problema consiste no uso de "datas curtas", ou seja, de apenas dois algarismos para exprimir anos, tanto nos arquivos de dados quanto nos executáveis.

Um arquivo de dados que contenha uma data curta pode ou não representar risco. Por exemplo: se o arquivo for do tipo Bmp, não há porque se preocupar. Considerando-se que se trata de um "mapa de bits", ou uma imagem digitalizada, a data provavelmente dirá respeito à criação do arquivo ou algo parecido e portanto é altamente improvável que o fato de usar dois dígitos para o ano venha a causar transtorno. Já se o mesmo ocorrer em um arquivo tipo Dbf, a coisa é diferente: trata-se de um arquivo de banco de dados e é possível que a data venha a ser utilizada em uma operação, como por exemplo cálculo de juros ou verificação de data de vencimento de obrigações. E você já imaginou se o banco de dados de sua financeira achar que sua prestação que vence em janeiro do ano que vem está atrasada em quase um século e decidir cobrar os juros (im)pertinentes?.

No que toca aos arquivos executáveis, ocorre algo semelhante. É pouco provável que as datas relativas à criação do arquivo e similares venham a lhe causar problemas. Mas se são datas usadas como operandos (variáveis ou "campos" para armazenamento de variáveis), o perigo existe e é realmente grande. Aplicativos como estes exigem correção.

E qual é a probabilidade da ocorrência de um arquivo que usa data curta? Bem, depende da máquina e, sobretudo, da finalidade para a qual ela é usada. Se a minha serve como exemplo de micro doméstico usado também para defender o uísque de um cavalheiro de meia idade (que leite das crianças já há muito não se consome por estas plagas), vai aqui sua estatística: dos 43.572 arquivos abrigados em seus três discos rígidos, há perigo potencial de dano em 26.400. Destes, 545 são Exe ou Dll (ou seja, contém código executável) dos quais 266 usam "datas curtas". O restante são arquivos de dados ou de sistema. No total foram identificados 4.805 arquivos que usam "datas curtas" e podem precisar de conversão. Que tipo de dano pode ocorrer se a conversão não for feita, não sei (provavelmente nada de grave: a maioria são arquivos de dados que nunca usarei novamente ou operações com datas que jamais realizarei). Mas certamente o risco não é desprezível.

Então como agir em relação aos aplicativos? O mais óbvio é procurar uma atualização no sítio do desenvolvedor. A alternativa é confiar em programas de terceiros. Destes, a maioria se baseia em bancos de dados com informações sobre que versões de que programas são ou não compatíveis (uma estratégia que só funciona para aplicativos incluídos no banco de dados). Eles confrontam as versões encontradas com o banco de dados e sugerem medidas corretivas quando necessárias O mais conhecido é o Norton 2000, da Symantec. Mas há outros. Visite o sítio CNET Y2K em [http://www.cnet.com/Content/Reports/Special/Y2000/] e clique no link "Y2K Utility Price Guide" para acessar uma lista de diversos deles, seus preços e links para seus desenvolvedores e para locais onde podem ser adquiridos, inclusive via Internet. Outra fonte é o sítio Year 2000 Information Center em [http://www.year2000.com/]. No Brasil, não há muita coisa. Dentre as que há, apenas uma empresa, a Year 2000 Consulting Group Brazil, me enviou seu produto para avaliação – o MFX 2000, que usa uma técnica tão original para lidar com o problema que mereceu um artigo só para ele.

Penso que, no que toca ao seu micro doméstico, o que havia de importante em relação ao bug do ano 2000 foi discutido. Mas há muito mais. Nos diversos sítios citados na série há as mais diversas informações sobre o tema, desde como ele afetará seu videocassete até previsões hecatômbicas sobre os efeitos nas mais diversas atividades humanas. Quanto a mim, em 31 de dezembro passarei em um banco 24 horas, sacarei o suficiente para as despesas de três ou quatro dias para evitar surpresas e relaxarei. E, por precaução, evitarei romper o ano à bordo de um avião. Fora isso, é cair na gandaia porque é reveillon.

Com isto chegamos ao final da série. Ao iniciá-la, há quase três meses, eu comentei que o assunto era fascinante e que esperava investigar certos detalhes com maior profundidade. As pesquisas foram muito mais fundo do que caberia mencionar nestas páginas. E lhes asseguro que não me decepcionei. Eu poderia encerrar a série desejando que vocês tenham tido tanto prazer ao lê-la quanto eu tive ao investigar o tema. Mas não seria justo: sei que vocês não chegaram nem perto...

B. Piropo