Escritos
B. Piropo
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17/05/1999

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Depois de uma série como a da semana passada, temos direito de jogar um pouco de conversa fora. Mas fa-lo-emos em alto estilo, à moda daquele anjinho do Passeio Público que, enquanto jorrava água de seu cântaro, dizia: "inda brincando sou útil" (ainda existe, o anjinho? Não andei mais por aquelas bandas, não sei dele, nunca mais o vi, mas bem me lembro de como o admirava enquanto esperava o bonde no ponto ali defronte...)

Falemos do vírus Chernobyl, criado por um chinês débil mental de 24 anos, hoje um tanto assustado com o fato de ter infectado mais de 600 mil máquinas em todo o mundo e com os problemas legais que isso trará para ele e que devem metê-lo na cadeia. A rapidez de sua disseminação deve-se à facilidade de intercâmbio de arquivos executáveis propiciada pela Internet e à ignorância que cercou o próprio vírus. Tanto assim que milhares de pessoas perderam os dados de seus discos rígidos em virtude da lamentável divulgação da informação errônea que, depois da ativação do vírus (ocorrida dia 26 do mês passado, décimo terceiro aniversário do acidente nuclear de Chernobyl, mas que poderá se repetir este mês e nos próximos, sempre no dia 26) não haveria remédio além de reparticionar e reformatar o HD.

O vírus (também conhecido por CIH, iniciais do mentecapto que o desenvolveu) contamina arquivos executáveis de Windows 95, 98 e NT. Quando um deles é executado, o Chernobyl se instala na memória (exceto em máquinas rodando Windows NT, onde ele não consegue se ativar) e passa a contaminar todos os demais executáveis que são carregados daí em diante. Fora isto, ele fica quieto em seu canto até o dia programado para ser ativado. Só então entra em ação gravando dados aleatórios em todo o primeiro megabyte do disco, sobrescrevendo o que lá havia. Como nesse espaço se aninham as tabelas de partição e de alocação de arquivos, além do diretório raiz, o sistema operacional não mais consegue acessar o disco, pois não pode identificar partições nem encontrar arquivos. Não contente com isso, o vírus ainda tenta corromper o BIOS. Não consegue nas máquinas cujo BIOS é gravado em ROM (um tipo de chip de memória cujo conteúdo não pode ser alterado), mas nas modernas, cujo BIOS é gravado em chips do tipo Flash Memory (que permite atualização sem trocar o chip), a devastação pode ser ainda maior: o micro já não funcionará nem com um novo HD, posto que a primeira fase da inicialização da máquina depende da execução de um programa gravado no BIOS. Em suma: cangancha absoluta.

Mas nem tudo está perdido. Se sua máquina está infectada mas o vírus ainda não foi ativado, a solução é simples. As últimas atualizações dos bons antivírus já são capazes de detectar e eliminar o vírus. E mesmo que ele já tenha sido ativado no último dia 26 (ou, quem sabe, no próximo?), ainda assim é possível recuperar quase todo o conteúdo do disco. Pois o vírus danifica apenas as informações da tabela de partição e de alocação de arquivos, mas não os arquivos. E há programas capazes de reconstituir os arquivos baseados nos subdiretórios (que são gravados em setores espalhados por todo o disco rígido e não apenas nos iniciais como o diretório raiz).

Em princípio, qualquer bom editor de disco (como o incluído nos Norton Utilities) pode fazê-lo. Mas dá um trabalho medonho. A forma menos trabalhosa é usar um programa que recupere os arquivos automaticamente. Há pelo menos dois disponíveis na rede. O Tiramisu, recentemente adquirido pela Ontrack, do qual você pode obter informações e baixar uma cópia demo em [http://www.ontrack.com/op/op_7/op_7.asp], e o Lost & Found da Power Quest, sobre o qual falamos aqui mesmo recentemente, cuja versão de demonstração pode ser obtida em [http://www.powerquest.com.br/powerquest/] (as versões demo examinam o disco danificado e mostram os arquivos que podem ser recuperados pela versão completa). Portanto, mesmo que a desgraça já tenha ocorrido, dá para reaver a maior parte dos dados. Pena que tanta gente tenha perdido os seus por ter sido mal informada. Quanto ao BIOS, a coisa é um pouco mais trabalhosa e talvez você tenha que recorrer à assistência técnica. Mas também dá para recuperar.

E já que falamos em vírus e contaminação, lembrei-me do recente acidente com o Emissário Submarino de Ipanema. Se você quer conhecer um ponto de vista diferente do que foi divulgado pela imprensa em geral, visite o Globo On em [http://www.oglobo.com.br/], acesse o link "O tema é..." da seção "Serviços" e procure pelo tema "Conserto do emissário submarino (ou vá diretamente ao artigo em [http://www.oglobo.com.br/tema/emissario/emissario.htm]). E mesmo que não se interesse pelo tema, faça uma visita. Quem sabe lhe agrade o estilo do autor...

Como? O título desta coluna? Lindo, não achou? Mas, de fato, nada tem a ver com a coluna. Acontece que depois de uma série comprida como a que findou semana passada, para atrair sua atenção para este canto de página eu tinha que apelar para algum artifício. Além disso, eu sempre quis escrever alguma coisa com este título. Se perdesse esta chance, nunca mais...

B. Piropo