Escritos
B. Piropo
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28/12/1998

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É isso mesmo: previsões. Não dá para encerrar um ano sem as indefectíveis previsões para o próximo. Só que desta vez vou inovar. Por razões que vocês logo entenderão, e levando em conta que (como estão fartos de saber os que acompanham esta coluna regularmente) no campo das previsões sou um desastre, vou deixar as minhas para o final. Ao invés delas, começarei comentando as previsões de uma pessoa de maior confiança para essas coisas, a Cristina de Luca que vocês conhecem lá das Últimas, já que bem informada como ela conheço poucos.

Por razões que não cabem aqui, há pouco tempo estávamos Cris e eu a discutir as tendências do mercado para o próximo ano. O que segue é uma pequena resenha comentada dos pontos que ela citou como mais importantes e que ficaram na minha lembrança.

O ano que vem será o dos processadores de 64 bits. A Intel vem trabalhando já há algum tempo em um chip de 64 bits, codinome Merced, que inaugurará uma nova arquitetura, a IA-64 (Intel Architecture-64). E, segundo a própria Intel, não se trata apenas de mais uma extensão da arquitetura de 32 bits da linha x86, como o Pentium, mas de algo totalmente novo, voltado para o futuro. Será uma arquitetura com características revolucionárias como Long Instruction Words (LIW), branch elimination, instruction predication e outras tantas técnicas avançadas que explorarão o paralelismo do código de programação até suas últimas conseqüências. Sem contar na possibilidade de acessar diretamente uma memória plana de mais de 16 milhões de terabytes. Segundo a Intel, as CPUs de 64 bits vão inaugurar uma nova era da informática e isso deverá ocorrer ainda em 99.

Também em 99 deveremos assistir o início da disseminação de monitores de tela plana e cristal líquido em nossas mesas de trabalho. Os mesmos usados há alguns anos nos micros portáteis, mas agora ligados aos micros de mesa. Eles já estão no mercado há algum tempo, porém a preços ainda proibitivos. Em 99 espera-se que caiam a níveis compatíveis com os bolsos do usuário médio (pelo menos do usuário médio americano) e que as vendas aumentem exponencialmente. E não apenas porque ocupam menos espaço sobre as mesas: usando técnicas técnicas modernas como TFT (Thin Film Transistor, também conhecida como "matriz ativa"), são capazes de gerar uma imagem que comparada a dos monitores comuns, não apenas é mais detalhada como mais bonita, com cores mais vivas e brilhantes. E não se deixe iludir por sua aparente pequenez: a área efetivamente ocupada pela imagem em um monitor de tela plana de 12" é maior que a de muitos monitores comuns de 14", destes que usam tubos de raios catódicos (CRT, Cathode Ray Tube). Isso porque nos monitores de tela plana a imagem ocupa toda a tela, enquanto que nos monitores CRT ocupa apenas parte. Se duvida, tome uma régua, meça a imagem de seu monitor e compare com o "tamanho" indicado pelo fabricante (a medida corresponde a diagonal da imagem expressa em polegadas).

Prepare-se também para se acostumar com novos acrônimos. UPC, por exemplo, de Ultra Portable Computing, computadores que caberão na sua mão e usarão aplicativos desenvolvidos em Java ou em uma futura geração de Windows CE. Ou RDRAM, de Rambus DRAM, um tipo de memória de acesso muito mais rápido que as atuais SDRAM, característica indispensável para os futuros barramentos com freqüências de operação que se elevarão dos atuais 100 MHz para incríveis 600MHz. Ou ainda SMIL (que se pronuncia como "smile"), de Syncronyzed Multimídia Integration Language, uma evolução da HTML concebida para distribuir vídeo, áudio, imagem e texto via Internet. E prepare-se ainda para a uma intensa popularização do NetPhone, a comunicação de voz via protocolo IP (ou, mais simplesmente, a técnica que permite conversar de viva voz via Internet).

Pois isso é o que a Cristina acha que vai acontecer no ano que vem.

Quanto a mim, bem, vocês sabem como eu sou para essas coisas. Como disse lá em cima, para fazer previsões sou um desastre. Há dois anos previ a iminente explosão do barramento USB e acho que foi essa a razão dele estar se arrastando até hoje (não consigo encontrar outra: ele é tão melhor que as clássicas portas seriais e paralelas que não dá para entender porque ainda não dominou o mercado). Aconteceu o mesmo com os drives DVD, tão melhores que os velhos CD-ROM: não se pode explicar a lentidão de suas vendas exceto pelo fato de eu ter incluído seu sucesso em uma de minhas previsões. Ou dos padrões ATX e AGP, que só agora começam a se disseminar embora eu tivesse previsto que isso iria ocorrer muito antes. E há quem diga que minha adesão de corpo e alma ao OS/2, para o qual eu previ um futuro glorioso, influiu decisivamente no destino do sistema operacional, abandonado a própria sorte até pela própria IBM que o desenvolveu.

Em resumo: tudo o que eu prevejo dá errado.

Mas, seja como for, quem assina essa coluna sou eu e não posso me furtar a expor meus pensamentos sobre o futuro só porque jamais acerto. Afinal, vocês têm direito a eles. Então, vamos lá:

Prevejo que 1999 será o ano em que se consolidará mais que nunca o domínio da Microsoft sobre o mercado da informática. A compra da Netscape pela AOL esfriará a ação movida contra ela pelo Departamento de Justiça dos EUA e o processo dará em nada. O lançamento do Windows 2000 consolidará o monopólio de fato da MS sobre os sistemas operacionais da linha PC e o Office 2000 eliminará os poucos concorrentes na liça dos aplicativos. Ao final do ano a concorrência terá praticamente desaparecido e o domínio da MS será absoluto.

Estas são minhas previsões para 99.

Que não se diga que eu não fiz nada para melhorar a competitividade do mercado...

No mais (e isso não é uma previsão, mas um desejo sincero): feliz ano novo.

B. Piropo