Escritos
B. Piropo
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21/12/1998

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Novidades não são tudo o que há de importante em um ano que finda. Houve também acontecimentos que mesmo não apresentando nada de novo são dignos de destaque.

Por exemplo: já lá se vão alguns anos que as máquinas fotográficas digitais apareceram no mercado. Mas até o início deste ano eram consideradas um brinquedo de luxo, um "gadget" de maníacos por tecnologia. Pois este ano elas deixaram de ser apetrecho de impressionar amigo e passaram, afinal, a serem encaradas como máquinas de tirar fotografias. Tanto assim que em fevereiro a versão eletrônica deste jornal que vos fala, encontrada em [http://www.oglobo.com.br], usou uma delas para cobrir o desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro. Fotografava-se, removia-se o disquete da câmara, corria-se com ele para a redação (uma corrida de cem metros rasos) e em minutos a foto estava disponível para o mundo inteiro via Internet. Hoje, câmaras digitais já substituem, por enquanto timidamente, os modelos convencionais nas mãos dos abnegados amigos e parentes que documentam festinhas, enterros, casamentos e demais cerimônias fúnebres. Logo estarão tão disseminadas que as câmaras convencionais somente serão encontradas nas mãos de artistas e profissionais altamente especializados.

Trajeto parecido foi o dos pequenos micros de mão, os PDAs (acrônimo de Personal Digital Assistant, assistente pessoal digital). Os primeiros, confundidos com agendas eletrônicas, eram raros e caros. Apesar da capacidade de processamento relativamente alta, o reduzido teclado tornava a digitação difícil e o peso e tamanho faziam deles pequenos trambolhos. Depois surgiu o Palm Pilot, com menores dimensões, preços mais baixos e, maravilha das maravilhas, sem teclado (substituído por uma tela de cristal líquido sensível ao toque onde se pode escrever com um estilete) e capaz de trocar dados com o micro. Mais um dispositivo que evoluiu e, afinal, atingiu a maturidade em 98. O sucesso fez aparecerem concorrentes, mas o líder ainda é o velho Pilot, que hoje se chama apenas Palm, é fabricado pela 3Com, cabe no bolso da camisa e (nos EUA, naturalmente) custa menos de US$ 250. Tem gente que não pode viver sem ele. Se não acredita, pergunte ao Cônsul Plenipotenciário do Reino Unido de Salvador e Ilhéus, Sua Excelência L. Gravatá Galvão, encontrado na página 2 ou em [http://www.gravata.com].

Além destas, outras tecnologias amadureceram ou se firmaram em 98. Apesar da aceitação relativamente pequena de Windows 98, seu lançamento fez com que o novo padrão de portas seriais USB (Universal Serial Bus) galgasse a categoria de tecnologia definitivamente implantada. Suas vantagens são tantas que logo o USB se disseminará a ponto de dominar inteiramente o mercado. Também o padrão ATX, que mudou o formato das placas-mãe de micros da linha PC e alterou as fontes de alimentação e a disposição dos componentes na placa, se estabeleceu de vez: dificilmente se encontra uma placa-mãe para Pentium II que não seja ATX (em tempo: ATX não é acrônimo de nada, é simplesmente ATX). Definitivamente estabelecidos podem também ser considerados o padrão AGP para interface de vídeo e os monitores de 17". AGP é acrônimo de "Advanced Graphics Port", ou porta gráfica avançada. Tecnicamente não se trata de uma porta, mas de uma extensão do barramento PCI usada exclusivamente para vídeo, que melhora o desempenho do sistema de vídeo. E monitores de 17", evidentemente, todo mundo sabe o que são: uma bênção para os olhos. Seus preços, felizmente, já estão misericordiosamente baixos para propiciar um merecido descanso para a vista de gente como eu, que passa a maior parte do tempo encarando o vídeo.

Houve também boatos e fofocas. A começar pelo tão discutido bug do ano 2000, que é coisa séria e ainda vai dar muito o que falar – principalmente no início do ano 2000, de modo que é melhor esperar para ver no que vai dar (mas eu garanto que meu reveillon de 1999 não será passado dentro de um avião ou nas garras de qualquer outro equipamento que dependa de um processador para funcionar). Falou-se muito também na ação do Departamento de Justiça americano contra a MS, mas até que ela chegue ao final, muita água há de rolar por baixo dessa ponte. E falou-se também sobre comércio eletrônico e segurança na Internet.

Como a Internet não foi concebida para suportar transações com dinheiro, no que toca a segurança seus protocolos e sistemas têm mais buracos que nossas rodovias. Resultado: 98 foi o ano dos hackers e seu séquito de imbecis – que de tanto brincar com programas tipo Back Orifice e similares, vão acabar dando razão a uma outra súcia que defende o "controle" da grande rede, liquidando com a liberdade de acesso e de expressão.

Ah, quase ia me esquecendo, houve também a notícia de sempre: em 98, afinal, a Apple mais uma vez tirou o pé da lama e deu (outra) volta por cima com o lançamento do iMac.

B. Piropo