Escritos
B. Piropo
Anteriores:
< Trilha Zero >
Volte de onde veio
07/12/1998

< Resenha de 98: Hardware >


Na arena do hardware a disputa é encarniçada. E nada melhor que um sadio clima de disputa para ajudar a romper barreiras. Portanto, não é de admirar que tantas tenham sido rompidas este ano.

A mais badalada foi a dos 300 MHz da freqüência de operação das CPU dos micros da linha PC. Agora, no final do ano, quando já há microprocessadores de 450 MHz e se espera para dentro de poucos meses o lançamento de uma CPU da Intel rodando a vertiginosos 500 MHz (codinome Katmai), a gente mal se lembra que foi em 98 que pela primeira vez tivemos ao alcance das mãos (e dos bolsos) um chip da Intel rodando a 300 MHz. Evidentemente a Cyrix e a AMD não ficaram paradas e logo a marca de 300 MHz sumiu na poeira, de modo que atualmente ninguém dá muita importância a ela. Mas no início de 98, exibir uma máquina ostentando uma CPU de 300 MHz ainda era um jeito infalível de impressionar os amigos micreiros.

Mas o que pouca gente se deu conta é que também em 98 rompeu-se uma outra barreira que exerce uma influência tão grande ou maior no desempenho da máquina: os 100 MHz do barramento.

Já explico: até o tempo dos 486, as CPUs da Intel se comunicavam com a máquina na mesma freqüência com que operavam internamente. Quer dizer: um 486/33 funcionava a 33 MHz e trocava informações com a memória principal, memória cache e chipset também a 33 MHz. Mas quando as CPUs ficaram mais rápidas, seu ciclos de operação se tornaram tão curtos que os demais dispositivos, particularmente a memória, não podiam manter o mesmo ritmo. Foi então que apareceram as CPUs capazes de operar com uma freqüência (a interna) e se comunicar com a máquina com outra, menor (a externa). O primeiro chip a apelar para este artifício foi o 486 DX2/50, com freqüência interna de 50MHz e externa de 25 MHz. Depois foram lançados mais alguns 486 nesse mesmo estilo até que, afinal, surgiu linha Pentium e os nomes dos microprocessadores deixaram de fazer referência à diferença entre freqüências interna e externa. O que levou muita gente a pensar que ela havia acabado.

Ledo engano. Na verdade, ocorreu o oposto: com exceção dos Pentium 60 e 66, todos os demais usam freqüências externa menor que a interna. Os primeiros Pentium operavam externamente com 50 MHz ou 60 MHz, mas já há algum tempo todos eles adotam freqüência externa de 66 MHz. Ou seja: seu magnífico Pentium II 266 opera internamente a fantásticos 266 MHz, mas na hora de trocar dados com a memória e demais dispositivos baixa a crista, reduz seu ímpeto e opera a míseros 66 MHz. Como a imensa maioria das tarefas executadas pela CPU depende do acesso a dados e instruções armazenados na memória, é fácil avaliar o estorvo que um barramento lento representa para o desempenho da máquina. A Cyrix e a AMD logo perceberam isso e já há algum tempo vinham adotando freqüências externas de 75MHz e 83 MHz para alguns de seus chips. Só a Intel se aferrava aos lentos 66 MHz. Quando os concorrentes começaram a incomodar, ela afinal se mexeu e lançou em 98 seus primeiros chips que usam freqüência externa de 100 MHz.

Outras barreiras quebradas em 98 que agora, no final do ano, já não impressionam muito foram as dos módulos de memória de 32 Mb e discos rígidos de 3 Gb. Hoje, quando há no mercado módulos de SDRAM com capacidade de 128 Mb, a barreira dos 32 Mb já não parece importante. Mas não se esqueça que no início do ano a maioria das máquinas domésticas ainda usava 16 Mb de memória, portanto 32 Mb em um único módulo era uma marca e tanto. O mesmo ocorre com os discos rígidos: atualmente já se encontra com facilidade modelos de 7 Gb e 9 Gb a preços acessíveis. Mas foi somente no início do ano que os HDs de 3 Gb apareceram.

Tudo isto parecerá ridículo a quem encontrar esta coluna numa pilha de jornais velhos daqui a alguns anos, quando discos rígidos terão dezenas de Gb e a freqüência de operação da CPU será medida em GHz. Mas se ele ainda tiver um modem ligado a uma linha telefônica destas que usam um par de fios de cobre, certamente não rirá da barreira dos 56Kbps, já que seu modem não será muito mais rápido. Porque essa barreira, também rompida em 98, está muito próxima do limite máximo teórico da taxa de transmissão transportada pelo sistema telefônico comum e por isso os modems não poderão evoluir muito acima dela (sim, eu sei, o cara provavelmente terá uma conexão de fibra ótica e dará gargalhadas dos 56 Kbps do mesmo jeito).

Mas neste ano não foram quebradas apenas barreiras tecnológicas. Graças à sadia concorrência reinante no mercado do hardware não somente nossos micros estão melhores, mais poderosos e mais rápidos como também, e sobretudo, ficaram mais baratos. Porque em 98 foram rompidas algumas importantes barreiras de preços. Este ano, nos EUA, pela primeira vez micros de topo de linha puderam ser encontrados por menos de dois mil dólares, micros domésticos de primeira linha ("entry level") passaram a custar menos de mil dólares e impressoras coloridas de jato de tinta, alta resolução e qualidade fotográfica podem ser compradas por menos de 300 dólares.

Vejam vocês o que uma boa concorrência não é capaz de fazer...

PS: Há alguma semanas, na série de artigos sobre o Back Orifice, mencionei um utilitário da MS que fornece informações sobre o sistema, o MSInfo32. Trata-se de uma poderosa ferramenta não apenas para se dispor de uma incrivelmente minuciosa radiografia de seu computador como também para ajudar a resolver problemas de configuração e conflitos entre dispositivos. O utilitário, fornecido gratuitamente pela MS, faz parte das versões mais recentes do MS Office. Pois a MS decidiu inclui-lo também em Windows 98. Se você instalou Windows 98, pode carregar o programa não somente digitando seu nome (msinfo32.exe) na caixa de entrada de dados da opção "Executar" do menu "Iniciar" como também acionando a opção "Programas" do menu "Iniciar" e procurando pela entrada "Informações sobre o sistema" da opção "Ferramentas de sistema" da entrada "Acessórios". O programa, em si mesmo, já é uma jóia de inestimável valor. Mas como se isso não bastasse, ele ainda permite carregar outras ferramentas formidáveis, escondidas em seu menu "Ferramentas". Lá estão, além do velho Dr. Watson, alguns utilitários que facilitam extraordinariamente a resolução de problemas em Windows 95. Uma coleção tão impressionante que merecerá uma (ou mais) colunas. Hoje, fica apenas a menção ao programa, já que não seria de bom tom interromper a resenha de 98.

B. Piropo