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30/11/1998
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Restam poucas semanas até o final do ano. Ocasião ideal para se fazer um balanço do mercado. Porém antes de discutir os acontecimentos de 98, devemos dar um passo atrás. Assim como quem vai tirar uma foto e se afasta um pouco em busca de perspectiva. Porque nada melhor para entender o presente que analisar o passado. Informática, sabem vocês, é um campo onde o desenvolvimento é vertiginoso. Pelo menos no que diz respeito ao hardware. Há alguns anos era assim também no que toca ao software. Programas inovadores surgiam do nada de um dia para outro e a toda hora pipocavam novas versões de sistemas operacionais. Os velhos micreiros lembram como eram as coisas na saudosa era do DOS: naqueles heróicos tempos d'antanho dificilmente se passava um ano sem que surgisse uma nova versão de sistema operacional. Que, aliás, havia em diversos sabores: o PC-DOS, da IBM, o DR-DOS, da Digital Research e o MS-DOS da Microsoft. Este último açambarcava a maior parte do mercado, mas sempre havia algum espaço para os demais. O DR-DOS, particularmente, tinha certas características inovadoras que assegurava a perpetuação de uma pequena mas aguerrida tribo de fiéis seguidores, formada principalmente por usuários avançados que sabiam reconhecer as vantagens que o sistema apresentava. Sua fatia de mercado oscilava perto dos dez porcento. No final dos anos 80 a MS lançou provavelmente a pior versão de seu sistema operacional: o MS-DOS 4.0. Numa época em que os programas cresciam até absorver toda a memória convencional que o DOS punha à sua disposição, o gerenciamento da memória do MS-DOS 4.0 era de dar pena. Uma tristeza. Pois, não por acaso, foi justamente essa a época escolhida pela Digital Research para lançar a mais revolucionária de todas as versões do DOS, o DR-DOS 5.0. Um DOS que apelava para recursos absolutamente inovadores e conseguia aproveitar cada byte livre de memória, recorrendo pela primeira vez aos blocos de memória superior (UMBs). Uma solução tão elegante e eficaz que em pouco tempo fez a fatia de mercado do DR-DOS saltar para perto dos 25%, ameaçando a hegemonia da Microsoft. Mas com a MS não se brinca. Quando ela sentiu a mordida em seus calcanhares, reagiu à altura: no início dos anos 90 liberou a melhor de todas as versões de seu DOS, o MS-DOS 5.0. Que não apenas usava todos os recursos que o DR-DOS havia descortinado para gerenciar memória como ia além, fornecendo utilitários e recursos adicionais. O MS-DOS 5.0 foi um sistema operacional compacto e eficiente que consolidou a liderança da MS no mercado. Uma prova que a MS, quando instada a fazê-lo, consegue desenvolver produtos de excelente qualidade. Percebeu? Notou a sutileza? Então leia novamente e descubra que a chave da questão é a expressão "quando instada a fazê-lo". Porque, afinal, o velho chavão "em time que está ganhando não se mexe" tem duas faces. Se o time ganha porque é muito superior aos adversários, melhor não mexer porque pode piorar. Mas se ganha porque os adversários não lhe fazem sombra (ou, pior, porque nem sequer tem adversários), não é necessário mexer nem mesmo para melhorar. Fazer força pra que, se não há com quem competir? Melhor deixar como está mesmo. Voltemos agora a 1998, o ano que ainda não acabou. Daqui a algum tempo, estudando os acontecimentos do passado, um historiador da informática pode ser levado a crer que o fato mais importante do ano no mercado do software foi o lançamento de Windows 98. Afinal, oficialmente a versão anterior era Windows 95 (tá bom, houve o OSR2, mas esse nada mais foi que um balão de ensaio para testar certas novidades de Windows 98), velha de três anos. Em outros tempos, considerando a rapidez com que as coisas evoluem nesse campo, três anos era o que bastava para explodirem inovações absolutamente revolucionárias. No entanto, quais foram as novidades? FAT32, um novo sistema de arquivos que já veio tarde para contornar uma ridícula limitação de tamanho de HD, suporte a novos dispositivos de hardware e algumas alterações cosméticas na interface. Ah, e correção de bugs. Em um artigo memorável na PC Computing de Setembro último, John Dvorak, o mais lúcido e independente dos colunistas de informática, dá conta que Windows 98 corrige três mil bugs de Windows 95. Segundo Dvorak, uma atualização cuja principal inovação é a maciça correção de bugs deveria ser distribuída gratuitamente, nunca vendida como nova versão. Não obstante, a MS a vende - e não vende barato. Mais um desdobramento da falta de concorrência. Que aumenta os preços, reduz as opções dos usuários e retarda a evolução por falta de estímulo para desenvolver coisas novas. Ao fim e ao cabo, não favorece a ninguém. Nem mesmo a quem detém a hegemonia do mercado, pois a qualidade de seus produtos cai inevitavelmente por falta de incentivo para desenvolver coisa melhor. Portanto não se espantem se a resenha dos principais acontecimentos de 98 se voltar mais para as novidades de hardware que de software. Uma mera consequência da encarniçada concorrência entre os fabricantes de hardware. B. Piropo |