Escritos
B. Piropo
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26/10/1998

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Quem acompanha esta coluna provavelmente lembra do Prix Möbius, o festival destinado a premiar os melhores trabalhos multimídia dedicados a educação, ciência e cultura. A etapa brasileira deste ano ocorreu em agosto no Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ e sua organizadora, Prof. Tamara Cohen, me honrou com o convite para participar do júri que selecionou os representantes brasileiros para a etapa mundial. Pois chegou a hora de torcer por eles: os concorrentes selecionados se apresentam hoje e amanhã na Cité des Sciences, em Paris. Quatro brasileiros concorrendo com os demais 28 participantes internacionais, representando 11 países. Cada um terá meia hora para convencer ao júri que merece ser um dos quatro títulos premiados. Que nossos compatriotas façam uma boa apresentação.

Falando do prêmio, impossível não lembrar o nível excelente dos trabalhos da etapa nacional, tantos dos escolhidos ou agraciados com menções honrosas quanto de alguns dos demais concorrentes - inclusive dos comentados nas Trilha Zero de 24 e 31 de agosto (e que podem ser encontradas na seção Escritos de minha página pessoal, em [http://www.bpiropo.com.br]). Na ocasião citei o trabalho "Avenida Três Vezes Paulista", de Sally Cristina Kim, que mereceu uma Menção Honrosa na categoria CD-ROM. Mas o comentário ficou nisso. E não há ocasião melhor que a realização da etapa mundial do Prêmio para estendê-lo, agora que recebi o CD-ROM e pude percorrê-lo com calma.

A única condição para que um trabalho concorra ao Prix Möbius é ser voltado à difusão de informações científicas ou culturais. Portanto há de tudo. E nesse universo multidisciplinar, o "Avenida Três Vezes Paulista" se destaca como único representante de sua categoria: é um trabalho de graduação do curso da FAUUSP. Aliás, um senhor trabalho de graduação.

O CD-ROM conta a história da Avenida Paulista desde antes de seu surgimento. De muito antes, na verdade, já que um dos tópicos é justamente uma breve história da cidade de São Paulo desde a fundação até a expansão para o Alto do Caaguaçu, onde a Avenida Paulista foi construída em 1890. Compreensivelmente, é o tópico menos ricamente ilustrado - não obstante um quadro de Jules Martin de 1981 que mostra uma Avenida Paulista cortando descampados de deixar perplexo quem conhece a de hoje. Os outros tópicos, enriquecidos com alguns vídeos e muitas fotos (além de um rico texto explicativo), são o Surgimento da Avenida, com a história de sua construção, a Linha do Tempo com os principais marcos de sua história, além da Avenida e do Mapa, os fulcros do trabalho: .

O tópico Avenida é o coração do CD-ROM. Divide a história da Avenida Paulista em três etapas: a "avenida uma vez paulista" do início do século e seus casarões, a "avenida duas vezes paulista" das décadas de transformação de trinta a sessenta e a "avenida três vezes paulista", a via cosmopolita de hoje em dia. A segunda descreve e ilustra o processo de transformação de uma via urbana residencial no maior centro financeiro da América Latina. Mas a primeira e terceira etapas, ambas soberbamente ilustradas, são o ponto alto do trabalho. Uma descreve a Avenida do início do século, as festas, os casarões e as famílias. Outra, a Avenida de hoje, seus marcos importantes, seus centros de lazer e cultura, explicando porque na década de seu centenário ela foi eleita pelo povo paulistano como símbolo da cidade.

O Mapa, finalmente, funciona como síntese do trabalho, detalhando os principais pontos de interesse. Na verdade são dois mapas. O primeiro retrata a avenida do início do século descrevendo 17 casarões, alguns ricamente ilustrados com detalhes de seu interior. O segundo mostra a avenida de hoje, com detalhes de onze marcos arquitetônicos importantes - entre os quais o Edifício da FIESP e o MASP.

O trabalho não é perfeito: por vezes texto e fundo se superpõem, tornando a leitura difícil e certos links "voltar" ao invés de levar ao ponto de onde se veio conduzem a uma das telas principais - nada que uma revisão cuidadosa não possa resolver. Afinal, trata-se de uma produção acadêmica, um simples trabalho de graduação (embora eu jamais tenha visto um "simples" trabalho de graduação com tanto conteúdo, tão bem acabado e que demandasse tanto esforço para produzir - a ponto de merecer menção honrosa na etapa nacional do Prix Möbius). E, como trabalho de graduação, esgota-se em si mesmo: feito e apresentado, temos conversado. Porém é uma pena que algo tão interessante, rico em informações, produzido com tanto amor e capricho, não chegue às mãos do público. Especialmente em se tratando de um trabalho sobre a Avenida Paulista, que abriga algumas das mais poderosas empresas do país. Empresas que todo final de ano gastam fortunas com brindes para seus clientes.

Pois bem: se este ano alguma delas quiser dar um brinde personalizado, absolutamente original, de bom gosto e, ainda por cima, com um forte conteúdo cultural, sugiro entrar em contato com a Arquiteta Sally Cristina Kim pelo e-mail [[email protected]].

B. Piropo