Escritos
B. Piropo
Anteriores:
< Trilha Zero >
Volte de onde veio
07/09/1998

< Como se Livrar do UOL >


O esquema é sempre o mesmo: o malandro se aproxima do otário oferecendo alguma vantagem, como um bilhete de loteria premiado que ele não sabe como receber ou um pacote de dinheiro a ser entregue em um endereço que ele não consegue encontrar. O incauto, por ganância ou ingenuidade, aceita a vantagem. E acaba levando prejuízo. Quando a coisa é feita por meios ilegais chama-se conto do vigário e dá cadeia. Quando o golpe é dado legalmente, explorando desconhecimento, ignorância, imprevidência ou ingenuidade da vítima, não dá cadeia, não tem nome, mas nem por isso é menos condenável.

Estas considerações me ocorreram quando soube da promoção do UOL, um CD com kit de acesso à Internet encartado na edição de 23 de agosto da revista "Veja" e cujas cópias avulsas podem ser adquiridas por um real. Oferece vantagens: você se inscreve, fornece o número de seu cartão de crédito, mas durante um mês não paga nada e tem direito a 50 horas de acesso. Decorrido este prazo, adquire automaticamente o status de assinante do UOL, com os custos usuais descontados mensalmente do cartão. Isto, porém, não é obrigatório: segundo consta do CD, "se não gostar, basta cancelar".

Como no caso do bilhete premiado, uma oferta quase irresistível. O que o CD não diz é que ao ser instalado provoca sorrateiramente quatro alterações não solicitadas na máquina: ajusta o acesso à rede através da página do UOL, substitui os ícones e o fundo da barra de ferramentas da janela do Internet Explorer, altera o papel de parede de Windows 95 e, se o incauto já for associado a outro provedor de acesso, remove o objeto da rede dial-up que dá acesso ao provedor antigo, substituindo-o por outro que permite acessar apenas o UOL. Estas alterações, que interessam apenas ao UOL, são feitas na máquina do usuário sem solicitação nem aviso. Dificultam, desnecessariamente, o ato de "se não gostar, basta cancelar" anunciado na capa do CD. Duas delas somente podem ser desfeitas editando o Registro de Windows, algo que a maioria dos leigos ou não sabe fazer ou tem (justo) receio de tentar. Quanto ao objeto que permite acesso ao provedor antigo, pode ser recriado, mas através de um procedimento que nem todo leigo está disposto a experimentar. O resultado prático é o mesmo que o de certos casamentos: a vítima pode até não ficar muito satisfeita com o novo parceiro, mas passa a aturálo por não saber como se desvencilhar dele ou por receio de enfrentar problemas mais sérios ao tentar se libertar. Semana passada, em sua coluna, Cora classificou o procedimento do UOL de "asqueroso". Eu ainda não encontrei termo mais apropriado. Ou melhor: encontrei, sim, mas não é publicável.

Porém o objetivo desta coluna não é comentar a atitude do UOL. Afinal, cada um procede de acordo com seus princípios éticos e eu não estou aqui para ensinar ninguém a agir direito. Por outro lado, não acho razoável deixar meus leitores amarrados a um provedor que usa meios tão discutíveis para angariar clientes, somente por não saberem como se livrar dele. Portanto, se você experimentou, não gostou e deseja desfazer as alterações feitas pelo kit UOL, vai aprender como fazer sua máquina voltar ao que era antes. Um procedimento que vale para qualquer kit de qualquer provedor que se meta a alterar características de sua máquina sem lhe pedir licença. Pois se tem um negócio que não dá para aturar é meterem a mão na minha máquina sem cerimônia, à minha revelia, e alterarem suas caracterísiticas sem aviso. Se bem que neste ponto, não há que reclamar apenas do UOL: há também que considerar a parte que cabe à Microsoft neste latifúndio. Afinal, um sistema operacional que permite a um programa fazer tamanha balbúrdia na máquina sem aviso, em matéria de segurança, francamente, deixa muito a desejar.

Como eu disse, para desfazer duas das alterações é preciso editar o Registro. Se você não sabe o que é o Registro e muito menos como editá-lo, leia a série de colunas que publiquei sobre o assunto de 14/04 a 16/06 do ano passado e que podem ser encontradas na seção Escritos/Anos Anteriores/Trilha Zero de minha página pessoal, em [http://www.bpiropo.com.br]. Consulte as colunas de 28/04 a 12/05, que descrevem o editor do registro e ensinam a usá-lo. E antes de qualquer alteração, crie uma cópia de segurança do Registro (se quiser, use o programa SRE, que também pode ser encontrado em minha página, na seção Opinião). Isto feito, mãos à obra.

Para "destravar" a página inicial, carregue o editor do Registro, procure pela chave [HKEY_USERS\Default\Software\Policies\Microsoft\Internet Explorer\ControlPanel], acesse o valor "HomePage" e mude-o de "1" para "0" (zero). E já que está com a mão na massa, aproveite para se ver livre dos ícones indesejados no Internet Explorer encontrando a chave [HKEY_ USERS\.Default\Software\Microsoft\Internet Explorer\Toolbar], localizando os valores "BrandBitmap", "SmBrandBitmap" e "BackBitmap" e simplesmente removendo-os (note que esta última alteração só é necessária se você usa o Intenet Explorer). Depois, feche o editor de registro e reinicialize o computador para que as mudanças surtam efeito.

Agora você já pode desfazer as demais alterações. Para mudar a página inicial, o procedimento depende de seu navegador. Se for o IE4, acione a opção "Opções da Internet" do menu "Editar" e, no grupo "Página Inicial" da aba "Geral", preencha a caixa de entrada de dados "Endereço" com o URL do sítio desejado (uma dica: se você entrar com "file://c:\windows\system\blank.htm" assim mesmo, mas sem aspas, o programa é carregado muito mais rapidamente, porém com uma página em branco). Se usa o Netscape 3, acesse a entrada "Preferências" do menu "Opções" e altere o campo "endereço da página inicial" da aba "Aparência" (na versão 4, acione a opção "Preferências" do menu "Editar" e altere o campo "Endereço"). O papel de parede pode ser alterado do modo convencional: clique com o botão direito do mouse em um ponto vazio da área de trabalho de Windows 95/98 para abrir o menu de contexto do vídeo e selecione a opção "Propriedades". Na janela "Propriedades do vídeo", vá para a aba "Segundo Plano" e selecione uma imagem na caixa "Papel de parede".

Isto feito, recrie o acesso ao provedor antigo: execute um clique duplo no objeto "Fazer nova conexão" da pasta "Rede dialup" que mora em "Meu Computador" e entre com os dados fornecidos pelo seu provedor.

Pois é isto. A partir deste ponto já vale o escrito na capa do CD do UOL: se não gostar, basta cancelar. Porque agora você já sabe como fazê-lo. Portanto, usou e não gostou, cancele.

Antes, porém, use suas 50 horas. Você tem direito a elas. Usufruí-las é a materialização do sonho do otário: tentar descontar o bilhete e descobrir que ele está de fato premiado. Ou abrir o "paco" e achar lá dentro um maço de dinheiro de verdade.

B. Piropo