Escritos
B. Piropo
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24/08/1998

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Ou minha capacidade de julgamento anda especialmente afiada ultimamente ou a dos demais envolvidos está um tanto embotada, mas o fato é que estou virando um jurado contumaz. Desta feita, por evidente excesso de confiança da Prof. Tamara Cohen em minha capacidade de discernimento, fui honrado com seu convite para participar do júri da edição brasileira do Prix Mobius que escolheu os representantes que concorrerão ao Festival Internacional de Multimídia em Paris dentro de dois meses (veja artigo na página 2).

A Prof. Tamara é a representante do Comitê da América Latina do Prix Mobius. Ela e sua equipe foram as responsáveis pela organização e montagem do evento. Um feito e tanto se considerarmos que a equipe é formada apenas por mais quatro denodados membros e o evento transcorreu nos conformes, muito bem organizado e sem falhas.

O júri deveria escolher um sítio e dois CD-ROMs. Não deu. A qualidade do material obrigou a estender a escolha para mais um sítio, além de conceder três menções honrosas. O júri, integrado por representantes da comunidade acadêmica e da imprensa (e conturbado por este que vos fala), teve um trabalho dos diabos para escolher os agraciados.

Para mim, participar do júri foi a melhor parte. Foi uma experiência única envolver-me em um processo onde, em um primeiro momento, evidenciou-se claramente uma divisão em duas vertentes quase opostas, formadas pelas opiniões dos elementos da imprensa e das Universidades, e prosseguir nas discussões até chegar a um consenso. Que acabou resultando em uma escolha equilibrada. Julgue você mesmo visitando os sítios da Ciência Hoje, em [http://www.ciencia.org.br], o preferido da comunidade acadêmica, e o do Caetano Veloso, em [http://www.caetanoveloso.com.br], ganhador disparado das preferências dos representantes da imprensa. No que toca aos CD-ROMs, a coisa não foi diferente: a preferência acadêmica recaiu sobre "Valetes em Slow Motion", de Kiko Goifman, um trabalho realizado no sistema carcerário de São Paulo sobre a relação conturbada dos presidiários com o tempo ("preso, quando não tem o que fazer, morde o dedo pra ver o sangue cair e passar tempo de cadeia"), enquanto os membros da imprensa preferiram o excelente "Circuito Mauá", um CD-ROM interessantíssimo sobre os bairros da região portuária do Rio de Janeiro.

Mas além dos premiados havia muita coisa boa. O pessoal da Ciclope, de Belo Horizonte, conseguiu o quase impossível: transformar um manual de uso de telefone celular em um produto atraente e bem humorado. A Tema Eventos Culturais mostrou um belíssimo trabalho sobre Castro Alves. A arquiteta Sally Cristina Kim apresentou um ótimo CD-ROM contando a história da Avenida Paulista, sobre o qual voltarei a falar aqui. Como falarei brevemente de outros concorrentes, como o trabalho da Ciclope sobre cidades históricas mineiras do ciclo do ouro e um bom produto da Ex-Nihil, o Encantando Volume I, sobre canções de ninar, serestas e cantigas de roda acompanhadas de animações de enorme criatividade. E até do Almanaque Abril, que também concorreu embora sem se enquadrar com precisão nos objetivos do concurso.

Agora, uma nota pessoal. Há algumas semanas D. Eulina sofreu um acidente doméstico que resultou em uma fratura do fêmur. Sendo ela jovem como é, apesar de seus oitenta e poucos anos, suportou o transtorno com altivez e coragem. Tanto que, apesar das complicações do pós-operatório que a mantiveram hospitalizada por quase vinte dias, está hoje em casa em acelerada recuperação. Já este seu filho, atribulado com os muitos compromissos assumidos e com os cuidados que tinha que prestar á mãe, enrolou-se todo. Alguns afazeres não puderam ser cumpridos, outros o foram mal ou pela metade. Aos leitores e amigos que enviaram mensagens com perguntas cujas respostas demandavam pesquisa ou consumiam tempo, não pude fazer mais que remeter um texto padrão expondo a situação e me desculpando por não poder atender. A maioria correspondeu com comovedoras mensagens de apoio que a falta de tempo me impediu de responder, às quais agradeço agora de público. E todos encararam a coisa com a esperada compreensão. Este nota tem, então, o objetivo de apresentar minhas desculpas àqueles a quem de uma forma ou de outra fiquei devendo alguma promessa por cumprir. E de agradecer a todos que ajudaram a atravessar o período atribulado. Aos que me ofereceram apoio e compreensão e à equipe do quinto andar da Beneficência Portuguêsa, cujo pessoal mostrou um desvelo e carinho com a paciente muito além das obrigações profissionais. Além de um agradecimento sincero, comovido e especial aos médicos Walter Barbosa e Ênio França, não apenas pela competência com que trataram D. Eulina mas sobretudo pela paciência com que suportaram este seu aflito filho. Obrigado e bola pra frente que, do jeito que as coisa correm, daqui a pouco D.Eulina estará pronta para pular corda.

B. Piropo