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17/08/1998
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Fiz a revisão desta coluna à bordo de um avião retornando do Infovia 98 (desta vez depois de uma breve participação, já que ultimamente minha vida anda um tanto atribulada e não me foi possível desfrutar por mais de dois dias das delícias deste Jardim do Éden). E ela foi iniciada ao som das ondas quebrando sob minha janela, a pouco mais de vinte metros deste surrado notebook, debaixo do sol maravilhoso de um dia perfeito neste paraíso que é Natal. Uma coluna que começa no paraíso e termina no céu merece, indiscutivelmente, a classificação de celestial. Leiam-na, portanto, com o devido respeito. Mesmo porque seu autor agora é um cara importante: membro honorário da Sucesu RN, título que, embora nada tendo feito para merecê-lo, muito o honrou. E que foi recebido com emoção e alegria ainda que sabendo ser devido muito mais à bondade dos amigos daqui que às virtudes desde humilde - mas agradecido - colunista. Amigo de Natal e da Sucesu RN, todos os que me conhecem sabem que sou há muito. A diferença é que agora o sou oficialmente: até tenho um diploma para prová-lo. Obrigado, meus irmãos potiguares. Durante o evento, este escrivinhador, Cora Rónai e Margarida Knobber, editora do Caderno de Informática da Tribuna do Norte, discutiram com a platéia as perspectivas da irrequieta indústria da informática. Uma tarefa ingente, pois como já disse aqui mesmo, fazer previsões é faina prenhe de riscos, principalmente se as previsões referem-se ao futuro. Apesar disto vou tentar resumir nesta coluna o que penso do assunto. Um pensamento que pode se reduzir a uma frase: a médio prazo, o computador tende a desaparecer. Não acredita? Pensa que o sol de Natal cozinhou meus miolos e que desta vez o Piropo pirou geral? Pois continue lendo que logo me dará razão. Ao lado do meu notebook repousa um singelo objeto, meu telefone celular que, longe da Telerj, até funciona. Olho para ele e o que vejo? Ora, um telefone, dirão os mais apressados. Mas será que é isso mesmo? Definitivamente não. Ali dentro há um sofisticadíssimo dispositivo de radiotelecomunicação controlado por um computador. Para desenvolver seu sistema operacional foram necessárias 1,2 milhão de linhas de código. Está tudo lá dentro, inclusive o computador. Só que eu mal tomo conhecimento dele e a maioria dos usuários de telefones celulares não tem a menor idéia que ele existe, não se preocupa com o programa que controla o dispositivo, não quer saber qual é seu sistema operacional nem quem o desenvolveu. Tudo o que querem é que funcione. Embora o usem constantemente, nenhum deles se considera um operador de computador. No entanto o computador está ali, apesar de ter desaparecido das vistas do público. E, com o devido respeito, o que me diz de sua mãe? Será que quando ela descongela no forno de microondas o filé que será vorazmente devorado pela família, se dá conta que é uma usuária de computador? Teria ela a noção de que, ao fazê-lo, está operando um computador? Provavelmente não. Mas é justamente o que ocorre. Porque quem controla a emissão de microondas é um sofisticado computador cuja interface com o usuário é um teclado e uma tela de cristal líquido - essencialmente a mesma deste notebook no qual digito estas mal traçadas. A diferença é que quando olho para meu notebook vejo um computador e quando olho para o forno de microondas, não. Mas ele está lá. Apenas desapareceu dentro do forno. Eu poderia continuar citando exemplos de computadores desaparecidos até me tornar cansativo. Poderia mencionar aquele que sumiu dentro de sua televisão. Ou o que foi engolido pela máquina leitora de códigos de barras do supermercado. Ou ainda o que dissolveu-se no quiosque que indica a localização das lojas no shopping center. Ou o que se aninha nas entranhas do caixa automático do banco 24 horas. Ou aquele que se esconde na caixa de controle da TV a cabo. Enfim: são dezenas, centenas de exemplos de computadores que, embora integrando nossas atividades diárias e usados corriqueiramente, passam despercebidos porque se disfarçam sob a inofensiva aparência de um eletrodoméstico ou de uma maquineta do tipo que "qualquer um pode usar". Todos são exemplos de computadores desaparecidos. E não pensem que são exemplos isolados. Na verdade, são indícios de uma tendência, especialmente agora, quando milhões são investidos em pesquisas sobre reconhecimento de voz para que dentro de alguns anos possamos conversar com nossos micros sem correr o risco de passar uma temporada em alguma casa de repouso. E quando pudermos nos entender com os computadores na base da conversa (e este dia está mais perto do que a maioria supõe), a tendência é que eles se disfarcem cada vez mais e percam de vez sua aparência atual. Ou seja: os computadores vão invadir de tal maneira nossa vida, disfarçados ou embutidos nos artefatos que usamos em nosso dia a dia, que se diluirão completamente no ambiente circundante, desaparecendo quase completamente de nossas vistas. E não vai demorar muito para que isto ocorra. B. Piropo |