Escritos
B. Piropo
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02/03/1998

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Seja por minha escassa paciência, seja por falta de espírito aventureiro, não sou daqueles audazes internautas que passam horas perdidas à deriva, vagando sem destino e descobrindo novidades na rede. Pelo contrário, freqüento a Internet na base do vapt-vupt, do toma lá, dá cá, do mata a cobra e mostra o pau: quero uma informação, vou até onde sei que posso encontrá-la, transfiro os dados para meu disco rígido e salto fora para ruminá-los em paz, desconectado. Quando muito me dou ao luxo de usar um dos dispositivos de busca que a rede oferece para enriquecer um pouco mais minha pesquisa. E olhe lá.

Mas de quando em vez abro uma exceção. E sempre por boas razões. Por exemplo: dia destes recebi do André Breitman, amigo excelente e não menos excelente guru de jogos, gráficos tridimensionais e artes afins, uma mensagem que era um primor de concisão: apenas um URL, [www.shockrave.com], e a recomendação: "Vale MUITO a pena ver!". Assim mesmo, com o "muito" em maiúsculas e ponto de exclamação no final. Como o André não é perder tempo com bobagem e dar ênfase ao que não merece, na primeira oportunidade que apareceu pintei por lá.

O sítio chama-se ShockRave e foi desenvolvido pela Macromedia para servir como demonstração de seus dois principais produtos: o ShockWave, um "add-in" que permite exibir vídeos e animações via Internet e, principalmente, o Director Multimidia Studio, um conjunto de programas para desenvolver aplicativos multimídia seja para uso independente, seja para integrar páginas da Internet. O ShockWave é um dos mais populares add-ins disponíveis (segundo a Macromidia, em cada semana do último janeiro 1,5 milhão de usuários o transferiram para suas máquinas, uma cifra assaz impressionante). Por sua vez o Director Studio, que já está na versão 6.02, é um conjunto de ferramentas para criar imagens bi e tridimensionais, desenvolver animações e incoporar som, integradas em um único ambiente de programação.

Fosse um simples sítio de demonstração de aplicativos, o interesse seria pequeno. Mas a Macromidia, inteligentemente, fez dele um centro de entretenimento de acesso gratuito onde, segundo suas próprias palavras, pode-se encontrar "a coleção mais quente de música, cartoons animados e jogos interativos". Se é ou não a mais quente, não sei e definitivamente não sou a pessoa mais indicada para julgar. Mas que é um sítio muito divertido, lá isso não resta a menor dúvida.

Os links principais são "games", "toons" e "music". Este último é o menos interessante. Primeiro, porque as opções do que ouvir são vastas, mas apesar de paradoxalmente agrupadas sob a denominação genérica de "música", quase que só há rock. Segundo porque, mesmo para quem acha que rock é música, a menos que se tenha uma conexão de altíssima taxa de transferência, o som chega tão entrecortado que é impossível apreciar o que se ouve.

Já o link "toons" é mais ameno e leva a uma página com o que se poderia chamar de "quadrinhos animados". Os mais conhecidos são Dilbert e Peanuts (a turma do Snoopy), mas dentre os demais há alguns bastante interessantes. Sugiro uma olhada nos cartoons "Johny Skank" e "Zen Cat Box", da opção "YukYuk", o primeiro para ter uma idéia do que se pode conseguir em matéria de interatividade com esta tecnologia e o segundo para ver como se pode fazer isto aliado a um humor finíssimo.

Mas o interessante mesmo está no link "games", onde pode-se escolher entre seis opções, "action", "arcade", "puzzles", "classic", "sports" e "toys". Em cada uma delas há um punhado de jogos, uns melhores, outros piores, todos inteligentes. São muitos e não tive tempo para testar todos, mas recomendo particularmente o "King Putt", um delicioso minigolfe encontrado na opção "sports". E, para quem gosta de pensar, uma volta na opção "puzzles" pode ser altamente gratificante. Começando pelo "Mudball Wall", que sob uma aparência meio besta esconde um interessante desafio lógico, e se estendendo até o "Crate Game" (deste, quem chegar ao nível dez ganha um doce). Sem falar no joguinho de paredão que aparece apenas para distrair o freguês enquanto alguns jogos são carregados. O sítio é um negócio tão absorvente que a mim, que não sou disso, fez navegar por mais de quatro horas.

Sugiro que você vá até lá mesmo que, como eu, não goste de jogos. Depois, aprecie ou não o que encontrou, pare um pouco para meditar. Porque a verdadeira razão de eu ter dedicado toda uma coluna ao ShockRage não foi seu conteúdo, suas músicas, seus cartoons, seus joguinhos. Foi o que se esconde por trás de tudo isto: sua tecnologia.

Porque é bom lembrar que a Internet é uma coisa nova, que ainda está engatinhando. Mas um dia aqueles aplicativos que levaram alguns minutos para pousar em sua máquina (sim, porque cada um daqueles jogos ou animações é um aplicativo independente transportado para seu micro via Internet) vai ser transferido em uma fração de segundo. E quando isto ocorrer, você tem idéia do que poderá significar para a publicidade, educação, informação, lazer e mais o que a criatividade humana possa engendrar?

Vai ser uma revolução tão grande que mal dá para avaliar...

B. Piropo