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23/02/1998
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De vez em quando aparecem na Internet alguns textos sem indicação de autor com observações bem humoradas sobre um tema qualquer. Raramente os incluo aqui porque dificilmente têm algo a ver com os assuntos costumeiramente tratados nestas mal traçadas. Mas recentemente recebi dois textos que espelham tão exemplarmente o que ocorre com nossas máquinas nestes tempos pós-windows que decidi abrir uma exceção e compartilhá-los com vocês. O que lerão adiante, portanto, é uma adaptação livre destes textos, ambos de autor desconhecido . O primeiro simula uma ligação para um serviço de suporte usando uma parábola que relata um hipotético telefonema de um cavalheiro à polícia de Bruxelas para registrar uma queixa. O texto não esclarece quem teria sido o cavalheiro em questão, mas ganha um prêmio quem não conseguir identificá-lo. A coisa passa-se mais ou menos assim: - Eu queria registrar uma agressão. Fui atingido por uma torta na cara. - Pois não. O senhor já recorreu à polícia de Bruxelas anteriormente? - Não. - Neste caso terá que responder a algumas perguntas para atualizar nosso cadastro. Depois de quinze minutos de troca de dados, a conversa prossegue: - Bem, qual é sua reclamação? - Eu me encaminhava para uma reunião com o Primeiro Ministro da Bélgica quando jogaram uma torta em minha cara. - Compreendo. O senhor já visitou anteriormente o Primeiro Ministro da Bélgica? - Sim. Mais de uma vez. - Em alguma dessas ocasiões o senhor foi atingido por alguma torta? - Não, de forma alguma! - Por acaso o senhor teria visitado outros primeiro ministros recentemente? - Sim. - E recebeu alguma torta em qualquer destas visitas? - Mas claro que não! - Compreenda que estamos apenas tentando determinar as circunstâncias em que ocorreu o incidente. Vamos simular uma situação semelhante: por favor, saia do prédio onde o senhor se encontra agora e depois volte ao aparelho. Eu aguardo... Alguns minutos depois o queixoso volta ao telefone: - Pronto, estou de volta. - Enquanto entrava no prédio, alguma torta o atingiu? - Mas é evidente que não! - Bem, apesar do senhor não nos ter fornecido dados suficientes para determinar as causas da ocorrência da primeira torta, tudo indica que agora as coisas estão correndo sem anormalidades. De qualquer maneira seu caso será registrado e o senhor receberá o número do registro. Se porventura o problema voltar a ocorrer, por favor anote detalhadamente as circunstâncias e volte a nos telefonar, citando o número de registro. Obrigado por ligar para a polícia de Bruxelas. O segundo texto se refere ao clássico paralelo entre a evolução das indústrias automobilística e de informática segundo o qual, caso aquela houvesse evoluído no mesmo ritmo desta, produziria carros custando menos de mil dólares, capazes de chegar de zero a cem quilômetros por hora em cinco segundos e rodar centenas de quilômetros com um litro de gasolina. O texto contém os comentários hipotéticos de uma grande montadora sobre o tema. Segundo ela, se a indústria automobilística de fato empregasse a mesma tecnologia usada para desenvolver nossos micros e seus sistemas operacionais, seus carros seriam realmente eficientes e baratos. Mas teriam ainda as seguintes características adicionais: - O carro funcionaria bem durante a maior parte do tempo. Mas ocasionalmente, e sem nenhum aviso prévio ou razão aparente, o motor morreria com o veículo em movimento. Na maioria das vezes bastaria desligar a chave e dar nova partida para tudo voltar ao normal. Os proprietários aceitariam o fato como natural e nem se dariam ao trabalho de reclamar com a concessionária; - Ocasionalmente, durante a execução de uma manobra complicada, o carro falharia e o motor morreria inapelavelmente. Não haveria maneira de fazer o veículo voltar a funcionar satisfatoriamente exceto reinstalando o motor. Este fato também seria considerado natural pelos proprietários, apesar do enorme trabalho que teriam para executar a reinstalação; - Sempre que os responsáveis pela manutenção das rodovias pintassem novas faixas divisórias das pistas, seria preciso trocar o carro por um modelo novo; - Haveria uma montadora que adotaria o nome de uma maçã e fabricaria um carro mais caro, porém movido a energia solar, confiável, muito mais rápido e fácil de dirigir que qualquer modelo de outra marca. Mas somente poderia rodar em cinco porcento das estradas e não poderia transportar a maioria de seus amigos. Os proprietários, no entanto, poderiam comprar um kit de adaptação que daria a seus veículos as mesmas características dos concorrentes, porém rodando duas vezes mais devagar que eles; - Sistemas de proteção tipo airbag seriam equipamento padrão. Mas somente entrariam em ação depois que o usuário confirmasse, apertando um botão em resposta à mensagem "Airbag pronto para disparar. Tem certeza que é necessário?" que piscaria no painel em caso de acidente; - Os assentos não seriam ajustáveis. Mas seriam muito confortáveis desde que os passageiros tivessem a bunda do tamanho correspondente à do americano médio padrão, sabidamente um bundão. B. Piropo |