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16/02/1998
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Às vezes a gente olha assim para um casal e vê logo que foram feitos um para o outro. Se interessam pelas mesmas coisas, freqüentam os mesmos ambientes, têm os mesmos amigos, são tão parecidos. E para tornar as coisas ainda mais perfeitas, nos campos onde um deles não se sente à vontade o outro brilha, complementando as qualidades. Tomem como exemplo Cyrix e National. Há muito embalavam um sonho em comum: o "system on a chip", um circuito integrado englobando toda a eletrônica de um computador. A National brilhava na tecnologia analógica, principalmente nas telecomunicações. Mas, versátil, freqüentava com desenvoltura os salões digitais, onde era conhecida sobretudo pelas controladoras Super I/O. Já a Cyrix, como convém, era mais contida e se destacava apenas na produção de CPUs. Ela não tinha fábricas: seus chips eram produzidos nas instalações industriais de outras empresas, como a IBM. Já a National detinha o controle absoluto de toda sua linha, desde a concepção até a distribuição. Não era, portanto, de estranhar que o namoro acabasse em casamento. Concretizado em meados do ano passado, quando foi anunciada a compra da Cyrix pela National Semiconductors pela bagatela de 550 milhões de dólares. Agora a Cyrix conta com as fábricas e toda a infra-estrutura mundial da National para manufaturar, distribuir e comercializar seus produtos e a National, finalmente, pode produzir a única peça que faltava em sua estratégia para criar o computador em um chip. Sendo assim não surpreende que o casamento esteja envolto em felicidade. Tanto que semana passada os nubentes interromperam a lua de mel para receber em um agradável almoço os amigos da imprensa, dentre os quais este escriba que vos fala. Onde, como sói ocorrer em este tipo de tertúlia, o casal discorreu tanto sobre os sucessos individuais do passado quanto sobre os planos comuns para o futuro. A Cyrix lembrou com indisfarçável orgulho o sucesso de sua estratégia de se abster de disputar com a Intel o mercado das máquinas topo de linha e centrar seus esforços na produção de micros que, embora capazes de rodar o estado da arte em software, possam ser vendidos por menos de mil dólares. Uma estratégia tão bem sucedida que no final do ano passado abocanhou 40% do mercado americano de PCs. Graças, principalmente, ao microprocessador MediaGX, uma CPU que traz dentro de si todas as funções de controle de vídeo e áudio, uma interface PCI e controlador da memória. Ou seja: com um chip destes não se precisa de placas de som e de vídeo e o chipset da placa-mãe dispensa as controladoras PCI e de memória. O resultado é uma redução de custo brutal, que levou a National a ganhar a concorrência para fornecimento de urnas eletrônicas para as eleições desta ano com máquinas MediaGX a um custo tão baixo que permitiu, com o mesmo orçamento, aumentar o número de urnas de 67 mil para 89 mil, estendendo o benefício do voto eletrônico para mais alguns milhões de patrícios. Quanto à National, enfatizou seu firme propósito de buscar cada vez maior integração entre os componentes. Seu objetivo é produzir um circuito único contendo, além da CPU, os dispositivos de gerenciamento de energia, lógica de sistema, áudio, vídeo, controladora super I/O, controle térmico, decodificador MPEG, portas USB e IEEE 1934 ("Fire Wire"), BIOS, controladora de rede e modem. Um chip com tamanho nível de integração não apenas contribuirá para uma enorme redução de custos como possibilitará a miniaturização ainda maior de determinados dispositivos, especialmente unidades móveis e embarcadas. Com ele, a eletrônica presente em nossos automóveis sofrerá uma brutal evolução. E poderemos dentro de algum tempo sacar do bolso uma unidade portátil com tela colorida em matriz ativa que nos dará acesso a música e vídeo via DVD, televisão, Internet e mais o que se possa imaginar. Ou telefones celulares com vídeo para teleconferências. Tudo isto a custos irrisórios pelos padrões atuais. A National estima que o mercado para "computadores de um chip", que inclui este tipo de dispositivos, em breve atinja a casa dos 800 milhões de unidades anuais. O almoço da semana passada tinha por objetivo participar os planos da empresa para o Brasil. Que são ambiciosos: aumentar o mercado de unidades eletrônicas (que incluem desde PCs de baixo custo até urnas eletrônicas e terminais de ponto de venda) de menos de três milhões para 30 milhões anuais nos próximos três a cinco anos. Para alcançar esta meta, ela aposta em um micro completo, capaz de acessar a internet, incluindo vídeo, áudio, multimídia e tudo o que tem direito (mas sem incluir memória RAM) que será vendido no Brasil por menos de 300 dólares. Uma pechincha. Que os planos da National incluem o Brasil, não há dúvida. No almoço, John Phelps, o simpático Vice-Presidente para a América do Sul, que já mora no Brasil há dois anos e fala português fluente, deixou escapar que seu herdeiro, brasileiro, está sendo esperado para os próximos dias. E que ele está aceitando sugestões de nomes "que possam ser usados no Brasil e nos EUA". Se for menina, sugeri Linda. B. Piropo |