Escritos
B. Piropo
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05/01/1998

< Device Bay >


Tradicionalmente, na transição entre o ano que finda e o que nasce, perscruta-se o futuro e faz-se previsões. Há pouco mais de ano, nesta época, previ que o padrão USB invadiria o mercado ainda em 97. Errei no tempo, mas não na substância: embora pouco se tenha ouvido falar dele, o padrão efetivamente vingou e os primeiros periféricos USB começarão a pipocar este ano. O que me alenta a perpetrar mais um exercício de futurologia e discutir outro padrão que, como o USB, pretende facilitar nossa vida. E muito.

Trata-se do Device Bay, cujo nome pode ser traduzido como "bacia de dispositivo" e não passa de um "buraco" de dimensões padronizadas, situado em uma das faces do gabinete do micro, no qual encaixa-se qualquer dispositivo aderente ao padrão. Como o padrão será aberto, prevê-se que nos device bays enfiar-se-ão desde discos rígidos até modems, passando por drives de CD-ROM, DVD, adaptadores de rede, leitores de "smart cards", sintonizadores para rádio ou TV e qualquer outro dispositivo que utilize uma das interfaces suportadas pelo padrão: a porta serial convencional ou as novas interfaces que obedeçam aos padrões USB ou o novo IEEE 1394 High Performance Serial Bus, a porta serial de alto desempenho também conhecida como "FireWire".

Quem conhece os encaixes nos quais podem ser inseridos discos rígidos removíveis deve estar dando de ombros e perguntando "e daí, qual é a novidade?". Pelo menos até tomar conhecimento de duas peculiaridades do padrão device bay: a primeira é que os dispositivos poderão ser encaixados e desencaixados "a quente", sem precisar desligar o micro ou dar novo boot para serem reconhecidos. A segunda é que eles obrigatoriamente aderirão as especificações Plug and Play e serão intercambiáveis. Resultado: acabou de acessar a Internet e deseja se distrair? Pois arranque o modem do device bay, enfie em seu lugar o drive DVD e curta um filme. Tanto o sistema operacional quanto o chipset da placa-mãe (que, obrigatoriamente, devem suportar o padrão) reconhecerão o novo periférico e se ajustarão de acordo.

Neste ponto, por certo um sinal de alerta se acendeu e uma pergunta assaltou sua mente: estarão os fabricantes de hardware e os desenvolvedores de chipsets e sistemas operacionais dispostos a contribuir para o sucesso do padrão com sua imprescindível adesão? Não se preocupe: quem tomou a frente e propôs o novo padrão foi a poderosa trinca formada pela Intel, que dita as regras do mercado de chipsets, Microsoft, que faz o mesmo na liça dos sistemas operacionais e Compaq, um dos maiores fabricantes de micros. O resultado foram dezenas de adesões, incluindo peso-pesados como IBM, Adaptec, Toshiba, Maxtor, Seagate, Texas Instrument e Digital Corporation.

O padrão prevê "buracos" de três tamanhos para encaixar dispositivos. No maior (32mm x 146mm x 178mm) cabem periféricos mais ou menos do porte de uma fita de vídeo e foi idealizado para micros de mesa. O menor (13mm x 130mm x 141,5mm) foi concebido para notebooks. E tanto estes quanto o intermediário (20mm x 130mm x 141,5mm) usam o mesmo conector, a mesma "pinagem" e as mesmas definições elétricas. Se está interessado em mais detalhes, consulte [http://www.device-bay.org].

Aparentemente todo o mundo leva vantagem com a adoção do padrão. Os maiores beneficiados serão os usuários, seja pela simplicidade de uso, seja pela possibilidade de reduzir o investimento inicial comprando um sistema simples e acrescentando dispositivos na medida que a grana pintar. Sem falar na facilidade para fazer "upgrade" de periféricos. Às revendas, agrada a possibilidade de montar em minutos um sistema exatamente ao gosto do freguês, tanto no que toca a hardware quanto a software, mantendo um estoque de discos rígidos com diferentes sistemas operacionais e suites de aplicativos e encaixando na hora aquele que contém a configuração escolhida pelo cliente. E às indústrias atrai a idéia de produzir uma linha básica de micros, criando modelos mais sofisticados simplesmente acrescentando dispositivos nos device bays.

Mas nem tudo são flores. Há pendengas que podem atrasar, se não impedir de vez a adoção do padrão. Algumas criadas pelos fabricantes de notebooks, que relutam em implementar em seus modelos as alterações de formato, peso, tamanho e consumo de energia exigidas pelo padrão. Porém, relata Ephraim Schwartz na Infoworld Eletronics de 11/08/97 [http://www.pcworld.com/news/daily/data/0897/970811143428.html] que membros do comitê que desenvolve o padrão (e que não quiseram se identificar) afirmam que as maiores dificuldades provêm das pressões exercidas sobre a Intel por grandes fabricantes, como Dell e Gateway, alegando que a facilidade da montagem de sistemas de baixo custo exatamente de acordo com o gosto do freguês irá fazer com que as revendas independentes roubem-lhes uma apreciável fatia do mercado.

Como a coisa irá evoluir, não sei. Mas estou torcendo que, não obstante as pressões em contrário, este padrão vingue. E mais depressa que o USB.

B. Piropo