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22/12/1997
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Este ano fui um menino bonzinho. Meus pecados foram quase todos veniais e gravitaram principalmente em torno da gula e da luxúria (embora, infelizmente, estes últimos tenham se restringido mais ao estéril domínio do pensamento que ao mais desfrutável campo das ações). Por isto me atrevo a enviar minha lista de Natal, uma lista modesta que não inclui bens materiais, apenas desejos. Espero que você me ache merecedor e atenda, senão a todos, pelo menos à maioria deles. Neste Natal eu desejo: - que os programas instalados nesta sofrida máquina que vos fala sejam capazes de, quando não mais necessários, dela se evadirem sem deixar rastros, ícones, atalhos, DLLs ou traços no Registro, liberando todo o espaço no disco rígido que ocuparam ao se instalar sem, com sua saída, aleijar irrecuperavelmente o sistema operacional; - que a Telerj funcione; - que a indústria da informática pare de se submeter aos caprichos e imposições do lobby do entretenimento e, finalmente, lance os discos DVD regraváveis; - que haja menos conflitos de hardware na minha máquina e nas máquinas de meus amigos que baixam nestas plagas para serem revistas, atualizadas ou configuradas (eu sei que existe o Plug and Play e cheguei mesmo a pensar em incluir na lista o desejo de que ele um dia viesse de fato a funcionar, mas refreei meu ânimo quando me dei conta que esta é uma lista de presentes; milagre é com o outro departamento); - que seja lançado um XTree que aceite nomes longos e funcione perfeitamente em qualquer sistema operacional (aviso aos potenciais reclamantes: 1) a lista é minha e eu enfio nela o que quiser, inclusive itens que visem apenas atender aos reclamos de minha nostalgia e 2) o ZTree não serve porque não chega nem perto do velho XTree); - que os mentecaptos se abstenham de se aproveitar da mídia falada, impressa e televisiva só para aparecer, discutindo coisas de que não entendem e assustando os leigos com as terríveis ameaças ocultas por trás da Internet, tais como dependência, vício incurável, divulgação de sexo, jogo virtual e crimes de qualquer natureza, já que tudo isto existe desde a aurora dos tempos e continuará existindo por todo o sempre, com ou sem computador e Internet, enquanto a natureza humana for do jeito que é e existirem idiotas capazes de explorá-la e palermas capazes de vociferar contra o meio usado para disseminar o mal e não contra o próprio mal que é disseminado; - que os missivistas que me enviam mensagens via correio eletrônico aprendam a inserir seu nome no campo do remetente fazendo com que eu não mais receba mensagens de um certo User Not Specified; que passem a assinar as mensagens com o nome ao invés do login, evitando que eu tenha que dirigir a resposta a "acxvs" ou "pqpsilva"; que não me enviem com cada mensagem sua inútil cópia em formato HTML; e que parem de anexar arquivos não solicitados de qualquer natureza, pois por questões de segurança eu jamais os abro venham de onde vierem e portanto só servem para encher indevidamente minha já obesa caixa postal e sobrecarregar a rede; - que as páginas da Internet tenham menos música e animações, substituindo o barulho e movimento por conteúdo; - que inventem uma bateria para meu notebook com carga para pelo menos doze horas e que as companhias aéreas nacionais me deixem desfrutar dela durante o vôo como fazem as internacionais, onde o uso do computador somente é proibido 15 minutos depois da decolagem e antes do pouso, já que se os computadores permanecem ligados e não derrubam os aviões lá fora é altamente improvável que o façam aqui; - que parem de me encher o saco com artigos, palestras, conferências, seminários, congressos, reuniões e discussões sobre o bug do ano 2000; - que parem de me encher o saco com mensagens informando que surgiu mais um vírus que fará minha máquina pendurar, congelar, explodir, travar ou desmaiar assim que eu abrir uma mensagem intitulada Irina, GoodTimes ou seja lá qual for o nome que o imbecil que começou a corrente inventou para ela; - que parem de me encher o saco descrevendo as supremas vantagens de coisas que têm "virtual" no nome, como realidade virtual, escritório virtual, sexo virtual e afins; - que parem de me encher o saco sempre que chamo sítio de sítio; - que parem de me encher o saco. É só. Confesso que estive a ponto de incluir na lista o desejo de dispor de um sistema operacional estável e de um paginador honesto para surfar na rede. Soube que há alguma esperança, já que a Sun planeja portar seu sistema para os microprocessadores da Intel e investir pesado no padrão Java, criando uma concorrência benéfica para todos, principalmente para nós, usuários. Mas desisti. Porque afinal, meu caro Papai Noel, do jeito que as coisas andam, acredito mais em você que na possibilidade de pôr a mão em um sistema operacional decente para a linha PC ainda em 98. B. Piropo |