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03/11/1997
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Afinal, instalei o Internet Explorer 4. Fi-lo não porque qui-lo, mas por obrigação: eu precisava conhecer o bicho. Além do que, não agüentava mais o ar de espanto (quem responde a mais de 40 mensagens de correio eletrônico diariamente acaba por desenvolver uma certa habilidade para perceber o "ar" de cada uma) que infalivelmente notava quando leitores que a mim recorriam, aflitos com os problemas que pipocavam em suas máquinas após a instalação do indigitado programa, tomavam conhecimento que eu não o havia instalado. Portanto, há dois dias e muito à contragosto, rendi-me ao inevitável, relaxei e introduzi o IE4 (em minha máquina, bem entendido). E, em se tratando de máquina virgem de betas e similares, foi uma experiência previsivelmente dolorosa. O programa foi instalado a partir do CD-ROM. Fiz a instalação mais simples. Não habilitei o desktop ativo porque sei que é aí que mora (o maior) perigo. Instalei o IE4 em português sobre Windows em português como manda o figurino. Em suma: tomei todos os cuidados que os mestres, sábios, gurus e experts recomendam. O resultado? Bem, o mínimo que posso dizer sobre o estado de meu pobre micro após esta dorida experiência é que, se um gato cheirar, enterra. O IE4 demonstrou uma imensa má vontade com quase tudo que roda em minha máquina. O GetRight, coitado, era tão regularmente expulso de campo a golpes de GPF que acabei removendo-o do ritual de inicialização, decidindo carregá-lo somente quando dele necessitar (e ainda sim, não sei como se comportará, já que ainda não arrisquei baixar arquivo algum desde então). O ClipMate e o monitor do Clean Sweep também levaram suas porradas e se refugiaram escabriadíssimos em seu canto, já que volta e meia, sem mais aquela, são postos pra correr. E até mesmo alguns programas da própria MS demonstraram incompatibilidade. Lamentavelmente, dentre eles o mais usado: a barra de atalhos do Office. Que ou desaparece, ou gera uma GPF e tem que ser fechada. Sem falar no próprio Windows, que de quando em vez dá um pau medonho e trava tudo. Ou, agregando escárnio à ofensa, exibe a indefectível e temida (porém educadíssima) mensagem em tela azul: "o programa executou uma operação ilegal e será fechado, blá, blá, blá..." dando a impressão que, após fechado o mequetrefe, tudo passará a transcorrer normalmente e o prejuízo será pequeno. Só que, no caso, o delinqüente é o próprio Windows... Trocando em miúdos: pelo que pude perceber em dois dias de uso, o IE 4.0 é um programa revolucionário que incorpora recursos extraordinários, é extremamente funcional, fácil de usar, representa sem dúvida alguma um notável progresso e sua inclusão será obrigatória em qualquer máquina que rode uma versão de 32 bits de Windows - assim que ficar pronto. O problema é que para isto ainda falta muito. No estágio em que está, mais parece uma versão beta 1.x de um programa sério. O que nos leva a uma reflexão mais profunda sobre a situação atual do mercado. Porque há alguns anos o lançamento comercial de um programa neste estágio de desenvolvimento liquidaria uma softhouse. Gigantes caíram por muito menos. Quem tem mais de dez anos de estrada e usava micro na época em que havia concorrência, lembra do que ocorreu com o DBase IV - para ficar só em um exemplo. Então, como pode Mr. Gates se dar ao luxo de liberar a versão final de um produto tão instável e infestado de bugs e continuar achando que é o rei da cocada preta? Fácil: porque não tem concorrência. E não me venham de lá com o Netscape, que o papo está um nível acima: não se trata de discutir um paginador ("browser", para os que preferem em inglês), mas um sistema operacional. Ou alguém tem dúvidas que a forma pela qual o IE4 se entrelaça com Windows não o incorpora ao sistema? Se ele não é uma extensão do sistema operacional então porque, para rodar no NT, exige a instalação de um imenso remendo? ("fix", para os que preferem em inglês) E porque "briga" com quase todos os programas de minha máquina, transformando-a naquela m? ("shit" para os que preferem em inglês - a ausência da vírgula é intencional). Na verdade, tanto o IE4 como o OSR2 não passam de balões de ensaio para Windows 98, a próxima versão de Windows a ser lançada ano que vem. Na qual o paginador se integra de tal forma ao sistema operacional que se confunde com ele. De fato, OSR2 mais IE4, juntos, são uma espécie de versão beta de Windows 98. Uma versão beta que será debugada usando as informações de dezenas de milhões de usuários espalhados por todo o mundo. Coisas de um mercado onde não há concorrência. E antes que venham dizer que eu tenho má vontade com a MS: na minha opinião pessoal, ela está certíssima. Em iguais circunstâncias, qualquer outra empresa faria o mesmo. Ela apenas explora a contingência de deter o monopólio virtual dos sistemas operacionais para micros da linha PC, situação que alcançou com alguma competência técnica e extraordinária competência comercial. E se, em virtude disto, ela pode liberar um produto tão imperfeito, a "culpa", se é que se pode usar esta palavra, não é dela. A culpa é do mercado. Quer dizer: nossa... B. Piropo |