Escritos
B. Piropo
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14/04/1997

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Windows 3, e sobretudo sua última versão antes do Windows 95, a chamada "Windows 3.11 para Grupos de Trabalho", foi um excelente laboratório para a equipe de programadores da Microsoft empenhada no desenvolvimento do Windows 95. Um mundo de aperfeiçoamentos foram lá experimentados antes de serem incorporados ao novo sistema. Entre eles, o sistema de arquivos e o Registro.

A idéia que levou a usar o Registro era implementar uma forma mais "limpa" de armazenar e administrar as informações sobre a configuração do sistema e dos programas, facilitando a vida do usuário e superando as limitações dos arquivos Ini. Idéia que foi materializada com a absorção por Windows 95 do conceito de "Registro" já usado em Windows 3: um banco de dados central com todas as informações sobre o sistema, os programas e até algo não cogitado em Windows 3.x, sobre eventuais diferentes usuários da mesma máquina, permitindo a cada um ajustar suas preferências pessoais sem incomodar aos demais.

A importância do Registro pode ser melhor avaliada quando se percebe que os inconvenientes dos arquivos Ini não se restringiam à sua proliferação descontrolada no disco rígido do usuário mas se estendiam ainda a outras restrições particularmente inconvenientes para implementação em um sistema operacional mais complexo como Windows 95. Por exemplo, o tamanho máximo: nenhum arquivo Ini poderia ser maior que 64K, um limite absolutamente intolerável para os desenvolvedores de Windows 95 (agora mesmo acabei de dar uma espiada nos dois principais arquivos que formam o Registro e guardam os dados de configuração desta máquina que vos fala + e que serão destrinchados no devido tempo, portanto não se aflija por eu não ter citado seus nomes + e constatei que um deles excede os 300K e o outro passa de mega e meio).

Porém havia ainda mais. A estrutura dos arquivos Ini era extremamente limitada do ponto de vista da hierarquia: no máximo, podiam ser divididos em seções que continham variáveis e seus valores. A complexidade de Windows 95 exigia um sistema mais flexível com uma hierarquia bem estabelecida. Algo semelhante ao organograma de uma empresa com suas diretorias, serviços e seções, permitindo agrupar as variáveis de uma forma mais consistente e lógica. O Registro implanta essa concepção com sua divisão em classes e sub-classes que pode se estender indefinidamente, expandindo-se em ramos tanto quanto necessário. Muitas dessas classes e variáveis são padronizadas e usadas por diversos aplicativos, permitindo assim que os programas se entendam melhor entre si e com o sistema operacional.

E, finalmente, há dois pontos que nem sequer foram cogitados nas versões anteriores de Windows, uma interface gráfica que rodava "em cima" do DOS e concebida para ser usada por um único "dono" em uma máquina isolada. O primeiro, já mencionado de passagem lá em cima, era o fato dos arquivos Ini não comportarem qualquer possibilidade de considerar diversas configurações que suportassem preferências distintas de diferentes usuários. O segundo era a impossibilidade de alterar a configuração remotamente, ou seja, a partir de outra máquina ligada à primeira através de uma rede. Dois inconvenientes intoleráveis para Windows 95, concebido desde o nascedouro para ser usado em rede e por mais de um usuário.

Para contornar o primeiro inconveniente, o Registro de Windows 95 considera a possibilidade de haver mais de um usuário com acesso à mesma máquina, com diferentes preferências pessoais em relação a itens como cores, papéis de parede, velocidade de deslocamento do cursor do mouse, tipos de cursores, espaçamento entre ícones e até dados específicos como idioma e configurações regionais. E para contornar o segundo incorporou a possibilidade de o administrador de sistema alterar remotamente as configurações de cada máquina (e portanto os dados de seus Registros) de tal forma que todas elas obedeçam a determinadas diretrizes gerais e orientação ("policy") estabelecidas pelo administrador. Os dados sobre estas diretrizes são armazenados em uma máquina (servidor) central e incorporados ao Registro da máquina de cada usuário toda a vez que ele se conectar à rede (ou efetuar o "login").

E finalmente, para arrematar a coisa toda e botar ordem na casa, as informações sobre o Registro são armazenadas em arquivos codificados, que não podem ser modificados à vontade pelo usuário. Para alterá-los, é preciso usar programas especiais, como o Editor de Registro, que o fazem obedecendo a regras predeterminadas.

Uma idéia excelente, destinada a varrer para todo o sempre todos os demais arquivos de configuração do disco rígido dos usuários de Windows 95.

Que, infelizmente, ao menos sob este aspecto, não funcionou. Pelas razões que discutiremos semana que vem.

B. Piropo