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27/01/1997
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Esta semana recebi meu último exemplar de assinante da revista OS/2 Magazine. O que me fez lembrar de uma previsão que fiz nos idos de 1993. Em um belo dia daquele ano, chegando à redação, esperava-me a cópia beta do OS/2 2.0. Instalei-a e fiquei encantado. Era um sistema operacional robusto, com uma interface amigável, capaz de rodar tanto seus próprios aplicativos quanto os programas DOS e Windows e dotado de uma invejável multitarefa. Apaixonei-me tanto que escrevi o primeiro livro em português sobre o OS/2. O sistema era tão bom, sua versão final tão estável e o empenho da IBM em divulgá-lo tão intenso que previ para ele um brilhante futuro, achando que fosse capaz de concorrer com os produtos da Microsoft, dividindo o mercado e impedindo um monopólio que então se desenhava. Ideal para os usuários, que se beneficiariam da evolução tecnológica e menores preços gerados pela concorrência. Era só esperar até que as softhouses começassem a desovar aplicativos que aproveitassem as magníficas características do novo sistema. Entrou 1994 e continuei esperando. É verdade que a imprensa especializada não ajudou. Com raras exceções, abria mais espaço para os sistemas que a MS ainda não lançara que para o OS/2 que estava rodando embaixo de seu nariz. Mas pior foi a incerteza e dubiedade da própria IBM em relação OS/2. Distintos porta-vozes relatavam planos completamente diferentes, muitos dos quais eram abortados nunca mais se voltava a falar neles. Quase não houve incentivo às softhouses, que não viam razão para desenvolver aplicativos para o OS/2, particularmente depois da rumorosa desistência da WordPerfect de migrar seu editor de textos para o sistema da IBM. Sem programas, a coisa ficava difícil: ninguém compra um sistema operacional para rodar o sistema operacional, compra-se um sistema operacional para rodar programas. E se era para rodar programas Windows, por quecomprar o OS/2? Melhor comprar Windows mesmo. No início de 95, com o OS/2 3.0 no mercado, só se falava no Windows 95 que ainda não fora lançado. Os fabricantes de hardware, por sua vez, ignoravam o OS/2 e não desenvolviam drivers para seus dispositivos. E quando havia, o driver raramente vinha na caixa: tinha de ser solicitado separadamente. Em agosto de 95, quando Windows 95 foi lançado e pôde afinal ser comparado com o OS/2, suas debilidades ficaram evidentes. Tecnicamente era tão inferior que bastava um pequeno empurrão para fazer soar a hora e a vez do OS/2. E justamente então, quando se esperava uma campanha retumbante, jorrou da IBM uma ensurdecedora onda de silêncio. Foi então que desisti. Mesmo reconhecendo a superioridade do OS/2, passei a usar o Windows 95 que havia instalado alguns meses antes para teste. Pois naquele momento percebi que o OS/2 transformar-se-ia em um nicho. Windows, seja NT ou 95, iria dominar o mercado avassaladoramente. E eu não poderia deixar de usar o mesmo sistema que os meus leitores, senão como esclarecer suas dúvidas? Mudei-me de armas e bagagens. No final de 96 disseramme que o Merlin havia sido lançado. Pensei em instalá-lo para ver como ficou, mas a falta de tempo não permitiu. Mesmo porque não me pareceu que as coisas melhorariam: mais ou menos nessa ocasião a IBM começou a divulgar suas intenções de voltar o produto para as corporações. Péssima notícia para o usuário doméstico. Ainda em 96, a compra da Lotus pela IBM acabou de afugentar as últimas softhouses que desenvolviam para o OS/2. Quem iria competir com a IBM? A Describe, a mais tradicional delas, decidiu fechar as portas. Segundo Brian Proffit, colunista especializado em programas OS/2, o mercado se dividirá em dois pólos: o dos aplicativos corporativos, desenvolvidos dentro de uma empresa para atender às suas necessidades específicas, e o dos programinhas shareware que programadores independentes continuarão desenvolvendo por prazer. Os aplicativos comerciais tendem a desaparecer. A IBM não desistiu do OS/2. Provavelmente será bem-sucedida nos seus esforços de migrá-lo para as corporações e continuará a suportá-lo. Mesmo porque o sistema continua bom, mantém suas excelentes qualidades e a versão 4.0 com suporte a Java integrado é uma evolução. Mas, por me sentir responsável, acho-me na obrigação de dizer aos leitores que porventura instalaram o OS/2 em suas máquinas influenciados pelas soberbas qualidades do sistema que outrora leram nesta coluna, que a decisão da IBM de transformá-lo num sistema corporativo vai torná-lo cada vez menos indicado para uso doméstico. E cada vez ficará mais difícil encontrar aquele amigo que roda OS/2 e com o qual se pode trocar um programa, dirimir uma dúvida ou resolver um problema. Até ler uma dica em uma revista vai ficar difícil. Pois quando eu disse que recebi o último número da OS/2 Magazine, fui absolutamente literal: trata-se do último número mesmo. Porque, segundo artigo do editor Alan Zeichick, também a revista acaba de fechar as portas. B. Piropo |