Escritos
B. Piropo
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19/08/1996
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Elétrons são partículas atômicas elementares dotadas de carga elétrica. Por convenção, a carga elétrica de um elétron é negativa. Como cargas iguais sempre se repelem, os elétrons tendem a se repelir entre si. Os elétrons que integram os átomos de alguns materiais, como os metais, são frouxamente presos a estes átomos. Como resultado, podem se movimentar quase que livremente no interior destes materiais. É a este movimento de elétrons através de um material com estas características que se dá o nome de "corrente elétrica". E o material, por isto mesmo, é denominado de condutor de eletricidade.
O que faz os elétrons se movimentarem, ou seja, o que provoca a corrente elétrica, é uma "diferença de potencial elétrico", uma grandeza medida em Volts. Entre os pólos de uma pilha comum, por exemplo, há uma diferença de potencial de 1,5 Volts. O polo negativo repele os elétrons, já que tem a mesma carga que eles, enquanto o positivo os atrai. Como resultado, unindo-se estes pólos por dois fios metálicos ligados aos terminais de uma lâmpada, os elétrons fluirão através do fio em virtude da diferença de potencial entre os pólos da pilha, provocando uma corrente elétrica que acenderá a lâmpada.
Agora imagine duas placas metálicas situadas próximas uma da outra e separadas por um material isolante, ou seja, não condutor de eletricidade. O que acontecerá se cada uma delas for ligada por algum tempo a um dos pólos de uma pilha? Bem, o polo positivo atrairá elétrons de uma das placas e o polo negativo os repelirá na direção da outra. A pilha, então, funcionará como uma bomba (no sentido de bomba d'água), "bombeando" elétrons de uma placa para a outra. Como resultado a segunda placa ficará saturada com elétrons removidos da primeira. Que, por sua vez, exibirá uma notável carência de elétrons. Ou seja: criou-se uma diferença de potencial elétrico entre as placas. Elas estão, então, carregadas de eletricidade: a segunda placa, prenhe de elétrons, tem "carga elétrica negativa" enquanto a primeira, onde escasseiam elétrons, tem "carga elétrica positiva". Os elétrons não podem voltar à primeira placa porque não há como atravessar o material isolante que a separa da segunda. Mas se as placas forem ligadas através de dois fios conectados aos terminais de uma lâmpada, os elétrons poderão fluir entre as placas através destes fios, provocando uma corrente elétrica que acenderá a lâmpada. Mas como o número de elétrons acumulados na segunda placa é limitado, esta corrente só fluirá até que o equilíbrio seja restabelecido, ou seja, até que todos os elétrons removidos da primeira placa retornem a ela. Neste ponto, diz-se que as placas estão descarregadas. Estas placas e o isolante que as separa formam então um dispositivo que pode então assumir dois estados: carregado e descarregado.
Um dispositivo assim chama-se "capacitor". Que pode ser improvisado com dois pedaços destas folhas de alumínio utilizadas para embalar alimentos, empilhadas uma sobre a outra e separadas por uma folha de jornal à guisa de isolante. Pegue dois pedaços de fio, desencape uma extremidade de cada um deles e a prenda a uma das folhas aluminizadas com fita adesiva. Encoste por alguns momentos as outras extremidades dos fios aos pólos de uma pilha e voilá: seu capacitor estará carregado. Eu testei: quando carregado, meu capacitor improvisado exibiu apenas uma diferença de potencial de 0,5V entre suas placas. Insuficiente para acender uma lâmpada, mas bastante para ser medida com um voltímetro.
E o que tem isto a vem com as memórias? Ora, tem tudo. Pois informações podem ser armazenadas sob a forma de bits em capacitores. Basta convencionar que um capacitor carregado representa o bit "um" e descarregado o bit "zero". Desta forma, cada conjunto de oito capacitores pode representar um byte.
É claro que os capacitores utilizados para implementar as memórias de nossos micros não se parecem nem um pouco com o que improvisei com folhas de alumínio estendidas sobre a mesa. Pelo contrário: são dispositivos microscópicos, tão pequenos que dezenas de milhões deles cabem nos chips comuns de memória (para os preciosistas: cada capacitor elementar usado nas memórias RAM modernas tem uma capacitância de 30 a 50 femtofarads). Mas seu funcionamento é idêntico: aplica-se uma diferença de potencial elétrico a seus microscópicos terminais e eles carregam-se. Conectam-se os terminais e eles descarregam-se. E assim, carregando e descarregando minúsculos capacitores, nossos micros manipulam todas as informações armazenadas na memória RAM. Controlar estas cargas é uma tarefa das mais simples para a CPU. A memória RAM é lida verificando o estado de cada capacitor elementar. E é escrita ou alterada modificando este estado. Como um capacitor é um dispositivo eletrônico muitíssimo mais simples que um transistor, memórias deste tipo são muito mais baratas que as memórias estáticas que vimos semana passada.
Mas, em contrapartida, apresentam um grave inconveniente. Que discutiremos na próxima semana.

B. Piropo