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29/07/1996
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Memórias >
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Antigamente era tudo muito mais simples. Os primeiros PC, por exemplo, vinham com 64K de memória. Sim, é isso mesmo: embora nestes tempos em que praticamente não há mais micros pessoais com menos de 4MB de memória RAM esse "K" aí seja um anacronismo ou pareça erro de digitação, a informação está corretíssima. É claro que, se o usuário quisesse, poderia expandir a memória do PC até, imagine, vastíssimos 256K. Um absurdo para os padrões de uma época em que micros eram fornecidos com 16K de RAM. É verdade que, menos de dois anos depois, mesmo os 256K tornaram-se insuficientes e os XT passaram a ser fornecidos com 512K de memória RAM, que logo foram ampliados para 640K e, finalmente, chegaram até o espantoso máximo de 1MB. E mais que isto seria perfunctório, pois para um XT com suas vinte linhas de endereçamento o universo acabava no primeiro mega. Mas nada disso se compara aos dias de hoje quando esta máquina que vos fala, por exemplo, verga-se sob o peso dos 48MB de memória RAM instalados em sua placa-mãe. Fora o cache, naturalmente... Porque tanta memória? Bem, depois que a evolução da tecnologia fez surgirem as CPU capazes de gerir muito mais memória - o Pentium, teoricamente, pode acessar diretamente um campo de memória da ordem de Terabytes - surgiram os sistemas operacionais e programas que podiam se aproveitar disto. Que, por via de consequência, passaram a exigir cada vez de mais memória em nossas máquinas. O que não é um inconveniente tão grave quanto há alguns anos, pois os preços da memória caíram da casa das centenas de dólares para cerca de dez dólares por MB. Além do mais, naqueles dias, memória era memória e temos conversado. Pois de memória RAM só havia um tipo. Era a memória tipo DIP, fornecida em chips de plástico preto ou cinza escuro com dois lados cheios de perninhas que se encaixavam em soquetes na placa-mãe. Depois a forma dos chips (ou seu "encapsulamento) evoluiu e surgiram os chips SIMM e SIPP. E agora aparecem os novos SOJ e TSOP. Mas não é só isto. Há ainda a questão da "rapidez" das memórias. É claro que mesmo naquela época já havia memórias com diferentes tempos de acesso. Mas isto raramente era uma preocupação, já que as CPUs dos velhos PC - e mesmo dos XT que os sucederam - eram tão lentas que dificilmente os tempos de acesso das memórias representavam alguma dificuldade. Mas hoje em dia as novas CPU, além de mais avançadas, são cada vez mais rápidas. E passaram a exigir memórias com tempos de acesso cada vez menores. Porém a taxa com que cresceu a freqüência de operação das CPU foi muito maior que a taxa com que os tempos de acesso a memória diminuíram. Resultado: a combinação de CPUs mais rápidas com memórias (relativamente) mais lentas forçou o uso do cache e a introdução de estados de espera. Sem falar nas alterações da tecnologia de acesso à memória propriamente dita, que ensejou o aparecimento de memórias mas rápidas como as FPM, EDO e BEDO. Quer dizer: tudo era muito simples, estava tudo muito bem, estava tudo muito bom, quando não mais que de repente esse negócio de memória virou um caos. Cache, estados de espera, FPM, EDO, BEDO, SOJ, SIPP, TSOP, o diabo. Sem falar nas diferenças entre chips de memória estática e dinâmica. Uma confusão medonha... Pois bem: a partir de hoje vamos iniciar uma série que tentará lançar um pouco de luz sobre este caos, dissipando as trevas que encobrem coisas que no fundo, como logo veremos, são realmente muito simples. Será uma série leve, espero. Nada de muito técnico. Pelo contrário: procurarei descer apenas ao nível de detalhe indispensável para permitir o entendimento dos conceitos fundamentais e elucidar as principais dúvidas que, a julgar pelas perguntas que tenho recebido via e-mail, mais contribuem para confundir os corações e mentes de vocês leitores. E logo aqueles acrônimos aparentemente cabalísticos passarão a fazer sentido. É claro que, para não tornar a série demasiadamente pesada, não dá para começar do início. Afinal, de memória já falamos muito aqui mesmo nesta Trilha. E, recentemente, o MicroCosmo destrinchou os mistérios do Gate A20 e as sutilezas do endereçamento da memória no velho XT. Assim sendo, partirei do princípio que tudo aquilo que diz respeito à memória do ponto de vista lógico (ou seja: detalhes relativos a endereçamento e organização interna da memória nos micros da linha PC) é coisa mais que sabida. Quer dizer: a série se voltará principalmente para a abordagem das características físicas dos diferentes tipos de chips de memória e sua influência no desempenho das máquinas. Além disto, conceitos básicos (como bits e bytes, diferenças entre memória RAM e ROM e coisas igualmente simples) serão dados como conhecidos e nem me darei ao trabalho de discuti-los. Afinal, não há micreiro que os desconheça. E se você é a exceção que confirma a regra, não lhe faltarão fontes de consulta para dirimir dúvidas singelas como estas. Porque aqui nossos esforços serão dispendidos em assuntos mais substanciais. Dito isto, prepare-se. Pois nossa incursão nos labirintos da memória de nossas máquinas está prestes a começar.
B. Piropo |