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10/06/1996
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Quotidiano >
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Ontem, como hoje, sentei-me em frente à esta mesma mesa, liguei este micro onde digito esta coluna e, como quase todo o dia, baixei meu correio eletrônico. Li as mensagens e respondi a maioria delas. De tempos em tempos, quando queria espairecer, dava uma olhada pela janela e espiava a paisagem. Depois, dando os trâmites por findos, enviei as respostas para o servidor de e-mail e saí para jantar. Nesta altura dos acontecimentos garanto que alguns de vocês devem achar que eu estou muito sem assunto para começar uma coluna com tantas e tão quotidianas besteiras. Pois se enganam. Porque hoje, particularmente, se tem uma coisa que não me falta é assunto. Mas acontece que o micro que estou usando não é o velho e surrado desktop de todo o dia, mas o notebook, fiel escudeiro e cansado companheiro de viagem. A mesa frente à qual me sento agora fica a mais de dez mil quilômetros daquela na qual costumo trabalhar todas as noites. O jantar de ontem foi em um restaurante chinês da rua Wabash. E a paisagem que desfruto, ao invés do costumeiro cocuruto do Pão de Açúcar que vislumbro de minha janela, é uma vista deslumbrante do Lago Michigan. Porque, como o e-mail de ontem, esta coluna está sendo digitada em Chicago, onde estou cobrindo a Comdex Spring. E, também como o e-mail, seguirá para o Globo via correio eletrônico. O que me impressiona nisto tudo é que mesmo daqui, envio a coluna como toda semana, respondo as mensagens como todo o dia. Para os destinatários das respostas nas quais não mencionei onde estava - que agora devem estar surpresos ao tomar conhecimento que a resposta veio de tão longe - não fez a menor diferença. E muito menos para vocês, que estão lendo a coluna. A comunicação, mesmo do outro hemisfério, é praticamente instantânea. E, o que é mais estarrecedor, obedece rigorosamente à mesma rotina de todo o dia. Nada mudou, exceto a distância. Hoje em dia, sabemos todos, isto é perfeitamente natural. Mas não adianta: mesmo sabendo exatamente como a coisa funciona, mesmo conhecendo intimamente toda a tecnologia que está por detrás de tudo, mesmo tendo perfeita noção dos fenômenos físicos, elétricos e magnéticos envolvidos no processo, continuo me maravilhando com este tipo de coisa. E por mais racional que seja este pobre animal que vos escreve, para ele o fato de poder proceder do outro lado do mundo como procede todo o dia e obter o mesmo resultado continua sendo um mistério infinito. No mais, a vida segue. Da Comdex, vocês encontrarão notícias alhures, na parte séria deste caderno. Mas, considerando que esta coluna divulga mensalmente a reunião do Grupo de Usuários do OS/2 - que por sinal, se nada mudou, haverá de ser às 19 hs de amanhã, no RDC da PUC, como toda a segunda terça-feira de cada mês - acredito que ela é o lugar mais apropriado para comentar aqui um fato que me pareceu no mínimo curioso. A IBM, naturalmente, está representada na Comdex. Montou um estande em um dos pontos mais nobres do salão principal da feira. Um dos maiores da exposição: estimando por baixo, deve ter mais de duzentos metros quadrados. O mote eram os jogos olímpicos, mas tinha de tudo, desde hardware até software. E como sei que a IBM está desenvolvendo a nova versão do OS/2, codinome Merlin, corri para tomar conhecimento das novidades. Roda daqui, procura dali, não vi sinal do OS/2. É natural, pensei eu. Afinal, o estande é grande e não dá para se encontrar tudo assim logo de cara. Melhor perguntar para o pessoal da IBM que atendia no estande. Perguntei. O primeiro me olhou como se nem soubesse do que eu estava falando. O segundo tinha uma pálida idéia do que se tratava, mas não sabia se o OS/2 estava sendo exibido no estande. O terceiro tomou a única providência cabível quando se ignora completamente um assunto: me levou ao balcão de informações. Onde, afinal, depois de consultar um folheto com a relação de tudo que havia no estande, um solícito senhor me conduziu até meu destino: uma única e solitária máquina, perdida no canto do estande, onde um jovem cavalheiro se esforçava para realçar as virtudes e novidades do Merlin para três ou quatro desinteressados circunstantes. Fiquei tão impressionado com o pouco caso com que a IBM trata o OS/2 que saí batido e nem prestei atenção nas novidades. Matutando em como é triste ver um produto de tão boa qualidade ser liquidado pelo próprio dono.
B. Piropo |