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Se você, como eu, é dos tempos do long playing, sabe que disco de vinil, arranhou, dançou. Não tem jeito. Porque neles as informações são gravadas sob a forma de sulcos na própria superfície do disco e lidas por um dispositivo piezoelétrico ligado a uma agulha, capaz de gerar uma corrente elétrica que reproduz o som na medida que as deformações dos sulcos fazem vibrar a agulha. Uma maneira tipicamente analógica de gravar e reproduzir som. Onde qualquer arranhão interfere diretamente na pureza do som, posto que introduz uma deformação no sulco que é captada pela agulha.

Já nos discos tipo CD a superfície externa é apenas uma camada protetora de revestimento plástico transparente. As informações, sejam dados, sejam sons, são digitalizadas (codificadas em bits, ou dígitos binários) e gravadas sob a forma de pequenas deformações na face metálica interna. E são lidas através de um feixe de raio laser emitido na direção do disco, que atravessa a camada transparente e incide sobre a superfície metálica. Se o raio laser encontra um ponto espelhado, é refletido na direção de uma célula fotoelétrica. Se encontra uma deformação, é desviado e a célula fotoelétrica não consegue captar o reflexo. Circuitos eletrônicos amplificam e "traduzem" os impulsos elétricos gerados pela célula fotoelética em bits (por exemplo, atribuindo o valor "um" a um ponto onde o raio laser refletido excitou a célula, "zero" a um ponto onde não houve reflexo), junta os bits para formar bytes e os transforma em arquivos binários, no caso dos CD-ROM, ou em sons, no caso do CD de áudio.

O resultado disto é que os arranhões na superfície externa de discos tipo CD são capazes de prejudicar a recuperação das informações gravadas, mas não de as corromper. E a razão é simples: as informações não são corrompidas porque a superfície metálica interna, onde elas estão gravadas, permanece intocada pelos arranhões que afetam apenas a face externa de plástico transparente. Mas sua recuperação é prejudicada (gerando som de má qualidade no caso do CD de áudio, ou corrompendo arquivos no caso do CD-ROM) porque os arranhões refratam o raio laser ou obstruem seu caminho, impedindo que ele incida sobre o ponto correto da superfície metálica interna. Como você é um cara esperto, já percebeu que isto quer dizer que se os arranhões forem removidos, o disco fica como novo.

O que nos leva a outro problema: como "remover" os arranhões?

Bem, este é fácil. Basta polir a superfície de plástico usando uma pasta abrasiva suave e um algodão. Faça o seguinte: apoie o disco danificado sobre uma superfície plana com os arranhões para cima, passe uma pequena quantidade de pasta no algodão e esfregue firmemente sobre a área arranhada. Faça, preferivelmente, pequenos movimentos circulares e de vez em quando alterne o sentido de rotação. De tempos em tempos, com um algodão limpo, remova o excesso de pasta da superfície do disco com movimentos firmes, radiais, do centro para a periferia. Seja persistente: arranhões leves levam vinte minutos a meia hora para serem removidos. Já arranhões profundos podem levar horas. Mas não desanime: vá em frente, que eu garanto que a coisa funciona.

Onde é que você vai arranjar uma pasta abrasiva suave? Ora, meu amigo, no seu banheiro, naturalmente. Porque a mais indicada é, justamente, a pasta de dentes nossa de cada dia. Por mais estranho que pareça, funciona que é uma beleza.

Duvida? Bem, se for um CD-ROM de programas, você vai precisar de uma paciência de chinês: o arranhão tem que desaparecer completamente. Porque em arquivos executáveis e outros arquivos binários tipo bibliotecas de ligação dinâmica (DLL), um único byte incorreto pode ser o prenúncio de um desastre. Mas se o disco for um CD de áudio ou CD-ROM de dados (coleções de clip-art, catálogos, enciclopédias e congêneres), vá fundo que eu garanto. Agora mesmo estou curtindo um CD da Rita Lee que foi engolido pelo mecanismo de troca de discos de meu CD player. Quando vomitado, quatro faixas voltaram completamente imprestáveis devido aos arranhões. Levei horas esfregando o bicho com pasta de dentes. Agora, não se percebe nem sinal de arranhão.

B. Piropo