Escritos
B. Piropo
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13/05/1996
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Semana passada havia um recado do Pinheiro para mim na redação. Eu não conhecia o Pinheiro, mas liguei mesmo assim. Do outro lado da linha atendeu aquele tipo de pessoa que os jornais do meu tempo - e do dele - chamariam de "cavalheiro de fino trato". Também engenheiro, o Pinheiro leu a Trilha Zero sobre o callback e achou que deveria me contar porque são tão caras nossas tarifas telefônicas interurbanas e internacionais. Disse-me ele que isto se deve a uma decisão do governo de subsidiar a telefonia urbana com as tarifas DDD e DDI. Ou seja: pagamos caro pelas últimas para podermos pagar barato pela primeira. E que se ninguém mais usasse os serviços das companhias telefônicas regionais para ligações internacionais, elas seriam privadas desta fonte de receita e seriam obrigadas a elevar as tarifas da telefonia urbana.

Disse ao Pinheiro que disso sabia eu. E justamente por sabê-lo divulguei o serviço de callback. Pois, mesmo admitindo exceções como o gás de cozinha, essencial para a sobrevivência das camadas mais pobres da população urbana, me repugnam os subsídios - que, inevitavelmente, levam a distorções. O dos telefones, por exemplo, me parece particularmente perverso: como os grandes usuários DDD e DDI são empresas, e como empresário não joga para perder, os custos acabam embutidos nos preços dos produtos. Ou seja: pagamos todos para que Dona Candinha possa pendurar-se horas no telefone fofocando com a vizinha a custo de merreca. Já se todos usarem o callback, a verdade tarifária nas telecomunicações será estabelecida à comando: não havendo grana do DDI para pagar a ligação de Dona Candinha, ela teria que pagar o que o serviço vale. Em contrapartida as tarifas DDD e DDI cairiam também para seu valor justo, disputariam com os serviços de callback e ganhariam o mercado na base da concorrência, pois com tarifas equivalentes, preferiremos todos pagá-las diretamente na conta telefônica, que é muito mais prático. E nada me parece mais justo que todos pagarem por um serviço o que ele realmente vale. Por isso a coluna sobre o callback.

Ainda não conheço o Pinheiro pessoalmente. Mas depois de quase uma hora de papo no telefone (com tarifa subsidiada), garanto que se trata de um cavalheiro. Tanto que, mesmo sem contestar minha argumentação, a páginas tantas disse-me ele que, já que eu conhecia a razão pela qual os preços dos nossos DDD e DDI eram tão elevados, deveria tê-la informado a vocês leitores, situando a questão em um panorama mais amplo e permitindo-lhes julgar se a política de subsídio era justa ou não. Como, afinal, são vocês mesmos que pagam pelo subsídio, achei o argumento irrefutável.

Pois aí está a informação. E o porquê desta coluna de informática ter hoje resvalado para o escorregadio terreno da economia. Onde prometo não voltar a pisar tão cedo.

Agora falemos, finalmente, de informática. Ano passado, na Comdex Spring de Atlanta, encontrei na sala de imprensa um periférico que me impressionou tanto que só não o comprei porque na feira não estava à venda e fora dela ainda não havia porque era lançamento. Na ocasião, mencionei-o na reportagem que fiz sobre a feira: era o PaperPort, um scanner de mesa (em tons de cinza e 400 dpi) da Visioneer. Um negócio muito bem pensado. À primeira vista, parecia uma impressora portátil, destas inventadas para serem usadas com notebook: um rolo emborrachado, tipo máquina de escrever, contido em um dispositivo pouco maior que ele mesmo. Tão pequeno que quase passava despercebido entre o teclado e a base do monitor. Era fornecido com um programa para Windows que rodava continuamente em segundo plano. Na maior parte do tempo ficava quieto no seu canto sem incomodar nem chamar atenção. Mas bastava enfiar nele uma folha de papel que o bicho acordava: o rolo puxava a folha para dentro do scanner e o programa saltava no vídeo. Em menos de um minuto a imagem contida na folha estava na tela, pronta para ser editada ou submetida a reconhecimento ótico de caracteres. Um negócio simples como toda a idéia genial.

Agora a Visioneer deu um passo a frente e melhorou ainda mais a idéia: embutiu o scanner no próprio teclado. E te forma tão engenhosa que o bicho parece um teclado comum, apenas um pouco mais alto na parte posterior - que se estende ligeiramente para trás e tem uma fenda transversal para se introduzir o papel. Um achado.

Por enquanto o teclado com scanner é um opcional (a um custo adicional de US$ 329) do Compaq Presário 9240, por si só uma máquina soberba recentemente lançada nos EUA. Não sei se a Visioneer já o está comercializando separadamente. Mas presumo que logo estará. E quando estiver, é o tipo da coisa que vale a pena para quem está precisando de um scanner simples e barato apenas para trabalhar com documentos.

Há muito tempo não encontro um dispositivo tão bem bolado.

B. Piropo