Escritos
B. Piropo
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04/03/1996
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Semana passada vimos que, não podendo eliminar o limite máximo de dois drives por controladora, o "padrão" EIDE adotou o engenhoso expediente de dobrar o número de controladoras para acomodar até quatro dispositivos ATA em uma única máquina. Mas veja lá: hoje em dia existem drives IDE com capacidade superior a dois Gb. Dois bichos destes armazenam quatro Gigas, uma vastidão impensável há poucos anos e mais que suficiente até para os micreiros mais perdulários. Para que, então, tanto esforço para aumentar o número de dispositivos ATA?

A resposta está em mais um acrônimo: ATAPI. Que significa ATA Packet Interface, uma extensão do padrão ATA que permite suportar também drives de fitas magnéticas e de CD-ROM, além dos discos rígidos. E o grande responsável por ele foi o drive de CD-ROM, hoje um adereço obrigatório em qualquer PC que se preze e para o qual até recentemente só havia duas alternativas: aderir ao padrão SCSI ou usar uma placa controladora proprietária (antes de dizer que quem controla seu CD-ROM é uma placa de som pense um pouco e conclua que placa de som não pode controlar coisa alguma além do próprio barulho; portanto o que você chama de placa de som nada mais é que a combinação em uma única placa de circuito impresso de uma controladora de drive de CD-ROM com uma placa de som). Ambas as alternativas tinham suas deficiências: dispositivos SCSI são caros e placas proprietárias não são intercambiáveis, cada uma controlando apenas o drive para o qual foi desenvolvida. Seria tão mais fácil e barato se houvesse um padrão e cada fabricante tivesse que se preocupar apenas em fornecer o drive, que seria controlado por qualquer interface que aderisse ao padrão...

A resposta da Western Digital para este problema foi ampliar o padrão ATA. Que, por se tratar de um protocolo de transferência de dados entre discos rígidos e sistema, exigia apenas pequenas adaptações para capacitá-lo a controlar também drives de CD-ROM. O que nem era uma coisa assim tão difícil, já que exceto por não ser possível gravar e regravar dados em um CD-ROM, ele é um dispositivo de armazenamento bastante semelhante a um disco rígido.

Pois foi a possibilidade de conectar drives de CD-ROM (e, como veremos adiante, drives de fita magnética) à mesma interface ATA que controla discos rígidos que fez com que o limite de dois dispositivos se tornasse inaceitável.

No padrão ATAPI, de maneira semelhante à usada pelos dispositivos SCSI, os dados são transferidos sob a forma de conjuntos de bytes denominados "Packets" (pacotes). De onde deriva o nome ATA Packet Interface. Aliás, a semelhança entre os padrões ATAPI e SCSI não é mera coincidência. Pelo contrário: foi proposital e visou permitir que os fabricantes lançassem rapidamente no mercado novos produtos obedecendo ao padrão ATAPI mediante pequenas alterações no hardware de seus dispositivos SCSI e reaproveitando a maior parte do código de seus gerenciadores de dispositivos.

Enquanto o novo padrão ATAPI ainda estava nos estágios iniciais de discussão, os fabricantes de drives de fita magnética descobriram que bastavam pequenas alterações no padrão ainda incipiente para que o suporte fosse estendido a seus dispositivos. E alegremente aderiram. O que possibilitou o suporte via padrão ATA para toda uma nova geração de drives de CD-ROM e de fitas magnéticas, oferecendo uma alternativa de baixo custo para o SCSI. Embora já existam no mercado dispositivos ATAPI controlados por interfaces EIDE, o padrão ainda está em discussão. Sua elaboração, porém, está sendo feita de tal forma que não haverá incompatibilidades entre os dispositivos ATA que suportam ATAPI e os que não o suportam.

Da parte dos fabricantes de placas-mãe, a implementação do ATAPI é extremamente simples, exigindo apenas pequenas mudanças no BIOS. Por isto, embora relativamente recente e ainda em desenvolvimento, já há no mercado um grande número de drives de CD-ROM ATAPI. E drives de fita estão começando a aparecer. Ainda há algumas limitações: no momento não é possível dar boot de um CD-ROM ATAPI e ainda é preciso usar um driver para usar dispositivos ATAPI sob DOS ou Windows 3.x. No entanto o suporte para dispositivos ATAPI já foi incorporado à maioria dos novos sistemas operacionais, incluindo Linux, OS/2 e Windows 95.

Pronto. Como o suporte aos modos de transferência mais rápidos do padrão ATA-2 já foram discutidos quando vimos o Fast-ATA, para fecharmos o "padrão" EIDE só falta examinar a maneira pela qual se superou o famoso limite de 504 Mb.

O que quer dizer que esta série está acabando. Graças a Deus...

PS: Aos micreiros que pretendem fazer compras em New York, um aviso: há uma nova transportadora operando no Rio oferecendo um vôo Rio-New York-Rio, a Tower Air. A viagem é um suplício com requintes de crueldade. Na ida faz uma escala demoradíssima em São Paulo e outra em Miami, onde o passageiro é obrigado a desembarcar, passar pela alfândega com toda a bagagem e despachá-la novamente para New York sem nenhum apoio da empresa. Na volta, pára novamente em Miami e faz nova escala em São Paulo. Aviso aqui porque à bordo a maioria dos passageiros não sabia das escalas. Na ida é bom levar farnel: o jantar só é servido no trecho São Paulo-Miami, de madrugada. Antes, só refrigerante. O serviço de bordo é uma desgraça. Nos vôos que tomei conhecimento, os atrasos variaram de uma a três horas. Em suma: fazer Rio-New York pela Tower Air é melhor que ir a pé. Mas não muito.

B. Piropo