Escritos
B. Piropo
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19/02/1996
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O padrão ATA foi um enorme sucesso e por isto está em contínua evolução. Em agosto de 1990 os principais interessados, como Quantum, Seagate, Conner e Western Digital, constituiram o Small Form Factor Comitee (Comitê SFF) com o objetivo de propor ao ANSI, o Intituto Nacional Americano de Padronização, padrões de interesse da indústria de discos rígidos. E o SFF agregou rapidamente novos modos de transferência ao padrão ATA original que, juntamente com outras modificações propostas e discutidas pelo ANSI, constituiram aquilo que se convencionou chamar padrão ATA-2, já em plena vigência. E atualmente discute-se o padrão ATA-3, que consiste basicamente na incoporação ao padrão ATA das especificações do padrão ATAPI (calma, que mais adiante veremos detalhadamente que diabo é isto) e novos modos de transferência ainda mais rápidos, cujas taxas máximas teóricas se situam na faixa de 20 Mb/s a 32 Mb/s. O que, se não houver rápidas e significativas modificações nas especificações do padrão SCSI, fará do ATA-3 o padrão de interface do futuro. Se você quiser saber a quantas anda a discussão, rever o padrão ou até mesmo dar palpite, mande um E-Mail para o "ATA reflector", no endereço [email protected], incluindo no corpo da mensagem o texto "subscribe ata [seu endereço internet]". E prepare-se para receber uma maciça quantidade de informações. Da última vez que espiei, o padrão proposto era um alentado documento com quase duzentas páginas.

Pois bem: partindo do princípio que o que a maioria dos usuários quer mesmo é maior rapidez e que todo o resto são firulas, Quantum e Seagate, os maiores fornecedores de discos rígidos que sozinhos dominam 45% do mercado mundial, decidiram tentar resolver o problema da lentidão e deixar o resto de lado. E instituiram aquilo que batizaram de Fast ATA (que mais tarde eles mesmos esticaram para Fast ATA 2). Um conjunto de medidas que visa exclusivamente permitir que os drives IDE acessem dados mais rapidamente, removendo o gargalo associado com o velho padrão ATA.

Segundo Seagate e Quantum, obedecem ao "padrão" Fast ATA todos os drives, BIOS, controladoras ou sistemas que suportem os modos PIO 3 ou 4 ou modos DMA multiword 1 ou 2 propostos pelo SFF Comitê, aceitos pelo ANSI e incorporados ao padrão ATA-2. O modo PIO 3 (taxa máxima de 11,1 Mb/s) e o modo DMA multiword 1 (13,3Mb/s) são suportados pelo Fast ATA. O modo PIO 4 e o modo DMA multiword 2 (ambos atingindo a 16,6Mb/s) pelo Fast ATA-2. Como vêem, eles não fizeram esforço algum para simplificar a terminologia. Muito pelo contrário. Pois tanto o Fast ATA quanto sua extensão Fast ATA 2 obedecem ao padrão ATA-2. Divergem apenas nos modos de transferência que aceitam. Dentro desta ótica, Fast ATA 2 não deve ser compreendido como Fast [ATA-2] (um ATA-2 mais rápido) mas sim como [Fast ATA] 2 (uma evolução do Fast ATA). Se é que me entendem...

Notem que os "padrões" Fast ATA e Fast ATA-2 deixaram de lado as questões referentes aos malfadado limites de 504Mb e dois periféricos, ambos discos rígidos, limitando-se a instituir maiores taxas de transferência através do suporte a modos PIO e DMA mais rápidos. Isto facilitou sua implementação, que dependia apenas do BIOS e disco rígido aceitarem os protocolos PIO e DMA correspondentes. A força bruta ficou por conta dos fabricantes de drives, que precisaram desenvolver componentes mais rápidos (este sim, o grande desafio) e implementar todo o suporte aos novos modos nas controladoras. Aos fabricantes de placas-mãe bastou incorporar poucas modificações em seus BIOS, o que vem ocorrendo generalizadamente pelo menos desde 1993. Por isto volto a enfatizar um ponto que costuma causar muita confusão: o "padrão" Fast ATA nada tem a ver com a rutura do limite de 504 Mb. Esclarecendo melhor: BIOS que suportam Fast ATA não suportam obrigatoriamente drives maiores que 504 Mb. Se seu HD tem mais de 504 Mb e é Fast ATA, seja Seagate ou Quantum, mesmo que seu BIOS suporte os modos de transferência correspondentes, talvez você precise de um driver para que ele seja reconhecido por seu sistema.

Finalmente: para não sucatear a base instalada de dezenas de milhões de discos rígidos e controladoras IDE, dos quais quase a metade foi fabricada por eles mesmos, Quantum e Seagate tomaram o cuidado de fazer com que os componentes Fast ATA fossem compatíveis com o padrão original. Isto significa não somente que os novos drives Fast ATA podem ser instalados nas controladoras antigas (embora percam toda a vantagem, pois a controladora não suportará seus modos de transferência mais rápidos) como também drives antigos podem ser instalados nas controladoras Fast ATA (mas, evidentemente, continuarão lentos). A coisa funciona assim: ao ser ligado, o drive Fast ATA emite um comando tentando selecionar seu modo de transferência mais rápido. Se a controladora reagir da acordo, viva: os dados cruzam o cabo rápidos como raios e todos são felizes para sempre. Mas se a controladora ignorar o comando, o drive se conforma à lentidão do sistema e se comporta como um velho e lerdo drive IDE. Trocando em miúdos: ao instalar um novo drive Fast ATA em seu micro, verifique se BIOS e controladora o aceitam. E investigue o restante do sistema. Pois há casos em que BIOS, controladora e drive novo são todos Fast ATA e funcionam nos conformes, mas ao conectar o drive antigo ao mesmo cabo (afinal, porque jogar fora aquele velho IDE de 80Mb em perfeito funcionamento só porque comprou um Fast ATA novo de 800Mb?) todo o sistema se ajusta para o modo do drive mais lento. Isto nem sempre acontece, pois as controladoras mais "inteligentes" são capazes de ajustar taxas de transferências diferentes para diferentes drives mas, dependendo dos drives e das controladoras, é perfeitamente possível. Portanto, é bom tomar cuidado...

B. Piropo