Escritos
B. Piropo
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12/02/1996
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A interface ATA era tão melhor que a velha ST-506/412 que rapidamente dominou o mercado. Entretanto, embora imensamente superior à sua antecessora, também apresentava suas limitações. E era natural que, na medida que os usuários fossem se acostumando com suas vantagens, começassem a reclamar das desvantagens. Que iam se mostrando cada vez mais evidentes. E que desvantagens eram essas?

Bem, as que mais incomodavam os usuários eram as quatro que discutiremos aqui.

A primeira era a lentidão (lembrem-se que o padrão ATA original apenas contemplava os modos PIO 0 a PIO 2 e DMA 0). Que no início, mal era notada: afinal, comparada com a ST-506/412, a interface ATA era um foguete. Além do que, quando o padrão ATA foi estabelecido, as máquinas eram muitíssimo mais lentas (o 486/33, um micro de respeito naqueles dias, hoje empalidece de vergonha frente a um Pentium 166). E em um sistema onde todos os componentes são lentos, a lerdeza da interface ATA passava despercebida. Mas quando as taxas de operação das CPU romperam o limite de 100MHz, ela não somente foi notada como passou a ser a principal razão das lamentações dos usuários.

A segunda, que também não tinha a menor importância na ocasião em que o padrão começou a se disseminar, era o infame limite de 504Mb. Ainda tenho entre meus guardados um velho HD IDE de 40Mb que, assim que tiver tempo, pretendo juntar à uma placa-mãe 386 e a uns tantos badulaques espalhados pelas gavetas, conectar a um voice-modem e transformar tudo em uma secretária eletrônica inteligente capaz de receber recados, faxes e arquivos. Foi comprado em abril de 92. Não esqueci porque foi em Chicago durante a COMDEX Spring 92, aquela na qual foram lançados oficialmente Windows 3.1 e 0S/2 2.0. E como estes dois devoradores de espaço em disco ainda não existiam, um HD de 40 Mb não parecia tão ridículo como agora. Afinal, paguei duzentos dólares por ele, uma pechincha numa época em que os PC vinham normalmente equipados com discos rígidos de no máximo 120 Mb. Em tempos como aqueles, quem se incomodaria com um limite máximo de 504 Mb, uma vastidão que soava quase como inatingível? Hoje, é uma desgraça. Afinal, para quem usa Windows 95 e OS/2 Warp, 500Mb é o mínimo necessário para se trabalhar com algum conforto.

A terceira também não tinha importância alguma na ocasião: o padrão ATA era específico para discos rígidos e não suportava nenhum outro tipo de dispositivo. Algo perfeitamente natural em uma época em que cada periférico - exceto, naturalmente, os que usavam as portas paralela ou serial - era fornecido com sua placa controladora. Em geral uma placa proprietária, que servia apenas para aquela marca e modelo de periférico. Um defeito em uma destas placas muitas vezes representava a inutilização de um caro periférico em perfeitas condições de uso, pois nem sempre se conseguia localizar o fabricante que, por sua vez, nem sempre mantinha ainda aquele modelo de placa na linha de produção. Mas as coisas eram assim e ninguém questionava. Portanto, nada mais natural que um disco ATA viesse com sua placa controladora. O fato dela ainda poder controlar outro periférico, embora obrigatoriamente outro disco ATA, era considerado uma benção, nunca uma desvantagem.

E finalmente a última desvantagem, diga-se a bem da verdade, nada tinha a ver com o padrão ATA, mas sim com a implementação dos BIOS das máquinas da linha PC. E consistia no fato da interface poder controlar no máximo dois periféricos. O que também era aceitável. Pelo menos na época em que somente havia o padrão original e a interface ATA somente controlava discos rígidos.

Embora sem importância quando o padrão foi desenvolvido, estas limitações acabaram por tornar-se inaceitáveis. E exigiam providências. A partir da semana que vem vamos ver como, sem esperar pelo comitê de padronização, a indústria conseguiu contorná-las criando aquilo que ela mesma decidiu chamar de Fast-ATA e Enhanced IDE.

PS1: Há alguns dias um amigo me pediu ajuda para fazer o upgrade do micro do filho, que se sentia um pária da informática com um velho e mudo 386. Tratando-se de uma amizade de mais de quatro décadas, sugeri que comprasse os componentes que eu mesmo faria o upgrade. Escolhemos juntos, dentre os anunciantes daqui mesmo do caderninho, dois fornecedores: Dragon Computers Store e Mark Data. Nenhum dos componentes veio com defeito, mas os pequenos demônios que infestam até mesmo os chips de melhor procedência conseguiram provocar uma incompatibilidade incontornável entre o kit multimídia comprado na Mark Data e a placa-mãe comprada na Dragon. Uma situação delicada já que, em princípio, todo o material estava em perfeitas condições. Que, no entanto, foi resolvida de forma perfeitamente civilizada, mostrando que nosso mercado de informática está chegando perto da maturidade. Fica aqui meu reconhecimento à Mark Data, que ajudou a isolar a causa do problema, e à Dragon, onde o Jorge, um jovem cavalheiro, aceitou sem questionar a devolução de uma placa mãe em perfeito estado somente porque ela apresentou incompatibilidade com um componente de outro fornecedor.

PS2: Amanhã, como em toda segunda terça-feira do mês, a reunião do Grupo de Usuários do OS/2 será realizada às 17 hs no auditório do Rio Data Center, na PUC. Compareça e ajude a eleger o novo presidente.

B. Piropo