Escritos
B. Piropo
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16/10/1995

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Um dia, também eu já fui criança. Mas há tanto tempo, que naquela época as duplas caipiras não tinham avião particular, não vestiam moda country, não eram símbolos sexuais e, por estranho que possa parecer, eram de fato caipiras. Além de cantar, conversavam. E o faziam com rara inteligência e graça. Naqueles dias em que ainda não existia televisão, seus programas de rádio eram o que havia de melhor em matéria de humor. Um humor brincalhão, entre o safado e o ingênuo, cheio de sensibilidade e gostoso de ouvir. Na verdade, em seus programas havia mais bate-papo que música. Tanto que tinha uma dupla (Alvarenga e Ranchinho? Ou Jararaca e Ratinho? Sei não; quem lembrar e tiver coragem de admitir que lembra de coisas ocorridas em um tempo assim tão distante, escreva para refrescar minha memória) que, quando o papo esticava demais, comentava: "é, compadre, a gente agarra na conversa e se esquece de cantar". E lascavam uma musiquinha só para mostrar que eram, afinal, cantores.

Lembrei disso porque ultimamente tenho feito tanta palestra que me sinto como eles: tanto agarro na conversa que quase esqueço de escrever. Há quinze dias foi na Infopuc. Uma feira de informática (que mal tive tempo de visitar) em paralelo com um ciclo de palestras para o qual me honraram com um convite. Na PUC, a Pontifícia Universidade Católica daqui mesmo do Rio. Fui e durante um par de horas bati um instigante papo com um pessoal da mais alta qualidade. Gente interessadíssima no que vai pelo mundo da informática e, particularmente, no lado para o qual penderá a batalha entre Windows 95 e OS/2. Foi uma noite das mais agradáveis. Um programão.

Como programão foi também o de dez dias atrás. Outra palestra, mas essa fazendo parte da Semana de Informática do CES, o Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora.

Juiz de Fora é um lugar interessante. Fora o sotaque do povo, ligeiramente arredondado nos erres mas não muito, é uma cidade quase tão carioca quanto o próprio Rio de Janeiro. Falta o mar, é bem verdade. Em contrapartida sobra mulher bonita - de modo que fica uma coisa pela outra. Eu mesmo, que não sou muito chegado a uma praia, até prefiro assim. A terra mudou um bocado desde a última vez que lá estive há exatos vinte e um anos para passar um magnífico carnaval (não estranhem eu sair do Rio para passar carnaval em Juiz de Fora: carnaval não é feito só de samba, suor e cerveja). Os lugares da moda mudaram. O Barril 2000 já fechou há dez anos, mas a cidade cresceu e lá pelas bandas de São Mateus nasceu uma espécie de Ipanema sem mar. Um agito que só vendo.

Por aqueles lados a informática parece ir muito bem, obrigado. Visitei a Tribuna de Minas, um jornal local que tem, sim senhor, seu caderno de informática. Dos mais bem feitos. Muita coisa de fora, evidentemente. Mas o material local é dos mais interessantes. Além da cobertura de eventos (como, por exemplo, a Infojuf, uma feira de informática local que rola essa semana), li um artigo saborosíssimo sobre as desventuras dos micreiros carentes de assistência técnica. Que, lá como cá, são o que mais há.

A dita Semana de Informática aconteceu de 18 a 21 de setembro. Mas como nessa época eu lá não poderia estar, criaram uma semana diferente: uns tantos dias no meio de setembro e um dia adicional, só para a minha palestra, no início de outubro. Semana assim nunca vi. Senti-me um violador de calendários, mas muito honrado pela exceção.

A Semana foi promovida pelo Departamento de Informática do CES. Mais precisamente pelo professor Eraldo Luís, chefe do departamento e, pelo que pude perceber, sua mola mestra. Uma figura e tanto o Eraldo. Chefia o departamento de informática, dá aulas, agita, organiza eventos e ainda consegue tempo para tocar seu negócio, uma loja de suprimentos e hardware em geral. Diz que é meu fã. Mas com tanto dinamismo e capacidade de organização, quem acaba virando fã dele sou eu.

A palestra versou, inevitavelmente, sobre sistemas operacionais. Passado, presente e futuro. Também lá, como era de esperar, a turma está assuntando para ver o que acontece com Windows 95 e Warp. Aliás, em matéria de assuntar, até mais lá do que cá: afinal, por mais carioca que pareça, Juiz de Fora fica em Minas e aquele pessoal não é de se atirar de cabeça em águas desconhecidas. Desconfiados como bons mineiros, por enquanto estão mais observando o que acontece com as máquinas dos afoitos que instalaram as versões novas que instalando-as nas suas. O que deu para perceber durante a sessão de perguntas.

Cuja maioria versava sobre Windows 95 e suas novidades. Mas houve muitas sobre o OS/2, suas virtudes e defeitos. Deu para ver que a platéia estava bastante dividida. Aliás, pelo que percebi das sessões de perguntas de ambas as palestras, muitos dos que aguardavam ansiosamente o lançamento de Windows 95 refugaram ao perceber que aquela história de rodar em máquinas de 4Mb de RAM era só para inglês ver. Porque, como o OS/2, rodar, roda. Mas a coisa fica devagar quase parando. Tanto, que nem dá para chamar aquilo de "rodar". Seja lá como for, parece que no que toca a sistemas operacionais, depois do lançamento de Windows 95 vivemos uma espécie de anticlímax. Todo mundo esperando, numa espécie de "deixa como está para ver como é que fica". Acredito que dentro de um ano saberemos todos como é que ficará.

Pois é isso. Ambas as palestras, tanto a da Infopuc quanto a de Juiz de Fora, foram muito agradáveis. Pelo menos para o palestrante. Quanto aos ouvintes, tudo o que posso afirmar é que acredito que os da PUC gostaram: auditório cheio e todo mundo agüentou até o final. Já quanto ao pessoal de Juiz de Fora, esses eu garanto que adoraram.

Não necessariamente a palestra, que eu não seria assim tão presunçoso para afirmar uma bobagem dessas. Mas acontece que depois da palestra houve um show de música popular. Voz e violão. Voz da Adriana. Uma belíssima voz e um bom show. Muito bom mesmo.

Tão bom que quem porventura tenha se desapontado com o palestrante, certamente se encantou com a cantora. Mais uma prova do talento do Eraldo para organizar eventos...

B. Piropo