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02/10/1995
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Quando encontro micreiro novo se queixando de como esse negócio de informática é difícil, costumo dizer que as coisas não são assim tão complicadas como parecem. Ao contrário, digo sempre que tudo é muito simples. E justifico: afinal, tem que ser assim mesmo pela própria natureza do computador, uma máquina burra que só faz o que a gente manda: basta aprender a mandar direitinho que tudo entra nos eixos. E digo ainda, para animar os pobres coitados mais perdidos que cego em linha vermelha, que com alguma prática e experiência os problemas que hoje parecem insolúveis se reduzem à sua verdadeira proporção. E que logo eles se sentirão inteiramente à vontade em frente a seus micros, enfrentando com galhardia as situações que hoje os levam ao desespero e resolvendo tranqüilamente todos os problemas. Não acreditem. É mentira. E antes que vocês comecem a pensar mal desse pobre escriba imaginando que ele passou todos esses anos mistificando seus crédulos leitores e se aproveitando de sua ignorância, esclareço: jamais tive a intenção de enganar a quem quer que fosse. E se costumava dizer aquele amontoado de asneiras, era de boa fé e somente porque sempre acreditei que assim fosse. Pelo menos até esse final de semana. Que foi quando me cansei de usar o novo Windows 95 em uma máquina e o OS/2 em outra. E como, ainda, entre les deux mon coeur balance, decidi-me a instalar ambos na mesma máquina. É certo que essa é a forma melhor e mais justa de compará-los, naturalmente. Mas, decididamente, não foi esse o motivo que me levou a tomar tão temerária decisão. Pelo contrário, a motivação foi das mais egoístas: acontece que só tenho um monitor de dezessete polegadas, e depois que a gente se acostuma com um bicho desses, quaisquer dez minutos olhando para uma tela de catorze é um suplício. Além disso cansei desse negócio de ter o modem em uma máquina, o scanner na outra e coisas assim. Então resolvi: desmonto as duas, transformo-as em uma decente e outra mais ou menos e instalo ambos os sistemas na decente, na qual passaria a trabalhar dali em diante. Uma decisão aparentemente sábia, não fora a lei universal da perversidade da matéria, também conhecida como lei de Murphy. Primeiro, foi a questão dos discos rígidos. Resolvi abandonar de vez o padrão IDE e me bandear de armas e bagagens para o mundo do SCSI, que além de ser mais rápido é muito menos limitado. E com a facilidade de aceitar até seis periféricos na mesma controladora, acaba de vez com a balbúrdia que imperava na máquina velha, na qual se acomodavam (se bem que na mais perfeita harmonia) dois discos rígidos IDE e um SCSI. Como a experiência com o velho SCSI foi das mais profícuas, resolvi comprar mais um e pôr ambos a conviver na máquina decente. O problema é que eu precisaria reformatar o velho sem perder seus dados e depois transferir tudo que havia nos IDE para os novos SCSI. Um quebra cabeças parecido com aquele do barqueiro que tem que atravessar o rio com a cabra, o lobo e a couve em uma canoa onde só cabem dois fregueses, incluindo ele. Uma semana de planejamento, um monte de trocas de discos rígidos entre as duas máquinas e a coisa resolveu-se. Milagrosamente sem perda de dados, se bem que até agora eu não tenha entendido bem como tal façanha foi possível. Depois, o problema do limite dos 1024 cilindros que um dia eu ainda explicarei aqui. Uma questão de BIOS que nem está ligada às limitações de qualquer sistema operacional, embora acabe se refletindo neles: na prática, seu efeito é que o DOS não "enxerga" partições com mais de 503 Mb e o OS/2 teimosamente se recusa a acomodar-se em uma que exceda a 1024 cilindros (o que vem a dar no mesmo). Um de meus discos rígidos tem 525 Mb e o outro 1041. É verdade que eu poderia usar drivers para "enganar" o BIOS e exceder o limite, mas deixar meus dados à mercê de drivers diferentes de diferentes sistemas operacionais é viver perigosamente demais para o meu gosto. Outra solução seria subdividir o primeiro disco em duas partições e o segundo em três. Mas isso me faria lidar com meio alfabeto para achar arquivos: meu CD-ROM seria o drive H. Resultado: em nome do conforto, acabei por me decidir a perder mais de 50 Mb de espaço de armazenamento, ficando só com três partições de 503 Mb, uma no primeiro HD, que ficou com 22 Mb de espaço livre sem serventia, e duas no segundo - onde o desperdício foi de 35Mb. Tudo bem, para quem tem Giga e meio cinquenta megas não são nada. Só quando me lembro que meu primeiro disco rígido tinha quarenta megas e me custou os olhos da cara é que a idéia de jogar fora todo esse espaço me incomoda um pouco. Mas, afinal, a vida é assim mesmo. Pronto: resolvidos os detalhes, vamos à montagem propriamente dita. Como vocês sabem, macaco velho não mete a mão em cumbuca. Por isso eu já jurei que nunca mais monto uma máquina em seu próprio gabinete. Razão pela qual tenho em casa uma bancada com fonte de alimentação. Uma fonte é relativamente barata face ao conforto e segurança que representa, além de servir como sobressalente naqueles casos desesperadores de problemas que só acontecem de madrugada. A bancada facilita o trabalho e evita contorcionismos para ligar e desligar cabos escondidos nos desvãos do gabinete: bota-se a placa mãe sobre ela, encaixa-se o teclado, placa controladora de vídeo ligada ao monitor e mais nada. Energiza-se o conjunto: se tudo correr bem, aparece uma mensagem de erro no monitor - sinal que placa mãe, controladora de vídeo e monitor estão nos conformes. Daí para a frente, é moleza: espeta-se uma placa controladora de cada vez e testa-se o conjunto. Quando pinta um problema, sabe-se exatamente quem o provocou e fica mais fácil resolver. O resultado não poderia ser outro: tudo funcionou às mil maravilhas. A máquina decente, toda apetrechada, ficou nos conformes sobre a bancada. Discos rígidos, mouse, drive de CD-ROM, placa de som, tudo funcionando do jeito que o diabo gosta. Tanto, que parti logo para os finalmentes e resolvi instalar os sistemas operacionais ali mesmo na bancada. Primeiro, o DOS puro no disco C. Depois, o OS/2 no drive E e seu gerenciador de boot duplo. Finalmente, Windows 95 "em cima" do DOS. Que, ao se instalar, desativou o gerenciador de boot duplo do OS/2. Mas de forma tão civilizada e graciosa que não somente avisou que teria que fazê-lo como também informou como resolver o problema. Dito e feito: depois do primeiro boot com Windows 95 bastou rodar o Fdisk dele mesmo e tornar novamente ativa a partição do gerenciador de boot que tudo voltou ao normal. Uma beleza. Mas se tudo correu tão bem, porque eu vociferava tanto lá no começo da coluna? Bem, é que tudo isso aconteceu na bancada. E foi justamente quando eu resolvi enfiar toda aquela maravilha no gabinete que o mundo desabou. Semana que vem, eu conto como. B. Piropo |