Escritos
B. Piropo
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25/09/1995

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Você, que lê essas mal traçadas, é provável que o faça por ser micreiro. Em o sendo, há uma boa chance que, além dos joguinhos de lei, use sua máquina para algo de útil. E certamente sabe que para fazer algo de útil com um micro é necessário um editor de textos, uma planilha eletrônica e um banco de dados. Nessa ordem.

É claro que também há os que fazem muita coisa útil com um programa gráfico, um programa editor de vídeo ou algo igualmente exótico. Tudo bem: não diria que são a exceção que confirma a regra porque não são assim tão raros, mas você há de convir que são poucos. A esmagadora maioria usa editor de textos, um enorme contingente usa planilha e um número significativo usa banco de dados. Sem falar nos que usam todos os três, ou dois deles - particularmente a combinação editor de textos / planilha.

Pois bem: dê uma olhada em volta assim como quem não quer nada e repare nos programas que você e seus amigos estão usando. Os editores de texto serão, muito provavelmente, o MS Word, o Ami Pro, o Word Perfect ou algo do mesmo - e grosso - calibre. As planilhas, é quase certo que serão Excel, Lotus 123 ou similar. E o banco de dados é provável que seja o Access, FoxPro ou um bicho do mesmo gênero.

E daí? Algo errado? - perguntará vossência, perplexo com esse início de coluna tão acaciano. Não, nada de errado, respondo eu. Só acho um certo exagero.

Eu mesmo, de dez vezes que ligo o micro, nove uso só Word ou Word e Excel. O Excel, diga-se de passagem, uso há anos e gosto tanto que cheguei a começar um livro sobre ele. E enquanto ainda alimentava a vã ilusão de ter tempo para levar o projeto a cabo, passei dias estudando o programa. Lia tudo que me caía nas mãos sobre ele - inclusive, evidentemente, o manual - e passava horas a fio "brincando" com bicho para descobrir seus macetes. Por isso me considero um razoável conhecedor de Excel. Pois bem: somente hoje, e inteiramente por acaso, descobri que para adicionar uma nova série de dados a um gráfico existente basta selecionar as células que contém os dados e arrastar a seleção para o gráfico (se for experimentar, não esqueça que para arrastar uma seleção é preciso iniciar a ação com o cursor sobre a borda dupla que circunda a área selecionada). Uma coisa fantasticamente útil que eu, usuário experiente, ignorava.

Sim, e o que tem você a ver com minha ignorância? Provavelmente nada. Mas seguramente terá a ver com a sua. Que, aposto, não é muito menor que a minha. Pois garanto que você não conhece nem cinco porcento dos recursos do programa que mais usa. E se conhecer, aí sim: é a exceção que confirma a regra. Porque ninguém conhece. Duvida? Então, se você é usuário do MS Word, com certeza sabe o que acontece quando se tecla Shift+F3 sucessivamente após selecionar um trecho do texto, pois não? Um expert como você jamais ignoraria uma coisa assim tão útil...

Pois é isso. E se somente agora você acabou de se dar conta de como conhece pouco o programa que até então tinha tanto orgulho de dominar, não se aflija: quase tudo que você ignora, provavelmente não precisaria mesmo saber. Ou será que você costuma usar com freqüência notas de rodapé? Ou criar índices analíticos automaticamente? Ou ainda trabalhar com documentos interligados a um documento mestre? Ou, quem sabe, efetuar análises complexas de problemas com múltiplas variáveis? Porque tem coisa aí dessa lista que eu, que uso micro dez horas por dia, nunca precisei.

A verdade, meu caro amigo micreiro, é que os programas que a gente usa são capazes de fazer muito mais do que a gente precisa. Usá-los para executar nossas tarefas do dia-a-dia é mais ou menos como ir de caminhão basculante ao shopping para buscar compras que cabem em um fusca: você traz tudo para casa do mesmo jeito, mas manobrar aquele trambolho no estacionamento dá um trabalho medonho.

Isso tudo me ocorreu ao ler o manual do Works para Windows, um programinha integrado da Microsoft. Que tem um editor de textos, uma planilha eletrônica e um banco de dados e que ainda traz de lambuja um programeto de comunicações, um editorzinho gráfico simplezito mas decente e mais meia dúzia de bobagens. Olhado assim de esguelha dá a impressão de ser, digamos, o Office dos pobres. Talvez seja mesmo: custa menos de um terço do que você pagaria pelo Office ou por um dos integrados do mesmo calibre como o Smart Suite da Lotus - digo, IBM - ou o Perfect Office da Word Perfect - digo, Novell. Com certeza não faz tudo o que faz um bicho desses. Mas sou capaz de apostar que faz tudo o que você precisa.

Pelo menos faz tudo o que eu preciso: usa e abusa do OLE, de modo que é fácil criar tabelas na planilha eletrônica e embuti-las em um documento do editor de texto. Permite incluir figuras nos documentos e faz o texto fluir em torno delas automaticamente. Tem um help que é um primor, além dos "wizards" (que, em português, são chamados de "consultores" - um nomezinho meio besta, mas fazer o que...) que guiam passo a passo os usuários menos experientes nas tarefas mais complexas. Tem uma planilha bastante razoável e um banco de dados - digamos, um tamborete de dados - mais que suficiente para armazenar informações sobre os clientes, que poderão ser utilizadas para criar cartas circulares personalizadas, uma das funções que o Works faz tão bem quanto os irmãos maiores. E um editor de textos que, quem diria, aceita até notas de rodapé. Eu me atreveria mesmo a dizer que ele é tudo que se precisa para informatizar uma pequena empresa. Com dupla vantagem sobre os integrados mais poderosos: é mais fácil de usar e muito mais barato.

O Works - assim como o seu igualmente eficiente congênere para o OS/2, o IBM Works, née Footprint Works, que agora vem embutido no sistema operacional - já existe há anos. A versão para DOS é minha velha conhecida: uso-a há pelo menos dez anos - entre outras plataformas, em meu micrinho palmtop. Já dei até curso de Works.

Mas se o Works é um aplicativo assim tão antigo, tão simples de usar, tão barato e tão completo, por que é tão pouco conhecido? Bem, é que ele não "faz tudo" que faz o Office, por exemplo. Não importa se nesse '"tudo" estão incluídas principalmente coisas que o usuário comum jamais precisará e, por isso mesmo, desconhece completamente. No mundo dos micreiros, se o programa não "faz tudo", não serve.

Por isso, se você pretende experimentar o Works para ver se ele presta mesmo, fique ciente que sua planilha eletrônica não é tridimensional nem trabalha com tabelas relacionadas. E o editor de textos desconhece referências cruzadas, não numera legendas automaticamente nem faz a menor idéia de como criar um índice remissivo.

Depois, quando sentir falta desses recursos elementares, não diga que não avisei.

B. Piropo