Escritos
B. Piropo
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04/09/1995

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Windows 95 chegou, afinal. E aqui por essas bandas foi recebido com a devida pompa e circunstância. Que merecia um evento assim tão esperado: aconchegou-se nas entranhas de um micro montado especialmente para a ocasião. Ou quase: a verdade é que há meses ele esperava para ser montado e por razões que não vale a pena mencionar, sempre faltava um pedaço. Como só semana passada consegui juntar todos os pedaços, aproveitei e inaugurei-o com o novo sistema. Que já conhecia de beta - e da última beta para a versão final a mudança foi tão pequena que mal percebi. Mas a beta usei pouco: afinal, era beta. Somente agora estou me familiarizando melhor com o bicho. E me sinto assim meio deslocado, tipo quem acabou de se mudar, não se habituou com a casa nova e ainda demora para encontrar seus utensílios de uso diário. Cadê meu chinelo? Onde se escondeu o Control Panel? Mas desde já declaro: por mais que respeite as milhares de horas de pesquisa do grupo de usabilidade da MS, decididamente não gostei dessa novidade de mover a seleção quando o cursor do mouse desliza sobre o menu. Mas tudo bem: vou dar um tempo, usar mais um bocado, instalar novos programas e ver como reage o novo animal. Que tem também um monte de novidades boas. Algumas excelentes. Deixa eu usar mais, que volto a ele.

Mas, mesmo com uma experiência limitada no uso do novo Windows, desde já posso anunciar um imenso progresso. E alegra-me ser o arauto de uma notícia de tamanha importância, de tal forma alvissareira e tão ansiosamente esperada: acabaram-se as GPFs. Sim, regozijai-vos ó fieis usuários de Windows, a praga maldita já não mais existe: as General Protection Faults foram banidas para todo o sempre. É verdade que agora existe uma coisa muito parecida, chamada Exception Fault ou algo semelhante. Tão parecida que, não fosse a mensagem de erro garantir que se tratava de uma exception-não-sei-o-que-lá, eu seria capaz de jurar que estava diante de uma GPF: a mesma máquina travada, a mesma tela azul e caracteres brancos, a mesma mensagem dizendo que um aplicativo havia executado uma instrução ilegal no endereço tal-assim-assim e a mesma recomendação para encerrar o aplicativo ou reinicializar a máquina. Muito parecida mesmo. Mas não poderia ser uma GPF, já que Windows 95 não sofre mais desse mal e, como já disse, tratava-se de uma máquina virgem e inconspurcada, que jamais conhecera nada que não fosse Windows 95 (fora, é claro, os obrigatórios MS-DOS 6.2 e Windows 3.11, já que a versão de Windows 95 era de atualização). O estranho é que, segundo a mensagem, quem provocou a cangancha foi justamente o Explorer, ou seja, um dos componentes básicos do sistema. Que consta ser de 32 bits e portanto não deveria fazer estrepolias dessa monta. Mas seja como for, não se pode dizer que não houve evolução de 3.0 para 95: os Unrecoverable Application Errors transformaram-se nas General Protection Faults que agora trouxeram à luz as Exception-não-sei-o-que-lá. Um bom sinal. Se fosse como anunciavam, com o plug-and-play e sem um sucedâneo para as GPFs, a vida do micreiro perderia toda a graça.

Incidentalmente: durante o lançamento estava eu de tal forma embevecido com o show de Mr. Gates demonstrando ser seu novo produto tão superior a tudo o mais que havia antes, que quase não ouvi o comentário da jovem e simpática senhora a meu lado: "Puxa, nunca vi ninguém esculhambar tanto seu próprio produto". Mas como? - disse eu. Afinal ele estava cobrindo de elogios o Windows 95. "Sim", respondeu ela, "mas me refiro ao Windows 3.11". E só então notei que, ao que parece, o mancebo havia repentinamente se dado conta de todos os defeitos que há anos se dizia que Windows 3.x tinha e que ele jurava que não, tipo recursos do sistema e coisas que tais. E quanto mais ele comparava Win 95 a Win 3.x, mais a coisa ficava evidente. A ponto de dizer, textualmente, que Win 95 "reduz as limitações" de Win 3.x. Talvez, quem sabe, preparando-nos para a viagem ao Cairo que, esse sim, eliminará tais limitações.

Mas se Bill Gates atrasou pelo menos dois anos o lançamento de seu produto, Mestre Ramalho foi mais rápido e lançou o seu no tempo exato. Tanto, que assisti o show do Bill com o livro do Ramalho embaixo do braço. Que foi minha leitura aérea no caminho de volta e tem morado em minha cabeceira desde então. Trata-se de "Iniciação ao Microsoft Windows 95", de José Alves Ramalho, editado pela Makron e inserido na Série Ramalho de Informática (vejam só, meu simpaticíssimo amigo Ramalho virou série, quem diria). Não é um calhamaço: tem enxutas 230 páginas abundantemente ilustradas. Ou seja: mais do dobro do raquítico manual, que só tem 97. O livro aborda todo o necessário para o que eu chamo de "desasnar" usuário principiante em Win 95 e fazê-lo começar a desbravar os caminhos do novo sistema. E é escrito na linguagem simples e direta do Mestre Ramalho que você conhece (se não conhece, devia: o homem é tão agradável de ler quanto de conversar com).

E por falar em ler: descobri que esse modesto escriba é lido em plagas nunca dantes imaginadas. Pois não é que recebi um telefonema do Aloizio, um leitor do jardim d'Europa a beira mar plantado? Que cá esteve durante a Comdex SP e me ligou não só para pedir uma cópia das colunas ("se chego lá sem elas me matam", exagerou) como também para informar que em Lisboa "o Globo de segunda-feira é disputado a tapa". Segundo ele, por causa de minhas colunas, ô pá. Um evidente elogio de admirador, já que no Globo há coisa muito melhor que essas mal traçadas (vide a coluna do João Ubaldo; um dia, quando eu crescer, quem sabe chego perto do conterrâneo). Seja como for, o Aloizio levou daqui minhas saudações aos amigos d'além mar, um disquete com as colunas (em ficheiros, naturalmente) e a autorização para distribui-las, de preferência via BBS. E um forte abraço aos meus leitores luzitanos, ora pois.

E já que falamos em longínquas plagas, uma notícia de outras não tão distantes onde essa coluna também chega: semana que vem, mais precisamente de 12 a 15 de setembro, vai rolar o quarto Infonordeste 95. Promovido pela Sucesu/PE, o evento que se realizará no Centro de Convenções de Pernambuco, no Recife, constará de uma feira em paralelo com congresso, minicursos, seminário, forum e paineis. O tema será "Redes mundiais: comunicação sem fronteiras" - o que leva a crer que a Internet será o assunto principal, mas não o único. Os organizadores esperam um público de cem mil visitantes na feira e oitocentos participantes no congresso. E muito provavelmente não se decepcionarão: Recife é um dos pólos mais importantes do Nordeste e por lá, como comprovei recentemente em Natal, há um enorme interesse pela informática.

B. Piropo