Escritos
B. Piropo
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21/08/1995
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OS/2 é um sistema operacional de 32 bits para PC capaz de executar multitarefa preemptiva tanto de programas nativos quanto de programas Windows e DOS, que usa uma interface gráfica e é inteiramente orientado para objetos.

Um sistema operacional "de 32 bits" é aquele capaz de se aproveitar das características avançadas dos microprocessadores com registradores de 32 bits. As mais importantes são a capacidade de executar diversas tarefas ao mesmo tempo (multitarefa), de "enxergar" a memória como um único segmento de 4Gb (memória plana) e de simular um número ilimitado de XTs rodando DOS ao mesmo tempo (Máquinas DOS Virtuais). Note que são características da CPU, não do sistema operacional - que apenas sabe tirar proveito delas. O DOS, por exemplo, não sabe.

Porque consegue se aproveitar das capacidades da CPU de 32 bits, o OS/2 é capaz de multitarefa. Tudo bem, Windows 3.x também é. A diferença é que no Windows 3.x quem controla a multitarefa são os programas, enquanto no OS/2 quem faz isso é o próprio (aproveitando-se da possibilidade de criar máquinas virtuais, o OS/2 carrega cada programa DOS ou Windows em uma máquina virtual independente e protege os trechos de memória usados por cada uma delas das ações dos programas que rodam nas demais). Por isso as famosas GPF são tão comuns em Windows: se um programa faz uma bobagem, prejudica a todos os outros travando a máquina. No OS/2, tudo o que pode fazer é prejudicar a si mesmo: os demais continuam rodando. Por isso diz-se que a multitarefa do OS/2 é preemptiva, mesmo para programas DOS e Windows, enquanto a de Windows 3.x é cooperativa, pois depende da cooperação dos programas. Já em Windows 95 será preemptiva apenas para os programas desenvolvidos para ele. Para os atuais, será cooperativa como a de Windows 3.x.

Interface gráfica, nos dias de hoje, todo o mundo sabe o que é: uma tela cheia de figurinhas que representam programas ou dispositivos, acionados com cliques de mouse. No OS/2, cada "figurinha" é um "objeto", ou seja, uma entidade capaz de determinadas ações. Por isso diz-se que ele é "orientado para objetos". Resultado: no OS/2, sobretudo rodando os programas nativos, arrastar um objeto com o mouse e soltá-lo sobre outro seguramente deflagrará uma ação. Em Windows 3.x isso nem sempre acontece. Em Windows 95 acontecerá na maioria das vezes, mas não em todas. A diferença é que, graças a um recurso denominado SOM (System Object Model), a orientação para objetos no OS/2 é inerente ao próprio sistema, enquanto em Windows dá a impressão de lá ter sido encaixada à golpes de marreta. Um exemplo: tanto o OS/2 quanto Windows 95 permitem criar "representantes" de objetos em mais de um local (no OS/2 chamam-se "sombras", no Windows 95 "atalhos"). Pois bem: se você criar diversos deles e depois mover o original para um disco diferente, o OS/2 ajustará automaticamente todas as sombras. Windows 95 se perde, transformando o atalho em um objeto sem sentido, um representante que perdeu o vínculo com o representado e já não serve para mais nada. Em suma: ele se torna um atalho para lugar nenhum.

Nos últimos meses, na medida que se aproximava o lançamento do Windows 95, começaram a aparecer resenhas nas publicações especializadas comparando o OS/2 com o Windows 95 (algumas incluíam ainda o Windows NT, o sistema operacional de 32 bits para redes da Microsoft). E a maioria delas chegou a uma curiosa conclusão que pode ser resumida mais ou menos assim: apesar do OS/2 ser um sistema operacional de 32 bits tecnicamente superior, provavelmente Windows 95 dominará o mercado. Uma conclusão fácil de entender, mas difícil de explicar. Vamos tentar.

A razão mais importante talvez seja a disparidade entre a capacidade da Microsoft e da IBM em vender seu peixe (e seu produto). Enquanto a MS dá show no que toca à comunicação com o usuário, a IBM, por mais que se esforce, ainda não perdeu o ranço dos tempos em que só lidava com corporações. Resultado: o micreiro comum, aquele que decide a sorte dos sistemas operacionais, sente muito mais empatia pela MS. E marketing igual ao da MS ainda estou para ver. Um marketing capaz de vender qualquer coisa. O fato do produto ser bom (Windows 95 talvez não seja tecnicamente tão bom quanto o OS/2, mas sem dúvida é um bom produto) só faz ajudar.

Mas não é só isso. Há também alguns detalhes a que os especialistas dão pouca importância mas que podem decidir o destino de um produto. Como a instalação. A de Windows 95 é suave como seda. A do OS/2, apesar de já ter melhorado um bocado, ainda é uma espécie de purgatório: há que padecer nele antes de chegar ao paraíso dos 32 bits. Outro exemplo: enquanto a interface gráfica do OS/2 foi concebida para ser funcional, a de Windows 95 parece ter sido desenvolvida para ser atraente. Tudo bem, do ponto de vista técnico sem dúvida o produto mais funcional é melhor. Mas o mais atraente vende mais. E pouco adianta ser melhor se não vender.

E, last but not least, há a questão dos aplicativos. Sou capaz de apostar que em menos de seis meses os programas de 32 bits para Windows 95 se contarão às dezenas (não falo de programetos desenvolvidos com o Visual Basic, mas de títulos de primeira linha como CorelDraw, WordPerfect e WinFax - além, é claro, dos aplicativos da própria MS). Enquanto isso a versão de 32 bits do OS/2 está prestes a completar três anos. Pergunte ao mais feroz usuário OS/2 por seus aplicativos de 32 bits e, fora um ou outro shareware e os que são fornecidos com o sistema, ele dificilmente citará mais de meia dúzia. Eu mesmo procuro, se possível, só usar programas OS/2. E nunca consegui usar mais que três ou quatro (falo dos sérios). Esse texto, por exemplo, está sendo digitado dentro do OS/2. Mas usando um editor de textos para Windows.

Ainda assim é vantagem, dirá o usuário típico do OS/2: sua multitarefa preemptiva é muito mais segura, com ela nenhum outro programa poderá afetar a máquina virtual do editor de textos e meu trabalho não corre riscos. Talvez ele tenha razão. Mas será que todo mundo pensa assim? Afinal, de acordo com o ponto de vista do usuário comum, para rodar programas Windows basta-lhe Windows. Para que ele precisa do OS/2?

E essa é a questão. Da qual, diga-se a bem da verdade, a IBM sempre esteve consciente. Tanto, que fez tudo o que estava a seu alcance para convencer os desenvolvedores independentes que deviam migrar seus programas para o OS/2. Infelizmente, porém, não foi bem sucedida. E esse talvez seja o fator decisivo. Porque, por mais que os usuários do OS/2 como eu se encantem com suas características avançadas, ninguém compra um sistema operacional para rodar o sistema operacional.

As pessoas compram um sistema operacional para rodar programas.

B. Piropo