Escritos
B. Piropo
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07/08/1995
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Já lá se vão quase quatro anos. Os leitores mais antigos ainda hão de lembrar da "Memória Virtual", uma coluna parecida com a atual "Input". Eu a escrevia, e fui procurado por um jovem representante da Opção Informática, uma softhouse de Minas Gerais que havia desenvolvido um gerenciador de dicionários. Queria negociar os direitos de minhas definições para um dicionário de informática.

Fazer o dicionário nunca me interessou: não havia material suficiente, e transformar aquelas poucas definições em um dicionário daria um trabalho infernal. Mas instalei o programa para ver do que se tratava. E me encantei. Era o "DIC - Dicionário Eletrônico". Rodava sob DOS, como um programa residente. Para quem descobriu a informática nos tempos de Windows e OS/2, o conceito não faz muito sentido, mas naqueles tempos, era uma mão na roda: "residente" era um programa que rodava sempre em segundo plano. Só aparecia quando a gente precisava dele e acionava um determinado conjunto de teclas, suas "hot keys". No caso do DIC a coisa era particularmente prática para quem usava programas em inglês e não dominava a lingua. Não sabia o significado de uma opção do menu? Pois bastava acionar as "hot keys" do DIC, destacar a palavra misteriosa e bingo: abria-se uma janela na tela com o significado. Um achado. E mais: em uma época em que a maior parte das softhouses nacionais ainda apelava para o recurso indecente da proteção contra cópia, aquela pequena e modesta softhouse demonstrava um invejável respeito pelos seus usuários comercializando seu programa sem proteção alguma e a um custo mais que razoável.

O programa me impressionou tão bem que escrevi uma coluna inteira sobre ele. Na semana seguinte recebi um telefonema de Belo Horizonte. Era o jovem agradecendo os elogios ao programa. Eu disse que nada havia a agradecer: elogiei porque o produto era bom, não era protegido e era vendido a um preço justo. Se não fosse, não elogiaria. Isto posto, nunca mais tive contato com o pessoal da Opção.

Pelo menos até a Fenasoft. Onde encontrei de novo a turma da Opção Informática. Agora maior, mais profissional, com mais produtos.

Um encontro agradável. Sobretudo por se tratar de uma softhouse pequena, brasileira, que consegue sobreviver fora do eixo Rio-São Paulo competindo com as gigantes multinacionais. Soube que o DIC vai muito bem, obrigado. Agora vem em CD-ROM e é fornecido juntamente com o "Correto", um corretor ortográfico, disse-me o mesmo jovem simpático de quatro anos atrás. Não gostaria de conhecer? Claro que sim, disse eu. Dei uma olhada no bichinho rodando em uma das máquinas do estande, achei interessante, peguei uma cópia de avaliação, voltei para casa e instalei.

O DIC continua firme e forte. Mais firme, mais forte e mais crescido que nunca. Agora roda em Windows e incorpora catorze dicionários: da lingua portuguesa, de informática, executivo (termos técnicos de administração, economia e marketing), além de dicionários do português para inglês, francês, espanhol, alemão, italiano e vice-versa. Todos da linha Michaelis, pertencente à Editora Melhoramentos. E pode trabalhar em conjunto com o Word, aninhando seu ícone na barra de ferramentas: basta um clique para o significado da palavra onde está o cursor aparecer na tela.

Já o Correto é um corretor ortográfico que pode funcionar independentemente ou então incorporar-se ao Word. Usa os dicionários do DIC, permitindo escolher aquele com que se vai trabalhar. Ou seja: deixa escolher o idioma em que a revisão ortográfica será feita. Para quem redige em mais de uma lingua, uma ajuda e tanto. Não é perfeito: implicou com minhas reticências, alguns pronomes e tempos de verbo, mas no geral faz um bom trabalho. E tem uma característica que deveria ser obrigatória em todo corretor ortográfico: percorre o texto enquanto o analisa, sublinhando a palavra que está sendo verificada. Quer dizer: você acompanha o serviço vendo o sublinhado se movimentar ao longo do texto. Embora incorporado no mesmo pacote do DIC, o Correto foi desenvolvido pela Textual Informática, também de Belo Horizonte.

Instalei ambos nessa máquina que vos fala, e eles nela permanecerão - o que nem sempre acontece com os programas que avalio. A instalação foi suave e tranquila. Por via das dúvidas, foi feita depois de um boot do DOS, mas agora mesmo acabei de consultar o DIC e fazer a revisão deste texto dentro do Word rodando em uma sessão Windows sob OS/2, e tanto DIC quanto Correto funcionaram perfeitamente.

Como agora o produto vem em CD-ROM, não faz sentido falar em proteção. Mas o preço continua decente: o CD-ROM com o Correto, o DIC e todos os seus dicionarios custa a bagatela de noventa e nove reais. E ainda traz de lambuja o Simple Office, uma espécie de "cara nova" para o Windows (uma interface onde a tela se transforma em uma figura de um escritório na qual, ao invés de ícones, clica-se em pontos da tela para carregar programas: a máquina de escrever carrega o editor de textos, a calculadora carrega a planilha e assim por diante; não é nenhuma maravilha, mas pode ser uma alternativa interessante para quem está cansado da velha cara de Windows).

Pois é isso. O que faz de hoje um dia particularmente prazenteiro, já que, há tantos anos escrevendo sobre programas e produtos de informática, poucas são as oportunidades que tenho de analisar um produto de tão boa qualidade desenvolvido por uma softhouse nacional. Um pequeno grupo de pessoas fazendo um bom trabalho aqui mesmo no patropi. Grupo tão pequeno que no manual do DIC há um agradecimento nominal a todos os funcionários da firma: duas dezenas de pessoas incluindo o pessoal técnico e administrativo.

Quer dizer: para fazer um produto decente, não precisa ser um gigante. Basta ter competência e dedicação.

PS: Olhaí, pessoal do OS/2: não parece, mas amanhã já é a segunda terça-feira do mês. E a reunião do Grupo de Usuários será especial: além do bate-papo habitual, nosso amigo Reinaldo de Medeiros estará autografando seu "OS/2 Warp para Neófitos". No RDC da PUC, na Gávea, às dezenove horas. A gente se vê lá.

 

B. Piropo