Escritos
B. Piropo
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13/02/1995

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Quando um amigo dos tempos em que eu ainda não "mexia com computador" demonstra admiração e espanto por, de repente, eu ter me envolvido tão intensamente com um assunto esotérico como a informática, eu digo, imitando o Caetano, que afinal a informática não é tão esotérica assim. Costumo dizer que aprender a usar o micro é muito mais fácil que aprender a dirigir um carro, com a vantagem de que, se você fizer alguma "barbeiragem", não se arrisca a matar ninguém nem causar danos irreparáveis á máquina. No máximo, perde os dados do disco rígido, e disco rígido de máquina de principiante não costuma conter dados assim tão importantes.

O problema é que há usuários de computador que levam isso demasiadamente a sério. Dirigem bem, mas esquecem do esforço e tempo gastos para aprender a dirigir e, mais tarde, das dificuldades que passaram no trânsito até adquirir prática. E hoje, pilotando seus micros, esperam maravilhas da máquina sem que eles façam o menor esforço.

Dia desses, nas minhas raras incursões pelos BBS da praça, encontrei em uma mensagem do Alberto Gambardella no CentroIn, a pérola que hoje trago para vocês. É uma dessas mensagens que rolam pela Internet. Infelizmente, sem menção ao autor. Pedi ao Alberto que tentasse identificá-lo, mas ele não conseguiu. O que é uma pena: gostaria de citá-lo aqui. Como não posso, fica a esse anônimo filósofo o meu agradecimento e a menção explícita que a coisa não é de minha autoria. Nada mais fiz que uma tradução livre (a mensagem original era em inglês) e algumas adaptações.

São diálogos fictícios entre o serviço de atendimento a clientes de uma montadora e pessoas que compraram um carro novo e enfrentam algum tipo de problema. Clientes que tratam seus carros da mesma forma que certos usuários tratam seus micros.

Atendimento: "Boa tarde..."

Cliente: "Boa tarde. Eu acabei de comprar um carro em uma de suas concessionárias e estou com um problema."

Atendimento: "Descreva o problema, por favor."

Cliente: "É que eu entrei no carro, fechei a porta, e não aconteceu nada."

Atendimento: "Mas o senhor colocou a chave na ignição e girou?"

Cliente: "Ignição? O que é ignição?"

Atendimento: "É uma espécie de interruptor que alimenta o motor de arranque com energia da bateria para dar partida no motor."

Cliente: "Ignição? Motor de arranque? Partida? Bateria? Olha aqui, rapaz, eu não sou um especialista. Você quer me dizer que eu tenho que conhecer todos esses termos técnicos complicados só para fazer essa porcaria desse carro andar?"

Atendimento: "Boa tarde..."

Cliente: "Boa tarde. Eu estou com um problema com meu carro novo. Ele só funcionou uma semana e parou."

Atendimento: "O senhor verificou se por acaso o tanque não está vazio?"

Cliente: "Tanque vazio? Sei lá! Como é que eu vou saber se o tanque está vazio?"

Atendimento: "Bem, no painel do carro há um mostrador com o desenho de uma bomba de gasolina e um ponteiro entre duas letras, 'C' e 'V'. O ponteiro está apontando para onde?"

Cliente: "Ah, está apontando para o 'V'. O que isso quer dizer?"

Atendimento: "Quer dizer que o tanque está vazio e o senhor precisa levar seu carro até um posto de gasolina e colocar alguma no tanque. Se for um posto com frentista, ele instala a gasolina para o senhor. Se for um posto 'self-service', o senhor mesmo pode instalar a gasolina em sua máquina."

Cliente: "O que? Olha aqui, rapaz, eu paguei uma nota preta por esse carro. Agora você vem me dizer que ele ainda precisa de mais periféricos? Eu quero deixar claro que acho isso um absurdo! Eu quero um carro que venha de fábrica com tudo o que é preciso para usá-lo..."

Atendimento: "Bom dia..."

Cliente: "Bom dia coisa nenhuma! Como o dia pode ser bom para quem tem uma porcaria de carro como esse que vocês fazem?"

Atendimento: "O senhor me desculpe, mas qual é o problema?"

Cliente: "Ora, o problema é que o motor se arrebentou todo. Fundiu..."

Atendimento: "O senhor poderia descrever em que condições isso aconteceu?"

Cliente: "Claro! Eu arranquei, mas o carro estava andando muito devagar. Então eu apertei o acelerador até o fundo e deixei lá. Ele andou um pouco mais depressa por uma ou duas horas, depois parou e agora o motor não pega mais de jeito nenhum."

Atendimento: "Mas o senhor não trocou de marcha? Não engrenou nem uma segunda?"

Cliente: "Para que? Eu só queria que ele andasse mais depressa. E ele andou. O problema é que, depois, o motor quebrou..."

Atendimento: "Lamento, mas seu caso é de uso inadequado do veículo. É de sua responsabilidade usar o carro corretamente. O que o senhor espera de nós em uma situação como essa?"

Cliente: "Espero que me mande a última versão, uma que não apresente esse bug..."

Atendimento: "Bom dia..."

Cliente: "Bom dia, tudo bem? Eu queria lhe informar que comprei seu carro por causa da transmissão automática, controle por computador, direção hidráulica, vidro e tranca elétricos, ar condicionado e ignição eletrônica."

Atendimento: "Parabens, fez uma excelente compra. E muito obrigado por ter escolhido nosso carro. Mas em que posso lhe ser útil?"

Cliente: "Bem, o que eu faço agora para usar o carro?"

Atendimento: "Mas o senhor não sabe dirigir?"

Cliente: "Se eu não sei o que?"

Atendimento: "Dirigir o carro. Fazer o carro andar. O senhor não é motorista habilitado?"

Cliente: "Olha, meu amigo, eu não sou um especialista em automóveis. Não entendo nada desses tecnicismos. Eu só quero é um carro para ir de um lugar para outro..."

Não sei se me entendem...

PS: amanhã, terça-feira 14 no Rio, e depois, quarta-feira 15 em São Paulo, sempre às 19 hs, as reuniões de fevereiro do Grupo de usuários do OS/2. A do Rio, no RDC da PUC, na Gávea, e a de São Paulo no prédio da IBM da Rua Tutóia. Não é preciso inscrição prévia. Apareça: o Warp está aí com um monte de novidades...

B. Piropo