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06/02/1995
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Semana retrasada, assim sem mais nem menos, ganhei um dia de presente. Um dia inteiro, caindo de graça no meu colo, quando eu menos esperava. Pois acontece que sou escravo de minha agenda. Que já tem compromisso para daqui a mais de mês. No início do ano eu marco, escrupulosamente, os compromissos regulares: dias de entrega das colunas, dias de gravação do programa na CBN e coisas que tais. Assim como todos os feriados, para não marcar compromissos de trabalho em dia de descanso dos outros. Pois não é que esse ano o aniversário da mui leal e heróica cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro me escapou? E como tudo que eu havia marcado para ele só poderia ser feito em dia útil, lá fiquei eu com uma belíssima sexta-feira à minha disposição. Maravilha. Como tempo é o que mais me tem faltado ultimamente, tratei de aproveitar esse que veio de graça para algo de útil. E já que, na mesa ao lado desta de onde vos falo, acumulava-se uma imponente pilha de disquetes, dediquei-me a dar fim a ela. Coisas que chegaram para ser examinadas e, por absoluta falta de tempo, ficaram aguardando a vez. Tinha de tudo. Mas a maioria caía em duas categorias: programas que são fornecidos com hardware e discos de demonstração. Os discos de demonstração foram os mais fáceis. A maioria, simplesmente não interessava. Dá-se uma olhada e bota-se no topo da pilha dos recicláveis. Outros estavam com o prazo vencido e nem deu para instalar (inclusive um programa de meu amigo Cavanha, recebido em setembro, que lamentei não ter podido examinar). Mesma pilha. Do resto, aproveita-se pouco: a maioria é puro blá-blá-blá, cantando loas sobre um produto maravilhoso e provando que é impossível viver ser ele. Mas como deu para sobreviver até agora, sempre se pode fazer um esforço e ir em frente mesmo sem contar com o concurso de tão fantástica ferramenta. O que só faz aumentar a pilha dos recicláveis. Finalmente, há aqueles que trazem uma versão "light" (ou "lite", conforme a moda atual) de um programa: uma versão operacional, mas não completa. Ao fim e ao cabo, apenas dois destes ocuparam definitivamente (ou pelo menos até que o espaço venha a ser necessário para outro fim) um lugar em meu disco rígido. Um deles foi o Visio, da Shapeware. Um programa interessante para desenhar organogramas, árvores de decisão e coisas que tais, na base do drag and drop. O outro foi o "Icon Hear It", da Moon Valley, um utilitário para Windows. Na verdade, não sei se "utilitário" seria a categoria correta: ele é mais um brinquedo. Permite agregar sons a ícones, de forma que ao se abrir um programa ouve-se uma bobagem qualquer (cada ícone, uma bobagem diferente), animar ícones, mudar a forma do cursor e usar cursores animados, mudar o wallpaper e o screen saver de Windows e outras baboseiras do mesmo quilate. Um brinquedo, mas um brinquedo interessante. O resto, dançou. Perdi algum tempo com eles, mas ganhei em troca uma razoável pilha de disquetes que certamente serão empregados para fins mais nobres. Da outra categoria, também um pouco de tudo. Programas de backup que vieram com meus drives de fita streamer, organizadores pessoais que nem sei com o que vieram e, principalmente, programas de comunicação e fax que vieram com os modems. A maioria não vale grande coisa. Mas houve um que, sem dúvida, seria entronizado com toda a pompa e circunstância em minha máquina não fosse por um pequeno detalhe que, diga-se de passagem, nem é culpa dele mesmo. O programa é o Super Voice, da Pacific Image Communications. Roda em Windows e veio com o modem Zoom 14.4V. Esse "V" aí do final é de "Voice", ou seja, informa que o modem é dotado de capacidade de processar voz. Capacidade que deve a um chip DSP (Digital Signal Processor) muito interessante. Olhando-se para o modem, ele só difere do anterior, também um Zoom 14.4 externo, por um led a mais, sobre o qual aparece um singelo "MSG". E funciona igualzinho ao velho quando eu uso meus programas habituais de fax e comunicação. Mas com o Super Voice, é o bicho... O Super Voice transforma esse mero computador que vos fala em uma central inteligente para gerenciamento de mensagens telefônicas e fax. Inteligente mesmo. Assim como uma super-secretária eletrônica que atende o telefone e diz algo parecido com: "Se você quer deixar uma mensagem, disque um; se quer enviar um fax, disque dois; se quer receber um fax, disque três; se quiser falar com o operador, disque quatro". Agora, vamos supor que aqui em casa morassem duas pessoas: eu e a Bruna (afinal, se é para supor, vamos usar a imaginação da forma que melhor me convier...). Se o Super Voice detectasse que alguém discou um no telefone remoto, dispararia: "se a mensagem for para o Piropo, disque um; se for para a Bruna, disque dois". E, conforme o que fosse discado, gravaria a mensagem na minha caixa postal ou na da Bruna (o programa suporta até 99 caixas postais: dá para montar um harém). E, sem a senha da caixa postal, nem eu poderia ouvir as mensagens para ela nem ela poderia ouvir a mensagem da Sabateli me convidando para jantar. Já se a intenção fosse enviar um fax, ao detectar que discou-se dois após a primeira mensagem, o Super Voice enviaria imediatamente a portadora para receber o fax, que ficaria gravado no disco rígido para consulta posterior. E se fosse discado três, ele dispararia mais uma mensagem listando até nove faxes pré gravados e informando o número a ser discado para receber cada um deles - o que é muito útil para empresas que pretendem enviar, por exemplo, listas de preços ou características de produtos por fax sem intervenção humana. Finalmente, se mesmo diante de tanta tecnologia o interlocutor insistisse em falar com alguém, bastaria discar quatro: o Super Voice obedientemente encaminharia a ligação e faria soar o telefone. As mensagens - tanto as emitidas pelo Super Voice quanto as recebidas - permanecem gravadas no disco rígido e podem ser removidas após ouvidas. E nem é preciso placa de som para ouvir (ou gravar) as mensagens: basta usar o próprio telefone. Para ser perfeito, só falta receber arquivos via modem. Coisa que a Pacific promete para a próxima versão. Ah, já ia esquecendo: como vocês devem ter adivinhado, o led "MSG" do modem acende quando há mensagens recebidas e ainda não ouvidas. Uma maravilha. Um negócio que eu sempre sonhei, a única coisa capaz de manter meu micro permanentemente ligado, dia e noite. Pena que vou ter que extirpar essa pequena jóia do meu disco rígido. Porque, aqui no patropi, pelo menos por enquanto ele é praticamente inútil: só reconhece os números discados em telefones que usam tons, ao invés dos irremediavelmente obsoletos pulsos usados na imensa maioria das centrais telefônicas brasileiras. Mas não tem nada não: vou guardar o programa e torcer para que, quem sabe, um dia cheguemos lá... Pois é isso. E, ao anoitecer do dia que ganhei de presente, me dei conta que havia gasto todo ele brincando com meu computador. Deus do céu, eu preciso é tomar tenência na vida... B. Piropo |