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05/12/1994
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< Um Tema Recorrente > |
Eu nunca fui a uma COMDEX Fall. E por boas razões. Além de não gostar de Las Vegas, tenho certeza que não conseguirei percorrê-la toda, o que iria me deixar aflitíssimo. Pois essa COMDEX, eu sei, é maior que a outra, a COMDEX Spring, a qual tenho comparecido regularmente nos últimos anos. Maior e mais espalhada: enquanto a Spring rola em dois ou três pavilhões, enormes porém vizinhos, a Fall, dizem, se espraia por um monte de pavilhões, igualmente grandes, porém distantes. E a Spring chegou ao meu limite: credenciando-me no domingo e, de segunda a sexta, chegando cedo e saindo no encerramento, planejando o trajeto cuidadosamente, abstendo-me de permanecer demais nos estandes mais atraentes e não desperdiçando tempo em atividades menos nobres como comer e descansar, no final da tarde de sexta-feira chego ao último corredor. Exausto, porém feliz e com a consciência do dever cumprido. Sensação que, tenho certeza, não experimentaria na de Las Vegas - o que seria insuportável. Por isso lá não vou. Não vou, mas tenho curiosidade sobre o que lá acontece. Portanto, tão logo Cora e Cristina voltaram, corri para a redação para saber das coisas. Feitas as saudações de praxe, perguntei pelas novidades. "Ah, desta vez é fácil", respondeu Cristina. "A maior novidade é que a gente vai ter que aprender tudo de novo..." Depois explicou: viram um mundo de coisas novas e constataram que quase tudo o que existe hoje - e que a gente sabe - estará obsoleto em um par de anos. Portanto, para quem quer se manter atualizado, não há alternativa senão aprender tudo de novo. O que me remete a uma pergunta que um dia me foi feita. É que meu primeiro PC foi comprado em 1987. Antes dele tive por alguns meses um MSX. Antes do qual eu nada sabia de computador. E quatro anos depois, por artes da Cora, me via eu deitando regras sobre informática aqui no caderninho. Pois a pergunta data dessa ocasião: como seria possível que eu, nada sabendo de computadores, em quatro anos me tornasse uma autoridade no assunto? Fácil, respondi. Primeiro eu não era - nem sou - autoridade alguma. Era apenas um usuário razoavelmente bem informado sobre alguns aspectos técnicos de um campo limitado de conhecimento. Segundo, a coisa era mais fácil do que parecia. Pois eu já estava então ciente que o progresso tecnológico nesse campo particular de conhecimento era tão febril que qualquer coisa com mais de três anos já estava irremediavelmente obsoleta. Portanto qualquer um que acompanhasse atentamente os acontecimentos durante três anos deteria todo o conhecimento útil naquele momento particular. E, na ocasião, eu já acompanhava há quatro. Pois bem: há poucos dias fui ao jantar anual de minha turma de engenharia. Como a turma graduou-se nos idos de 63, a coisa estava mais para folguedo geriátrico que para trêfego congraçamento. Mas é sempre um enorme prazer rever os coleguinhas (em tempo: faltou o Antonio Martins Filho; por onde anda você, velho amigo? Se acaso ler estas mal traçadas, mande notícias). Muitos dos quais, para minha grata surpresa, me acompanham semanalmente aqui nesse pé de página. O que fez com que, cedo ou tarde, o papo descambasse para informática. E, mais especificamente, para essa coluna. Como, além de colegas e amigos, eram todos gente fina e educada, choveu elogios. Mas, a páginas tantas, mestre João Machado, de cuja amizade me orgulho desde os tempos do vestibular, emitiu uma opinião interessante. Dizia ele que o problema é que aqui fala-se muito do futuro. O que é bom, evidentemente. Mas melhor seria se falássemos mais do presente, que interessa mais de perto aos usuários. Das muitas e vastas qualidades de meu amigo João ressalta, pelo brilho e agudeza, a sensatez. E a opinião de um amigo sensato tem seu peso. Trocando em miúdos, quis ele dizer que por mais interessante que seja saber que dentro de um ou dois anos o Power PC será uma máquina fabulosa ou que ano que vem Windows 95 será um formidável sistema operacional, ainda mais interessante seria saber como fazer funcionar sem tropeços ainda este ano seu 386 com Windows 3.1. Porque Power PC ou Windows 95, talvez ele ainda venha a ter, quem sabe, um dia. E, se e quando tiver, terá um profundo e urgente interesse por eles e por suas peculiaridades. Mas um 386 ele tem hoje, e os problemas pipocam a toda hora. O que ele gostaria mesmo de saber é como resolvê-los. E, como sei desde que traçamos juntos o cabeludo problema das duas reversas no vestibular de 58, o João tem sempre razão. Por outro lado, atendo-me aqui apenas aos problemas do dia a dia e deixando de lado as tendências futuras, há o risco de descambar para o perigoso terreno da obsolescência. E despertar a crítica oposta, fazendo crer que a Trilha Zero "parou no tempo". O que muito me desgostaria, principalmente porque um dos meus grandes prazeres ainda é fuçar as instigantes novidades tecnológicas da informática. Como vocês vêem, este é um tema recorrente: como fazer o conteúdo desta coluna contentar a gregos e baianos. Sem jogar conversa fora, sem ir demasiadamente fundo nas tendências futuras, sem ficar superficialmente demais nos problemas do dia a dia. Problemazinho danado. Mas que, como todo problema, tem que ter uma solução (pelo menos é assim que eu penso; e até que tem funcionado...) Pois Cora, Cristina e eu já andamos discutindo o assunto e chegamos a perto de um consenso. Que, espero, será implementado em breve. Contentar a todos, bem sei, é tarefa impossível. Mas, tomara, vamos chegar mais perto. Aguardem. PS1: Semana que vem, na segunda terça-feira (no Rio) e segunda quarta-feira (em São Paulo) do mês, vão rolar as reuniões dos respectivos Grupos de Usuários do OS/2. A do Rio no RDC da PUC, na Gávea, às 19:00hs do dia 13/12. A de São Paulo na IBM da Rua Tutoia, também às 19:00 de 14/12. Com o recente lançamento do Warp, a coisa vai ferver. Não é preciso inscrição prévia: basta aparecer e participar. PS2: Recebi semana passada uma caixa sem remetente contendo apenas três disquetes sem rótulo. Inspecionando-os na máquina reserva cujo disco rígido estava prestes a ser reformatado e, ainda assim, sem rodar nenhum executável, descobri que continham a versão 4.0 do XTreeGold para DOS. Essa versão, que rola por aí, não existe. Pelo menos a Symantec assim afirma. Ao que parece algum debilóide editou os arquivos da última versão e substituiu todos os caracteres "3.0" por "4.0". Sabe Deus que outras modificações o palerma andou fazendo, de modo que se você tem esse negócio espúrio em sua máquina, melhor se cuidar. De qualquer forma, seja quem for o remetente, obrigado pelos disquetes: eram de boa marca e estavam em bom estado. Já reformatados, servirão a fins mais nobres que espalhar virus em máquinas alheias. B. Piropo |