Escritos
B. Piropo
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10/10/1994

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Os drives que obedecem ao padrão QIC são os mais usados nos micros, mas não os únicos para backup em fitas. Alguns, mais antigos e já praticamente em desuso, são de interesse apenas histórico. Outros são modernos, mas seu preço elevado faz com que, por enquanto, sejam usados apenas por empresas cujos dados são tão valiosos que justificam o investimento. Por isso serão abordados aqui de forma muito sumária.

Começando pelos antigos drives de carretel aberto. Quem já viu um filme de ficção científica onde aparece um computador, sabe como são: enormes carreteis de quase trinta centímetros de diâmetro (10"1/2, para ser exato) que giram velozmente para mostrar como um computador é uma máquina poderosa. Em um bicho destes cabem 3600' (1097m) de fita de 1/2" que, na densidade de 1600 bits por polegada (a mais comum da época em que eram usados), armazenavam 40Mb de dados em nove trilhas paralelas (uma para cada bit e mais uma para o controle de paridade). Como não há de ser fácil enfiar um carretel de 10"1/2 em um drive de 5"1/4, os drives de carretel aberto eram maiores que um micro moderno, quase do tamanho de uma geladeira pequena. E como mover em alta velocidade - e parar no ponto exato - um carretel destes exigia motores robustos e precisos, os drives custavam milhares de dólares. Hoje só existem em museus, instalações antigas e, evidentemente, ainda no cinema.

O sucessor do carretel aberto foi o sistema 3480. Recebeu o nome do computador de grande porte da IBM em que foi usado pela primeira vez. Era pouco mais que um carretel aberto contido em um cartucho de 4"1/4 x 4"1/4 x 3/4" (10,8cm x 10,8cm x 1,9cm). Apesar do tamanho menor, o aumento do número de trilhas para dezoito e o uso de meios magnéticos de maior coercitividade suportando maior densidade de dados permitiram armazenar centenas de MB em um cartucho 3480. Mas seu drives são caríssimos e os poucos que ainda são usados estão em máquinas de grande porte.

Há ainda o Videotrax, da Alpha Microsystem, que aproveita a tecnologia de vídeo para armazenamento de backup. Usa uma fita de vídeo VHS e converte os dados do disco rígido em sinais de vídeo padrão NTSC que podem ser enviados a um aparelho comum de videocassete. O problema é que a qualidade do meio magnético das fitas de vídeo não é critica: uma falha na fita do "Rambo XVII - Mais Uma Missão" fará apenas com que o sorriso do Stallone apareça um pouco mais bovino que o normal. Já o backup necessita de absoluta precisão. Então o Videotrax usa redundância para garantir a integridade dos dados, gravando mais de uma vez o mesmo dado, e complexos algoritmos de correção de erros. Isso reduz sua capacidade e o torna lento.

E, por último entre os menos votados, há o sistema D/CAS (Digital Cassete) da Teac (não confundir com o DAT, que veremos adiante). A fita é semelhante a um cassete de áudio, mas o meio magnético é mais preciso e as partes móveis mais robustas para suportar a alta velocidade com que a fita é movimentada. Por isso os invólucros dos cassetes D/CAS têm uma fenda na parte traseira que encaixa em uma peça do drive, impedindo que uma fita de áudio comum seja usada no drive D/CAS. Os modelos mais recentes, como o MT-01F, armazenam 580Mb em uma fita e o drive custa cerca de US$ 700 nos EUA. É um sistema de alto desempenho, capaz de transferir 15Mb por minuto. Mas é relativamente caro e usa um sistema proprietário da Teac.

E agora, finalmente, os sistemas modernos, de alto desempenho, mas caros demais para nossos micros (bem, pelo menos para o meu...): fitas de 8mm e fitas DAT.

DAT é o acrônimo de Digital Audio Tape, ou fitas de áudio digital. Mas não se iluda com o termo "áudio": elas foram concebidas para gravações profissionais de altíssima fidelidade, usando som digitalizado, onde a precisão é tão importante quanto a do backup. E as fitas de 8mm também são usadas para vídeo digital. Ambas empregam uma tecnologia importada dos gravadores de videocassete, a varredura helicoidal.

A varredura helicoidal é uma forma engenhosíssima de suplantar um obstáculo. Que é o seguinte: caso se continuasse usando um cabeçote fixo, por mais que tenha crescido a densidade com que os dados são gravados na fita, para fazer face às altas taxas de transferência exigidas pelo mercado a fita teria que se mover em uma velocidade impraticável. Então, para aumentar a velocidade relativa entre a fita e as cabeças, a solução foi usar mais de uma cabeça de gravação em um único cabeçote cilíndrico, fazer a fita "abraçar" o cabeçote e obrigá-lo a girar em alta rotação (2000 RPM).

Se você está imaginando como a coisa funciona, provavelmente já deve ter percebido que parece impossível: usando trilhas paralelas ao eixo da fita, a medida que a fita se desloca e o cabeçote gira, as cabeças gravam os dados em cima da mesma trilha e acaba-se com dado gravado sobre dado. A solução foi inclinar o cabeçote lateralmente em relação ao eixo da fita. Com isso, a medida que o cabeçote gira e a fita avança, as cabeças continuam gravando trilhas paralelas entre si, mas inclinadas diagonalmente em relação ao eixo da fita, atravessando-a de uma borda a outra. Devido às posições relativas da fita e do cabeçote, as trilhas são ligeiramente curvas e seu desenho forma um conjunto de curvas que a geometria tridimensional chama de "hélice", advindo daí o nome "varredura helicoidal". O resultado é uma densidade de dados muito maior, já que aproveita quase toda a área da fita.

As fitas de 8mm são idênticas àquelas fitas pequenas usadas para vídeo. As fitas DAT são as mesmas usadas para gravação de áudio digital, com 4mm de largura. Além disso, a única diferença essencial entre os dois sistemas é o processo ainda mais sofisticado empregado pelos drives de fitas DAT, que usa dois cabeçotes inclinados em ângulos opostos, gravando dois conjuntos de trilhas paralelas que cortam a fita diagonalmente em sentidos opostos. Estas trilhas, evidentemente, se cruzam. Mas as cabeças de leitura, que adotam a mesma inclinação (ou "azimute") da cabeça de gravação correspondente, não se confundem porque recebem com maior intensidade os sinais provenientes do material magnético gravado pela cabeça de mesmo azimute. Um sistema diabolicamente engenhoso que permite espremer até quatro Gigabytes de dados em uma fita DAT de 4mm de largura e 90m de comprimento. As fitas de 8mm, por serem mais largas e mais longas, mesmo com um único conjunto de trilhas paralelas conseguem armazenar até cinco Gigabytes. Estes sistemas são rápidos (drives DAT transferem até 8Mb/min e drives de fitas de 8mm chegam a 10Mb/min) e de grande capacidade, mas são os mais caros. Nos EUA um drive para fita DAT custa perto de US$ 1000 e um drive para fita de 8mm, acima de US$ 1600.

Pronto. Com isto acabamos a série sobre drives de fita.

P.S.: Amanhã, como toda segunda terça-feira do mês, mais uma reunião do Grupo de Usuários do OS/2. Será às 19hs, no RDC da PUC, na Gávea. Apareçam.

B. Piropo