Anteriores:
< Trilha Zero > |
|
|
04/07/94
|
<
E o Plug and Play > |
Quem acompanha o que acontece na efervescente arena da informática, vive um momento interessantíssimo: há muito que eu não via tamanha quantidade de opções, tantas e tão instigantes hipóteses, tantas promessas, tanto o que escolher. Por outro lado, quem precisa decidir que equipamento comprar e não tem tempo de fuçar a montanha de publicações especializadas em informática, deve estar passando um mau pedaço. Pois as muitas variáveis podem se combinar de tantas e tão distintas formas que, sem um mínimo de método, escolher corretamente é impossível. Como ter certeza de que a nova máquina não estará obsoleta em menos de um ano? Que tipo de critério adotar? Esperar? Bem, a tecnologia não pára de evoluir, e não deverá parar tão cedo. Quem decidir simplesmente esperar, corre o risco de jamais decidir: sempre haverá um fato novo a pesar na decisão. Então vamos ver se conseguimos por um mínimo de ordem nesse caos, separando o joio do trigo. Usando a pouca lógica que a difícil arte de fazer previsões permite, comecemos por responder à pergunta essencial: dentre as novidades que se avizinham, qual exercerá maior influência em nossa escolha? Eu sei que não há previsão sem risco, mas essa faço sem receio: tanto quanto me é dado perceber, a palavra de ordem em 95 será Plug and Play. Tão importante que já ganhou até um acrônimo: P&P. Dificilmente poderá ser diferente. Pois o P&P livrará para sempre os usuários de um dos maiores tormentos, o sombrio conflito de recursos. P&P fará com que o quebra-cabeças de distribuir interrupções, endereços de memória e canais de DMA entre as diversas placas controladoras fique a cargo de quem está mais apetrechado para resolvê-lo: o computador, maquineta ideal para esse tipo de serviço. Ao usuário caberá não mais que o trabalho braçal de abrir o gabinete e espetar a placa em um slot vago. O resto corre por conta da máquina: ela que se vire e resolva. No que toca a P&P, só vejo um motivo de espanto: o fato de ter tardado tanto para ser implementado. Mas acontece que, como todos sabemos, P&P depende de três fatores: sistema operacional, BIOS e placas controladoras. E, por enquanto, exceto umas poucas placas, nada disso há no mercado. Então temos que esperar? Bem, para quem pretende que sua próxima máquina obedeça ao padrão, não há outro jeito. E vai ter que esperar ainda um bocado, porque o primeiro sistema operacional a incorporá-lo será o Chicago, que não estará no mercado antes de 95 - apesar da MS garantir o lançamento para este ano. O que leva a uma difícil questão: será que quem decidir esperar pelo P&P ficará amarrado ao Chicago? E se o Chicago for um fiasco? A meu ver, não há nem um risco nem outro. Começando pelo fim: pelo que percebi da versão alfa que hospedei por um par de meses, dificilmente o Chicago será um fiasco. Pelo contrário: tem toda a pinta de ser um sistema operacional de primeira linha. E, mesmo que não seja, quem decidir agora pelo P&P não corre o risco de ficar amarrado a ele: tanto quanto me é dado ver, a partir do momento em que se puder encontrar com facilidade BIOS e placas controladoras P&P, o sistema operacional que não aderir ao padrão estará liquidado. Portanto, presumo que a próxima versão do OS/2 será P&P. E, do jeito como vão as coisas, não me espantarei se um dia tropeçar em um DOS P&P. É só esperar para ver. Logo, optar pelo P&P agora não implicará nenhum risco de obsolescência. Mas então devemos esperar? Não necessariamente. Pois o padrão foi desenvolvido de forma tão engenhosa que não somente placas mãe com BIOS P&P aceitarão controladoras não aderentes ao padrão como também as placas controladoras P&P podem perfeitamente ser espetadas nos slots das nossas placas-mãe atuais sem problema algum. Evidentemente, em ambos os casos, a auto-configuração é impossível: você vai ter que ajustar jumpers ou dip-switches nas placas controladoras para configurá-las. Mas, pelo menos, se você comprar agora uma das poucas controladoras P&P disponíveis, poderá usá-la imediatamente em sua máquina e continuar usando quando adquirir sua reluzente placa-mãe P&P. E, então, não precisará jogar fora suas controladoras atuais: elas poderão conviver na nova placa-mãe em perfeita harmonia com as futuras controladoras P&P. Mas se as controladoras P&P podem ser usadas nas placas-mãe atuais e as controladoras atuais nas futuras placas-mãe P&P e não existem ainda nem placas mãe nem sistemas operacionais aderentes ao padrão, como pode o P&P influir em qualquer decisão a ser tomada agora? Ah, você não reparou que está faltando alguma coisa nessa discussão? Pense bem: falamos em placas-mãe e seus BIOS, em placas controladoras e em sistemas operacionais. Faltou falar de que? Elementar, meu caro Watson: faltou falar de barramento, um tópico essencial na escolha das placas controladoras. E o que temos hoje em termos de barramento? Bem, já tivemos aqui mesmo na Trilha Zero toda uma série de colunas sobre o tema. Temos o MCA, um barramento excelente que a própria mãe, a IBM, matou no nascedouro ao decidir patenteá-lo. Esqueça dele. Depois, temos o EISA, criado pelo resto da indústria para enfrentar o MCA, que também não "pegou". Deixe-o de lado. Sobrou o que? Sobraram o bom e velho ISA de dezesseis bits, sobrevivendo bravamente desde os tempos do primeiro AT, e os dois barramentos locais criados para contornar suas limitações: o VESA e o PCI. Muito bem, e o que tem eles tem a ver com o Plug and Play? Muita coisa: P&P é, essencialmente, um padrão para facilitar a instalação de placas controladoras. O resto, BIOS e sistema operacional, entrou meio que como Pilatos no Credo: o padrão os afetou, mas apenas para compatibilizá-los com as novas placas controladoras P&P. E placas controladoras, com exceção das desenvolvidas para os novos slots PCMCIA, são feitas de acordo com o barramento através do qual irão trocar dados com a CPU. E daí? Ora, muito simples: precisa comprar uma nova máquina agora, pretende aderir ao P&P quando ele for lançado e não quer jogar tudo fora quando for o feliz proprietário de um micro P&P? Então fuja do barramento VESA. Porque dificilmente você encontrará alguma placa controladora VESA P&P. E, portanto, dificilmente achará mais tarde placas mãe com BIOS P&P usando o barramento VESA. Pelo andar da carruagem, no começo, haverá um monte de placas-mãe P&P com barramento ISA e PCI. Depois, pouco a pouco, o barramento ISA, com suas conhecidas limitações, tenderá a desaparecer. Vai sobrar PCI e o mais que inventarem para competir com ele. Mas, no momento, PCI é uma boa aposta. E VESA vive o que me parece ser o ocaso de sua carreira. Logo, se quer comprar alguma coisa nova, vá de ISA ou, melhor, de PCI. VESA, hoje, nem pensar. O Plug and Play, quem diria, matou o VESA... B. Piropo |